
Repercutiu positivamente na comunidade surda de Venâncio Aires a iniciativa anunciada pelo presidente da Câmara de Vereadores, Dudu Luft (PDT), na segunda-feira, 28 de julho, de que, a partir da próxima semana, todas as sessões legislativas contarão com intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras). A medida também vale para as próximas audiências públicas, incluindo a da próxima quarta-feira, 6, sobre o fortalecimento das agroindústrias, e demais atividades da Casa. Os trabalhos serão realizados pela empresa Viver Libras, de Santa Cruz do Sul. Segundo Luft, o serviço terá um custo mensal de cerca de R$ 3 mil.
Para a presidente da Associação dos Surdos de Venâncio Aires (Asva), Francini Lisbôa de Moraes, a conquista é fruto de três anos de luta para assegurar a inclusão de surdos em ambientes essenciais. “A disponibilização desses profissionais é indispensável para garantir a inclusão plena e o exercício dos direitos das pessoas surdas. Essa ação representa um avanço significativo no respeito e reconhecimento dos direitos da comunidade surda e, por isso, gostaria de manifestar meu agradecimento ao vereador pelo seu compromisso com essa causa”, afirma.
A secretária da associação, Natassya Haas, conta que a notícia foi muito bem recebida pelos membros: “Eles ficaram muito felizes, porque era uma grande reivindicação, principalmente na área pública que eles têm acesso, mas não conseguem se comunicar nem receber a informação necessária.”
A professora, que é intérprete de Libras e filha de surdos, explica que o grupo ainda pleiteia outros avanços. “Eles também querem poder ter acesso a médico e bancos, por exemplo. É nesses momentos em que eles precisam mais de auxílio, porque encontram mais dificuldade”, lamenta.
Comped
O presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comped), Alexandro Hertz, parabenizou a Câmara pela iniciativa. “A gente sabe que precisa muito mais. Precisa na área da saúde, na educação, mas já é um avanço. Com certeza, a comunidade surda de Venâncio está muito feliz”, avaliou.
Asva
• A Associação dos Surdos de Venâncio Aires foi fundada há 15 anos e conta atualmente com 63 associados. Os encontros são mensais.
• Segundo a secretária da entidade, Natassya Haas, o grupo realiza projetos dentro e fora de Venâncio Aires.
• Além disso, a entidade conta com departamentos de diferentes segmentos, como de Cultura e Esportes, que organizam diferentes atividades. “É um grupo aberto para todos os visitantes, para quem tiver interesse de frequentar e até aprender Libras”, ressalta.
“Evolução da acessibilidade”, avalia intérprete que atuará nas sessões
Cíntia Melissa Adam e Kezia Kaciane Franco são as profissionais que atuam pela Viver Libras, empresa que venceu o processo de dispensa de licitação da Câmara de Vereadores de Venâncio Aires para contratação do serviço. Cíntia começou a atuar como intérprete há 10 anos e, junto da parceira, fundou a empresa, que tem sede em Santa Cruz do Sul.
Para ela, poder levar os debates do Poder Legislativo para a comunidade surda é uma oportunidade especial. “É um grande passo. As reuniões da Câmara são para conhecimento. E ajuda muito a comunidade surda saber o que está acontecendo na cidade, como eles também podem ajudar, porque são parte de Venâncio Aires”, destacou, em entrevista ao programa Folha 105 – 1ª Edição, da Rádio Terra FM, na sexta-feira, 1º.
As profissionais já possuem uma larga experiência em cobertura de eventos, como na Oktoberfest de Santa Cruz do Sul e na Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim) deste ano. Além disso, as profissionais também já trabalharam nas sessões da Câmara de Santa Cruz do Sul.
Cíntia ressalta que as organizações de eventos na região cada vez mais têm olhado com mais carinho para a inclusão social: “Estão priorizando acessibilidade e inclusão. Estão de parabéns. A gente sabe que não é fácil. Eu digo que a evolução da acessibilidade está cada vez maior e tende a melhorar.”
Legislativo
Um dos principais desafios da dupla de intérpretes durante as sessões será transmitir, de forma ética e direta, o que e como está sendo debatido entre os vereadores. “A gente sempre pondera e leva em consideração o entendimento da comunidade surda. Não adianta cada palavra ser um sinal sem ter um contexto próprio que a comunidade surda entenda. Porque, assim como nós, ouvintes, eles nem sempre têm os mesmos conhecimentos”, explicou Cíntia.
Além disso, também caberá às intérpretes transmitirem corretamente as emoções demonstradas no debate. “A gente estava numa reunião com o pessoal da Câmara e brincava. Eu falei: ‘Gente, se vocês estão bravos, a gente fica brava. Se vocês estão felizes, a gente está feliz, assim que funciona”, contou, divertida.