Biblioteca de Linha Andréas: convite para conhecer uma relíquia centenária

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Não é preciso ser um frequentador de bibliotecas, um leitor assíduo ou um apaixonado por história para entender, ao conhecer pessoalmente, a importância de um lugar em Linha Andréas, no interior de Venâncio Aires. Quem vê e toca os livros centenários da biblioteca que fica numa sala junto à sede da Associação de Leitura e Canto Jovialidade, compreende que eles carregam não apenas a raridade de publicações que nem na Europa existem mais, mas também a história de diversos imigrantes que, quando cruzaram o oceano, levaram na bagagem o amor pelos livros.

Com um acervo de aproximadamente 4 mil volumes, todos as obras são catalogadas e a maioria está em alemão gótico, entre romances e contos. Alguns itens têm mais de 130 anos, muitos da última década do século XIX, período da fundação da então ‘Der Gesang Verein Frohsinn – Ober Sampaio’, a Sociedade de Canto Jovialidade – Alto Sampaio, em 3 de janeiro de 1892. Sobre o nome, sim, a sociedade começou formalmente como de ‘canto’ e a ‘leitura’ foi incluída em 1904. Mas, conforme a responsável pela biblioteca, Iolandi Schmidt, ela já existia nos anos 1800. “Meus avós contavam que era itinerante”, conta a professora aposentada.

No início do século XX, ainda sem um local específico, integrantes da sociedade se reuniam para cantar e ler. “Meu pai, Balduíno Schmidt (1909-1977), lia muito. Arrisco que deve ter lido quase todos livros na época na biblioteca”, destaca Edison Carlos Schmidt, 92 anos, pai de Iolandi.

Obras que sobreviveram à 2ª Guerra Mundial

Como é de conhecimento geral, falar alemão no Brasil, durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), estava proibido. Com isso, os livros da biblioteca de Linha Andréas se tornaram alvo. Iolandi Schmidt conta que os itens foram recolhidos pelo Poder Judiciário e guardados em um porão. Isso foi em 1941, ano em que muitas regiões foram atingidas por uma das maiores enchentes do estado. “Centenas de livros ficaram submersos, mas depois retornaram para a localidade. Coube àqueles que tinham jeito com trabalhos manuais fazer o restauro”, explica, se referindo aos inúmeros volumes com capa vermelha, material usado para envolver os livros danificados pela água.

“A biblioteca é parte da história do amor que nossos antepassados tinham pela cultura, por trazer livros na bagagem. Por isso, nós, com tanto carinho, preservamos esse legado que eles nos deixaram. São verdadeiras riquezas que temos aqui.”

IOLANDI SCHMIDT – Professora aposentada e responsável pela biblioteca

Visitação

A biblioteca recebe, geralmente, estudantes de escolas de Venâncio, universitários, pesquisadores, escritores e historiadores. Também já recebeu visitantes de outros países, uma que até rendeu um comentário importante. Iolandi revela que, a sogra da filha dela, que é alemã, se surpreendeu com o acervo. “Ela disse que temos uma verdadeira relíquia, com livros que nem na Europa têm mais.”

Para quem quiser conhecer o acervo, a biblioteca estará aberta para visitação durante a 44ª Festa do Colono, neste fim de semana. Mas, além disso, é possível agendar visitas em outros dias. Para informações e agendamentos, o contato é pelo 51 3793-3208 e WhatsApp 51 99932-4743, com Iolandi Schmidt. Devido à raridade dos volumes e importância histórica, eles não são emprestados, mas é possível realizar pesquisas no local.

Telhado e assoalho da sede são reformados

A biblioteca centenária fica junto à sede da Associação de Leitura e Canto Jovialidade, estrutura que tem 90 anos e nas últimas semanas passou por uma repaginada. Houve troca do telhado e do assoalho. Também teve reformas diversas e pintura. Para viabilizar as melhorias, a associação contou com R$ 200 mil, repassados pela Prefeitura de Venâncio, após indicação de uma emenda do deputado federal Marcelo Moraes (PL). Nesse caso, a atividade da biblioteca e o fator cultural foram importantes para que o recurso viesse.

Segundo o presidente da associação, Márcio Henckes, além de pedreiros e pintores contratados para as obras, dezenas de sócios trabalharam voluntariamente. “Muito gente vem se dedicando para que a associação e a sede continuem por muito tempo.”

Entre as reformas na sede da associação, houve a troca do assoalho (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Atualmente, a entidade tem cerca de 200 associados, entre moradores de Venâncio Aires, Santa Clara do Sul, Sério, Boqueirão do Leão e Lajeado. São vários grupos que integram a associação, como a Sociedade de Damas Tulipa, Grupo do Lar Sol Nascente, Grêmio Esportivo Avante, grupos de bocha e carta, e as turmas de carnaval infantil (Os Malandrinhos) e adulto (Mestres do Ritmo). O coral também segue ativo e são 22 integrantes, desde adolescentes até idosos. Entre as principais ações promovidas no salão, estão os bailes de Carnaval; a Festa Intercomunitária, em parceria com as comunidades católica e evangélica, em março; a Festa do Associado, em maio; o Baile de Kerb, em novembro; além de incluir o rodízio da Festa do Colono, sendo a anfitriã de 2023.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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