Por Evaldir Dettenborn – Coordenador da Rádio Comunitária e morador da ERS-405
Esta história é real e aconteceu lá pelos anos de 1950/60, contada pelo meu tio Ari Dettenborn e meu pai Alcino Dettenborn, ambos já falecidos. Nesta época, recém-vindos de Vila Mellos, meu avô Gustavo Jorge Dettenborn e seus filhos estabeleceram-se em Passo do Sobrado, 2º Distrito de Rio Pardo na época. Eles moravam ali, onde hoje mora o Itamar Dettenborn e também onde funciona a Oficina do Gringo.
Meu avô sempre fora um homem do povo, comprava fumo dos nossos agricultores e, junto com muitos outros desta comunidade, à época, como Villibaldo Schwenger, José Emílio Frantz, Jorge Kaufmann e Pompilho Carvalho, entre outros, mantinha a Sociedade Hospitalar Nossa Senhora do Rosário. Ali havia médico, enfermeiras e uma casa para o médico. O hospital realizava cirurgias complexas, partos e atendimentos diversos.
O funcionamento da entidade era mantido através de cobrança dos serviços e também por meio de quermesses realizadas com esta finalidade. Numa época, contrataram meu tio Ari e meu pai Alcino, que numa destas quermesses, junto com outros cavaleiros bons de laço, reuniram-se para buscar as vacas doadas para aquele fim, sendo que muitas delas foram doadas por moradores da Várzea dos Camargo (Maneco Celeste), entre outros tantos.
Nesta doação em especial foram dez vacas, e todas foram trazidas nas sinchas de seus cavalos, um trabalho muito árduo na época. Os animais eram carneados em matadouros da época, um deles do senhor Floriano Machado, que foi vereador por Rio Pardo, pai do Celio e do Élio Carvalho. Outro matadouro era do senhor Jorge Kaufmann, pai do Mindo Kaufmann.
Contaram-me que as quermesses da época eram feitas aqui no salão da comunidade católica, parte antiga. Padre Rauber atuava em nossa comunidade, na época, e todos os valores arrecadados eram direcionados para o hospital. Eram valores substanciais, que permitiam o funcionamento daquela casa de saúde por aproximadamente um ano, sendo que no ano seguinte, tudo se repetia novamente. Contaram meu tio e meu pai, que muitos que trabalharam no hospital, como era o caso do Alcino, que foi enfermeiro, que eles faziam seus trabalhos de forma gratuita, e somente mais tarde houve um quadro de enfermeiras profissionais, como foi por muitos anos.
Um exemplo de dedicação ao hospital Nossa Senhora do Rosário foi a parteira dona Mintia Helfer, que ia muitas vezes fazer os partos nas residências e que deu à luz a mais de mil crianças. No ano em que Passo do Sobrado comemora mais um aniversário de emancipação político-administrativa, devemos reverenciar os nossos antepassados, homens e mulheres de muito respeito e coragem, que por muitas décadas mantiveram o nosso hospital em funcionamento. Hoje mesmo com um município e com um orçamento de R$ 30 milhões, nosso hospital está fechado.
*Matéria integrante do caderno especial do aniversário de Passo do Sobrado, no qual pessoas da comunidade enviaram suas histórias para a Folha do Mate.