Há pouco mais de um mês, a Alliance One International anunciou a mudança do nome global da companhia para Pyxus. Diferente de incorporações que ocorreram ao longo das últimas décadas até chegar ao nome Alliance One, a mudança confirmada mundialmente no dia 12 de setembro representa mais do que uma alteração de nome ou fusão de empresas, mas um novo posicionamento. Pyxus abre uma era de diversificação dos negócios com o fornecimento de novas culturas agrícolas.
A produção que era focada no tabaco, ganha, agora, novos mercados a partir da integração de novas empresas. O que não muda é a relação da Alliance One com a produção do tabaco em folha, cultura agrícola que segue fazendo parte do portfólio de negócios, inclusive, Alliance One segue como nome da divisão de tabaco, um dos braços da Pyxus.
Em entrevista à Folha do Mate, o presidente da Alliance One International, Alexandre Strohschoen, fala sobre a necessidade de se adaptar a um cenário de constantes mudanças e como segue a relação da empresa com os seus 19 mil produtores integrados nos três estados do Sul e os três mil funcionários da indústria que atuam por safra, em todas as unidades.
É em Venâncio Aires que está instalada a unidade de compra e processamento e também o Centro Administrativo e Parque Logístico. No município, que é um dos maiores produtores de tabaco em folha do Brasil e do mundo, a Alliance é a empresa que mais contribui com Valor Adicionado Fiscal (VAF), principal componente para formação do índice de retorno de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aos municípios. No último ranking oficial, de 2016, a empresa representava 16,94% do VAF do município.
“O agricultor integrado à empresa continuará contando com todo o suporte e assistência técnica qualificada da equipe de Produção durante as safras.”ALEXANDRE STROHSCHOEN – Presidente da Alliance One International
Folha do Mate – O que levou a essa mudança e à necessidade de se reinventar no mercado internacional?
Alexandre Strohschoen – Nosso negócio evoluiu ao longo dos anos e vimos que precisávamos definir como navegar em um ambiente de negócios em constante mudança. Desde o ano passado viemos trabalhando nesse processo internamente, com nossas equipes, visando um crescimento colaborativo.Foram realizados encontros com vários de nossos especialistas ao redor do mundo. […] Nesta jornada compreendemos, claramente, quem somos, o que nós fazemos e para onde vamos, o que se traduz em nossa nova Visão, Propósito e Como iremos nos posicionar daqui para a frente. Denominamos nosso caminho daqui para frente de “One Tomorrow.
Em agosto de 2018, houve a aprovação, através dos investidores, da mudança do nome global da companhia e, em setembro, a oficialização. Sendo uma holding, a Pyxus vai gerenciar serviços de suas subsidiárias, entre elas a Alliance One International, que continua representando os negócios com tabaco da companhia em todo o mundo. Também evoluímos em nossa missão, visão e valores, respeitando a história da empresa, mas vislumbrando um futuro de transformação.
Na Pyxus, as tabacaleiras seguem com o nome Alliance One, que é a origem do negócio? Como fica a relação com o produtor de tabaco?
O nome, a marca e as instalações da Alliance One, já consolidados no mercado mundial de tabaco, se mantêm, representando a divisão deste setor na Pyxus em todo o mundo. Isso quer dizer que, na prática, nada muda para os produtores de tabaco e para os trabalhadores da indústria.
O agricultor integrado à empresa continuará contando com todo o suporte e assistência técnica qualificada da equipe de Produção durante as safras, desde o registro, escolha da cultivar mais adequada à sua região, passando pelas visitas às propriedades e chegando à comercialização do produto em nossas unidades. Também continuaremos gerando emprego, renda e divisas às comunidades onde estamos inseridos, mantendo nossa referência em inovação, competitividade, vanguarda tecnológica e responsabilidade social, com foco no desenvolvimento sustentável.
Como a Pyxus passa a ser classificada internacionalmente, considerando que, enquanto Alliance, era um negócio de tabaco, somente?
Queremos, juntos, construir um mundo melhor, e essa nova estrutura permitirá focar nossos recursos para apoiar linhas de negócios diversificadas, capitalizando nossos pontos fortes como fornecedor confiável de produtos agrícolas e ingredientes certificados, sustentáveis e com rastreabilidade para empresas e consumidores.
A Alliance One terá algum envolvimento com as demais culturas? Projeta-se, no futuro, que os produtores integrados possam plantar outras culturas?
Através de nossa cadeia de suprimentos certificados e com rastreabilidade, conjecturamos um futuro ainda mais promissor em todas as linhas de negócio da empresa, incluindo o tabaco.
Na Pyxus temos uma divisão de produtos agrícolas de valor agregado. O trabalho, liderado por Jose Maria Costa, se concentrará na expansão de culturas não relacionadas ao tabaco, junto aos atuais produtores e também aos potenciais novos produtores, no sentido de desenvolver processos e apoiar, ainda mais, o desenvolvimento de mercados para essas culturas e a diversificação dos rendimentos dos agricultores.
Com novas culturas no negócio, há tendência de reduzir a quantidade de tabaco a ser contratado?
Com o posicionamento global, vamos aprimorar, ainda mais, a garantia de fornecimento de um produto sustentável, de qualidade e com rastreabilidade, para nossos clientes globais. Comercialmente, o tabaco brasileiro é muito valorizado, mas precisa manter seu custo de produção. Se o preço aumenta muito, a demanda de mercado acaba migrando para outras regiões produtoras.
O produtor também precisa atuar integrado em relação às questões sociais e ambientais, ampliar sua visão de negócio e, principalmente, diversificar suas fontes de renda. Vamos ter mudanças de características de tabaco para atender alguns produtos finais específicos e novos mercados. Isso é muito dinâmico. É importante que o produtor esteja atento às orientações das equipes técnicas. Ao olhar globalmente para o mercado e de acordo com a assistência especializada da empresa, o produtor poderá adequar sua produção.
As indústrias, no Brasil, sofrerão alguma alteração, ampliação ou redução de estrutura?
Permaneceremos atuando com a mesma estrutura. No Rio Grande do Sul, a empresa possui uma unidade de compra e processamento de tabaco em Venâncio Aires, além de seu Centro Administrativo e Parque Logístico. Também mantém um Centro de Treinamento, Pesquisa e Desenvolvimento, em Passo do Sobrado. Já a outra unidade de compra e processamento fica no município catarinense de Araranguá.
Em Santa Catarina, também possui unidades de compra de tabaco e faturamento de insumos nos municípios de Lontras, Canoinhas e Pinhalzinho; e no Paraná, na cidade de Rio Azul.
Qual é a participação do Brasil na produção de tabaco, em comparação a outros países onde a empresa compra tabaco?
A Alliance One Brasil é uma das principais operações da Alliance One no mundo.
One Tomorrow: Como podemos projetar o futuro do tabaco e o que o produtor pode esperar para daqui alguns anos?
Através de nossa cadeia de suprimentos certificados e com rastreabilidade, conjecturamos um futuro ainda mais promissor em todas as linhas de negócio da empresa, incluindo o tabaco. Foi necessário mudar a atitude e capacitar as pessoas para que hoje possamos colher os benefícios da sustentabilidade. Isso não significa deixar a lucratividade de lado, pelo contrário. A cultura do tabaco deve gerar receitas comerciais, mas também tem o compromisso de preservar o meio ambiente e garantir os direitos das pessoas.
O que estamos vendo é que há uma necessidade de mudança, também, para reforçar o Sistema Integrado de Produção e o compromisso entre as partes, solidificando essa relação. A Alliance One é uma empresa que tem histórico global, está consolidada no mercado, com assistência técnica diferenciada, grande base de produtores e compromisso com a produção contratada. Essa estabilidade também é importante para que o produtor possa continuar confiando na empresa.
Cannabis, um dos produtos da Pyxus
Uma das grandes apostas da Pyxus nesta mudança é a cannabis legal. Inicialmente a planta será produzida no Canadá, onde o plantio é legalizado.
A expansão do negócio nesta área depende de regulações em outros países. No Brasil, por exemplo, é proibido plantar e consumir maconha de forma recreativa.
No momento, a representação da Pyxus no Brasil se dá apenas através da Alliance One, mas segundo Alexandre Strohschoen “como uma holding global, no entanto, a companhia está atenta às oportunidades de mercado em países com potencialidades em segmentos agrícolas legais.”
N site, www.pyxusintl.com, a empresa fala dos seus 145 anos experiência para criar “soluções agrícolas que transformarão o mundo para a próxima geração.” Além do tabaco e cannabis, a Pyxus também atua com cânhamo industrial e e-liquid.