Foi finalizada em maio a obra de engenharia natural para recuperação das margens do Arroio Castelhano, em um trecho no bairro Santa Tecla, em Venâncio Aires. A iniciativa de conservação do solo e da água ocorre por meio do projeto Muda, realizado pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em parceria com a CTA Continental. O trecho foi um dos 33 pontos identificados no diagnóstico de toda a bacia hidrográfica do arroio que abastece Venâncio Aires – desde a nascente, em Linha Datas, até a foz, no rio Taquari, em Vila Mariante – ao longo de 107 quilômetros.
Após a limpeza do canal, com remoção de entulhos – incluindo tijolos, pneus e solo acumulados no arroio, que provocavam alteração do fluxo da água e a erosão –, foram removidas plantas exóticas e gramíneas inadequadas para o local. Em seguida, o foco do trabalho foi tornar o talude menos íngreme, a fim de garantir a estabilidade e impedir que ele desbarranque, com uma inclinação adequada para amortizar o efeito de uma enchente, por exemplo. Para isso, utilizou-se a técnica de enrocamento, com uso de rochas de diferentes formatos e tamanhos.

A coordenadora do projeto Muda, professora Priscila Pacheco Mariani, explica que a etapa seguinte foi o plantio de 2.653 mudas de mais de 20 espécies nativas, adequadas ao local. A área foi cercada para possibilitar a recuperação da mata ciliar.
“Em propriedades que possuem animais de grande porte, como o gado, essa medida é essencial para evitar o acesso dos animais à área em regeneração. A presença desses animais pode comprometer o crescimento das mudas, causar compactação do solo e dificultar a recomposição da vegetação nativa. O cercamento, portanto, garante melhores condições para a recuperação ambiental e a proteção dos recursos hídricos”, explica a professora e pesquisadora, que é doutora em Recursos Hídricos.
A partir de agora, vistorias serão realizadas a cada quatro meses. “Serão observados o comportamento das mudas (sobrevivência, crescimento e interação), o comportamento e integridade das estruturas inertes, a ação de eventuais insetos daninhos sobre as mudas (formigas-cortadeiras, por exemplo) ou mesmo ação de terceiros, que impeçam o seu bom estabelecimento e desenvolvimento”, explica Priscila. Mudas que, por ventura, morrerem, serão substituídas. A expectativa é de que, em dois anos, a recuperação da margem esteja consolidada, mas o acompanhamento segue por quatro anos.
Biodiversidade, conservação do solo e qualidade da água
O proprietário da área onde foi realizado o trabalho, Elstor Uhlmann, comemora o resultado. Ele destaca que, desde o início, percebeu que se tratava de um projeto “com fundamento”, que vai possibilitar a recuperação do arroio a longo prazo. Ele observa, inclusive, que as últimas cheias do o arroio não impactaram na estrutura. Uhlmann também destaca a importância da iniciativa pela preservação ambiental, com o objetivo de pensar nas gerações futuras. “Se não fizermos nada hoje, como vamos deixar o mundo para nossos filhos e netos? O meio ambiente tem solução, basta querer e fazer”, considera.
Ao encontro disso, a professora Priscila destaca os reflexos positivos gerados a partir da obra. “Vai gerar um processo de biodiversidade, contribuir com a conservação do solo, infiltração da água e qualidade. Vai trazer benefícios para o produtor, mas também para quem consome a água, para a comunidade como um todo”, resume.
O gerente de Sustentabilidade Agrícola da CTA, Edson Menezes, define a obra como um marco histórico, social e ambiental. “Da forma que foi feita a obra, com toda a expertise e o conhecimento técnico da Unisc, com transparência e credibilidade, deixamos um legado para as futuras gerações. Desejamos que mais empresas e parceiros se somem a este projeto”, ressalta.
“A CTA foi pioneira nesse processo de recuperação do Arroio Castelhano, dando o pontapé inicial e abrindo portas para futuras parcerias. Acreditamos que, a partir desse exemplo, outras instituições e empresas possam se engajar e fortalecer essa iniciativa, contribuindo para a ampliação dos resultados positivos já alcançados.”
PRISCILA PACHECO MARIANI – Coordenadora do projeto Muda
Iniciada em 2023, a parceria da Unisc com CTA viabilizou o início do projeto Muda de recuperação do Arroio Castelhano. Além de custear o diagnóstico de toda a bacia do Castelhano, com o estudo e a identificação dos pontos que necessitam de intervenção, a empresa financiou o trabalho nesse primeiro local.
De acordo com Priscila, são previstas ações em outros trechos, mas que dependem de novos parceiros. “Acreditamos que, a partir desse exemplo da CTA, outras instituições e empresas possam se engajar e fortalecer essa iniciativa.”