Amanda, Adrielle, Sara e Régis: gerações dedicadas ao Carnaval de Venâncio Aires
(Foto: Leonardo Pereira)
Amanda, Adrielle, Sara e Régis: gerações dedicadas ao Carnaval de Venâncio Aires (Foto: Leonardo Pereira)

Princesa da corte municipal de 2025, Adrielle da Silva Mattie é de família carnavalesca e sempre teve o samba no ‘sangue’

Na era dos reis e rainhas, as coroas eram transmitidas pela sucessão familiar. Ou seja, o ‘sangue’ definia o próximo comandante do reino. Atualmente, monarquias (comando de reis ou rainhas e imperadores ou imperadoras) já não fazem mais parte da realidade brasileira e as coroas passaram a ter outros significados. Agora, as grandes festas do país contam com soberanas e cortes, que têm a função de divulgar os eventos.

Considerando este novo cenário, a coroa é muito mais ilustrativa e cheia de significados. No entanto, para a princesa do Carnaval Municipal de Venâncio Aires em 2025, Adrielle da Silva Mattie, de 20 anos, é possível afirmar que a realeza vem de berço, pois a mãe, Amanda, também integrou uma corte da festa da folia de momo, há exatos 21 anos. Sim, Adrielle estava naquela corte também, na barriga da mãe.

Família dedicada ao Carnaval

“Dá trabalho, mas é amor e união das pessoas”. A frase é da sorridente e falante Jussara Silva, de 60 anos, avó de Adrielle, sobre o Carnaval. Agente comunitária de Saúde, ela relembra que iniciou a trajetória na folia de Venâncio Aires na década de 1980 – lá vão 45 anos. “Adivinha quem é essa jovem aqui?”, pergunta, ao mostrar uma fotografia dela, de fantasia, em 1981, em um de seus primeiros desfiles.

Na década de 90, os avós de Adrielle, Régis e Sara, com as filhas Aline e Amanda no Carnaval (Foto: Arquivo Pessoal)

Ao lado do marido Régis, Sara, como é conhecida, passou décadas no chão da escola Acadêmicos do Samba Négo. Porém, o casal não caiu de paraquedas no samba da Capital Nacional do Chimarrão, pois a família de Régis, em especial, já tinha fortes ligações com o Négo. Os pais dele, Odilo e Maria Antônia (ambos já falecidos) integraram a diretoria da escola nos anos 60 e 70, sendo que Maria Antônia desfilou na ala das baianas até os últimos anos de vida. Na última participação, foi de cadeira de rodas, em um carro alegórico. Além disso, os oito irmãos de Sara também fizeram parte dos desfiles de Carnaval durante anos em Venâncio Aires. “Sem dúvida, somos uma família de carnavalescos”, diz.

Organização

Sara afirma que organizar um desfile na Rua Grande envolve muitas pessoas e trabalho. A ‘função’ vai desde preparar instrumentos até procurar estilistas para desenhar as fantasias e compositores do samba-enredo. “São pessoas que trabalham pelo gosto, pela ‘camisa’”, comenta. Por anos, os desfiles contavam com ala das baianas e das crianças, além da maior participação popular, tanto desfilando quanto acompanhando.

Ela se afastou do Carnaval há alguns anos, por alguns problemas de saúde que a impediram de seguir na organização e nos desfiles. “Agora, é só na retaguarda”, completa. Durante anos, Régis, Sara e as filhas Aline e Amanda participaram do Carnaval, domingueiras, futebol, bailes e desfiles organizados pelo Négo. “O Carnaval ainda era competitivo e a escola tinha equipes esportivas e clubes sociais”, recorda o metalúrgico aposentado.

Gravidez surpresa

Em 2004, quando sambava na passarela e aguardava o resultado, Amanda, à época com 16 anos, não fazia ideia de que carregava um bebê na barriga. Grávida de aproximadamente três meses, ela participou do concurso normalmente – até porque, naquele ano, gravidez e filhos ainda eram limitadores para estar na corte. “Descobri depois”, relembra.

Representando a Acadêmicos do Samba Négo, a professora de Educação Infantil, agora com 37 anos, se tornou princesa da corte do Carnaval Municipal em 2004, na primeira participação no concurso. Contudo, a relação dela com a festa da folia vem desde criança.

O samba sempre fez parte da rotina familiar e desfilar na Rua Grande é comum para Amanda desde os primeiros anos de vida. “Na época, o Carnaval levava muita gente pra rua. É a maior festa popular, é alegria e diversidade”, acrescenta. A professora foi uma das primeiras da família a ter ligação com outras escolas, neste caso, com a Fiel Tribo.

Adrielle foi acolhida na Freese

Adrielle ‘quebrou’ uma tradição familiar e concorreu à corte do Carnaval Municipal pela Unidos da Vila Freese, escola pela qual foi acolhida após se afastar da Acadêmicos do Samba Négo. Foi a primeira participação da jovem, que é estudante de Técnico em Enfermagem pelo Colégio Erico Verissimo, em Venâncio Aires. “Mas o Carnaval sempre fez parte da minha rotina. Todas as festas de família têm samba e sempre desfilei com a minha mãe”, destaca.

Mãe e filha: Amanda foi princesa do Carnaval Municipal em 2004 e Adrielle é princesa neste ano (Foto: Leonardo Pereira)

Ela está há quatro anos na escola e recebeu o convite no ano passado para concorrer à corte municipal. A mãe, inicialmente, não concordou com a ideia, mas, aos poucos, apoiou a filha e começou a ajudar nos ensaios. “Nosso objetivo é chamar o pessoal para a rua, para participar da festa que, com certeza, vai ser especial. Promovendo diversidade e apoio à autoestima”, argumenta Adri, como é carinhosamente chamada.

“Carnaval também é momento para elevar a autoestima e mostrar a diversidade. É uma festa popular, para todos.”

ADRIELLE DA SILVA MATTIE

Princesa do Carnaval Municipal 2025

Reinados da família de Adrielle

• A avó Jussara foi Mulata Café na Escola Acadêmicos do Samba Négo. A mãe Amanda também foi Mulata Café do Négo e princesa do Carnaval Municipal em 2004.

• Há alguns anos, Adrielle foi Simpatia Menina Flor em 2017 e é princesa do Carnaval Municipal em 2025.