A Magnólia do Acesso Leopoldina: um marco para o ambientalismo e a história venâncio-airense

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No último mês de julho, completaram-se 10 anos do tombamento de uma árvore centenária, localizada próxima do Parque do Chimarrão. Desde 2012, a Magnólia do Acesso Leopoldina (em cuja sombra está a origem da escola Alfredo Scherer) é patrimônio histórico de Venâncio Aires e, por decreto, não pode ser cortada.

Embora o tombamento ainda seja algo recente na história da cidade, o caminho para tal começou há muito anos. Foi em 1995, quando a Kopp anunciou a construção de uma nova empresa (hoje os prédios estão alugados como depósito de tabaco) e precisava cortar 275 árvores, entre elas a Magnólia. “Eu estava fazendo a medição dessas árvores, quando coloquei os olhos na Magnólia e me chamou a atenção. Nesse meio tempo, a informação de que ela poderia ser cortada mobilizou muitas pessoas e começou um movimento para que ela fosse preservada”, lembra Maria Luiza Santos, 69 anos, que, no fim da década de 1990, trabalhou como engenheira florestal na Prefeitura.

A partir dali, Maria Luiza reuniu material técnico, incluindo a identificação botânica da Magnólia, feita pela Unisinos, e informações históricas levantadas pela professora Noemy Machado (veja abaixo) para encaminhar aos órgãos públicos, visando a preservação. “Pela lei, a cada árvore cortada, 15 devem ser plantadas. Mas como tinha esse apelo histórico também, a Kopp concordou em manter a Magnólia, por isso se propôs a preservação”, conta a engenheira florestal.

Ambientalismo

Um dos movimentos mais fortes em defesa da Magnólia foi liderado pela Arco-Íris Associação Ecológica. O sociólogo Iuri Azeredo, 57 anos, integrava o grupo de ambientalistas na época e classifica a conquista da preservação como um dos “marcos do ambientalismo venâncio-airense”. “Mesmo que seja algo muito mais simbólico, porque se trata de uma única árvore e temos problemas envolvendo desmatamentos maiores, é uma marco para Venâncio e região. Pelo ato concreto de uma árvore ser preservada, por seu valor ambiental, paisagístico e histórico”. Ainda conforme Azeredo, a garantia da preservação foi resultado da mobilização comunitária. “Se chamou atenção para a questão ecológica levando a responsabilidade também para órgãos e autoridades.”

Decreto n° 5.124

Embora houvesse a garantia de que a empresa não cortaria a Magnólia, a ‘segurança’ oficial e que a tornava imune ao corte só veio em 2012. Foi em 17 de julho daquele ano, que o então prefeito Airton Artus assinou o decreto n° 5.124, que oficializou o tombamento como patrimônio histórico e cultural. “A lei proíbe a derrubada de árvores nativas e como a Magnólia é exótica, apenas por decreto ela seria preservada”, explica o engenheiro agrônomo Fernando Heissler, que, em 2012, era secretário de Agricultura no governo Airton, e também atuou, em outros períodos, como responsável pela pasta do Meio Ambiente.

Uma escola à sombra da árvore

Muito do que se sabe sobre a história da Magnólia se deve à professora Noemy Costa Machado (que faleceu em 2014, aos 86 anos). No início da década de 1990, ela fez o levantamento histórico da comunidade de Linha Herval Mirim, nas proximidades do Parque do Chimarrão.

Noemy apurou que, por volta de 1870, Ismael Marques da Costa (que anos depois seria intendente municipal), plantou algumas mudas naquela região, trazidas de Portugal. Já pelos anos de 1880, quando os galhos já estavam maiores, a esposa de Costa, Maria Philomena, aproveitou a sombra para alfabetizar os filhos (teria 12 ao todo) e crianças vizinhas.

Atividades costumam ser feitas com alunos da Alfredo Scherer no entorno da Magnólia (Foto: Divulgação)

Em 1916, foi criada a primeira escola pública em Linha Herval Mirim, onde Maria Philomena foi alfabetizadora, assim como as filhas, Hermínia e Primorosa, que também estiveram à frente da escola. Em 1975, foi construído um novo prédio (atual sede da Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires – Cooprova) e, desde 1992, o educandário leva o nome de Alfredo Scherer, em homenagem ao prefeito eleito em quatro mandatos.

Já em 2009, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Alfredo Scherer passou a funcionar no Loteamento Eisermann e tem mais de 230 alunos atualmente. Maria Philomena, a mulher que alfabetizava crianças sob a sombra da Magnólia, foi homenageada na escola e dá nome ao “Espaço de Leitura Maria Philomena.”



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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