A representatividade na economia de Venâncio Aires evidenciou ainda mais a sua protagonista nos últimos seis anos. Desde 2012, a indústria, carro-chefe da economia no município, passou de 54% para 61,14% em 2018. É um crescimento importante em números absolutos.
Quanto à atividade primária e de prestação de serviços, não houve grandes alterações e são 17,61% e 6,61%, respectivamente. Por outro lado, um setor seguiu o caminho contrário e sua ‘fatia no bolo’ caiu 30% nesse período. A atividade comercial registrou uma queda de 21,03% para 14,64%.
Passível de interpretação e levando em conta o que cada um representa proporcionalmente nessa ‘balança’, há quem entenda que talvez a indústria apenas ampliou seu espaço e não que o comércio encolheu. Mas, como essa informação permite outras análises, também são outros os movimentos de sobe e desce do comércio.
Conforme dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Venâncio Aires contabiliza, atualmente, 1.193 estabelecimentos que têm como atividade principal o comércio. Em 2012, eram 1.774 – queda de 32%. O secretário da pasta, Nilson Lehmen, explica que o tempo retrata justamente o período de recessão nacional, com a crise política que também mexeu na economia. “O decréscimo do comércio no período atribuo ao fato de o setor ser o último a se recuperar, já que o giro do comércio é justamente alcançado depois que os setores primário e secundário impulsionarem a geração de renda e negócios.”
No entanto, Lehmen também entende que há relatividade nos dados. “Essa queda corresponde a percentuais da participação no bolo administrativo. Não significa, necessariamente, que o comércio diminuiu, mas que a indústria gerou mais. Então é relativo.”
A referência do secretário é sobre o aumento da representatividade da indústria nos últimos anos, como mencionado acima. Desde 2012, a atividade industrial sempre esteve no alto da balança, seja com mais ou menos peso.
ICMS
Muitos fatores são considerados para determinar o que influencia a economia local. Geração de emprego, renda, compra e venda, por exemplo. Mas o principal é o retorno do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Segundo dados da Secretaria Municipal da Fazenda, em 2018 o ICMS recebido foi de R$ 51,3 milhões, dos quais o comércio contribuiu com R$ 7,5 milhões (14,64%). Em 2012, o retorno foi de R$ 28 milhões e a participação do comércio no índice era de R$ 5,9 milhões (21,03%).
“A participação nominal do comércio aumentou 27%, mas porque o bolo do ICMS aumentou 82%. Daí a importância de termos uma matriz de negócios diversificada. Quando um segmento não vai bem, outro ajuda na manutenção dos índices”, considerou o secretário da Fazenda, Eleno Stertz.
“Não-estabelecido”
Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, chamou atenção, no último ano, o incremento de empresas de comércio não-estabelecido, ou seja, daquelas que podem ser de comércio virtual ou de representantes comerciais, por exemplo. Dos atuais 252, 69 abriram entre 2018 e 2019, o que equivale a 27% do total. “Este dado revela um movimento de retomada do crescimento do comércio e, principalmente, do empreendedorismo local”, afirma Nilson Lehmen.
“Se há recessão não significa que teremos desocupação”, afirma corretora
Ao analisar a queda na representatividade econômica do comércio, a corretora e diretora adjunta do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Rio Grande do Sul (Creci-RS), Kika Moura, diz que se há um indicativo de baixa, ele não tem relação direta com imóveis vazios.
Ela, que atua no ramo há 28 anos, afirma que a desocupação de muitas salas comerciais, principalmente na rua Osvaldo Aranha, não poderia ser apontada como determinante para um fator negativo. “Lojas vazias pode ser mudança, na qual empresários não fecharam, apenas foram para outro local. Além disso, hoje há mais espaços disponíveis porque foram construídos novos prédios comerciais desde 2012.”
No caso da imobiliária na qual Kika trabalha, a LB, foram colocados para locação, em 2018, 156 imóveis. O número vem caindo desde 2015, quando eram 195 pontos desocupados.
CACIVA
1 Para a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Venâncio Aires (Caciva), dois fatores contribuem para a entidade não detectar aspectos negativos. Um deles é o número de associados, que cresce, em média, por ano, de 8% a 10%.
2 Atualmente, são 432 empresas ativas na base, sendo que entre 2012 a 2019 foram 199 novos associados. “O que dá uma média anual de 28 novas empresas. Lembrando que esse é um dado que corresponde às empresas dos três setores e o comércio e serviços representa cerca de 65%”, explica o presidente da Caciva, Vilmar de Oliveira.
3 Outra informação considerada pela entidade é o volume de consultas à base do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) referente às empresas associadas. “Em nenhum momento tivemos, neste período, redução significativa de consultas à base de dados. Mantivemos, nos últimos anos, um pequeno percentual de acréscimo sempre em comparativo ao período anterior.”
Desafios para os empresários
A empresária Solange Sehn, que durante 10 anos manteve a Stock Shop, no centro da cidade, resolveu fechar a loja de Venâncio no fim de 2016. Ela admite que tempos antes sentiu uma queda nas vendas, mas apontou alguns fatores para tal. “Cresceu a procura por outros mercados, as vendas pela internet de grandes empresas e tem o mercado informal, que acaba virando uma concorrência.”
Solange diz que o perfil do consumidor também mudou. “As pessoas mudaram o jeito de gastar. É outro comportamento. Hoje, vejo as pessoas mais interessadas em gastar com viagens e lazer do que simplesmente consumir outros produtos.”
A empresária destacou ainda que, para se manter, é preciso reinventar. “É um desafio para o empresário ou comerciante. Você sempre precisa apostar, investir, empreender e buscar alternativas.” No caso de Solange, ela hoje dispõe de seus produtos (presentes, brinquedos e decorações) em um site, além de manter uma loja em Lajeado, onde as vendas seguem estáveis.
INVESTIMENTO
Adaptar e reinventar também são dois verbos aplicados por Fabiana Kist de Almeida. Ela, que é a proprietária da Tânia Novidades, trabalha no comércio desde os 17 anos, quando era sócia da mãe, que dá nome à loja.
Fabiana chegou a ter três unidades e hoje tem uma. Mas, ela salienta que não fechou duas, apenas as concentrou em um prédio novo e maior, onde está desde 2017. “Começamos com bolsas e hoje oferecemos roupas, calçados e acessórios. Vendo mais a cada ano.”
A empresária entende que, para se manter, é preciso investir e apostar. Também atenta a novos perfis de consumo, Fabiana diz que muitas das vendas ocorrem pela internet, através das redes sociais e do site, que mantém há cerca de cinco anos. “Procuro sempre fazer algo novo, me adaptando e reinventando para atender a demanda.”