
Venâncio Aires - Linha Isabel, no interior de Venâncio Aires, serviu de cenário para uma produção audiovisual internacional. Nesta semana, uma equipe alemã esteve na localidade para captar imagens que irão compor um documentário.
O grupo de profissionais é liderado pelo cineasta Benjamin Wagener, que está produzindo o filme ‘Dehäm – Pälzer in de Pampa’. Em livre tradução, seria algo como ‘Em casa – Palatinado no Pampa’, que mostra a busca de dois personagens por vestígios da língua e da cultura alemã no Brasil atual. “Como estamos seguindo as pistas de onde é falado alemão e de onde há vestígios da presença germânica, nossos passos nos levaram até Venâncio Aires, sobretudo pela orientação de Rafael Gessinger, que está nos auxiliando junto com outros parceiros, como Olavo Fröhlich e Betinho Klein”, explicou Wagener, fazendo referência ao advogado e professor Rafael Gessinger, coordenador estadual do Bicentenário da Imigração Alemão no Rio Grande do Sul. Foi Gessinger, aliás, quem intermediou e traduziu a entrevista de Folha do Mate e Terra FM com o cineasta.
Em Linha Isabel, as filmagens ocorreram na segunda-feira, 6, dentro do antigo Salão Siebeneichler, onde interagiram com moradores jogando ‘pife’, tradicional jogo de cartas. O objetivo é voltar à localidade para filmar algo da lida rural, como o uso de carro de boi. Além do interior de Venâncio, a equipe passou por Monte Alverne, em Santa Cruz do Sul, Porto Alegre e Dois Irmãos, e ainda filmará em Arroio do Meio. A previsão de lançamento do documentário é para o segundo semestre de 2027.

Familiaridade
Perguntado sobre curiosidades e familiaridades que encontrou no interior de Venâncio para com a vida na Alemanha, Benjamin Wagener disse que o principal aspecto de semelhança encontrado foi a língua. “Não temos problema de comunicação, ela flui bem e naturalmente. É claro que às vezes o pessoal fala alguma palavra em português ou misturada, que aí a gente não compreende muito bem, mas o contexto nos ajuda e essa dificuldade é rapidamente superada.”
O cineasta também mencionou o tratamento recebido pelas pessoas com as quais interagiram e contribuíram para as filmagens. “O que foi especialmente legal, mas isso devo dizer que tenho visto em todas as regiões, é a hospitalidade. Todos são amáveis e sempre dispostos a ajudar. Todos são tão abertos e nos dizem que estão felizes que nós estamos aqui. E aqui eu diria que existe uma semelhança muito grande com a nossa região do Palatinado (Pfalz): nós somos abertos, sorrimos bastante, o que nem sempre caracteriza todas as regiões da Alemanha. Tem regiões na Alemanha em que isso é bem diferente. Mas no Pfalz e aqui no Rio Grande do Sul, vejo esse paralelo positivo.”
A visão na Alemanha
Benjamin Wagener também foi perguntado sobre como os alemães enxergam esse ‘pedaço’ da cultura e tradição germânica no sul do Brasil. “A maioria das pessoas na Alemanha não faz ideia de que no sul do Brasil tem tanta tradição alemã e que a língua e os costumes ainda vivem. O que muitos lembram e associam ao sul do Brasil e à América do Sul, em geral, é que depois da Segunda Guerra Mundial [1939-1945] muitos vieram para cá, entre os quais alguns nazistas. Mas isso não tem a ver com o que estamos vendo aqui, que é uma tradição preservada que remonta a 200 anos de imigração.”
“Precisamos respaldar e fortalecer iniciativas”
O advogado e professor Rafael Gessinger, coordenador estadual do Bicentenário da Imigração Alemã no Rio Grande do Sul, acompanha o trabalha da equipe alemã. Para ele, é muito importante a presença de um cineasta como o Benjamin Wagener no sul do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul. “Estou convencido de que caminhamos para uma mudança de patamar nas relações com os países de língua alemã, sobretudo com a Alemanha. O filme dele vai ajudar nos projetar na Alemanha e no mundo.”
Ainda conforme Gessinger, é preciso aproveitar melhor as oportunidades e chances que estão à frente. Ele cita, por exemplo, oportunidades quanto à formação profissional, ao intercâmbio acadêmico, ao desenvolvimento e parcerias empresariais, à troca de experiências em exportações, inovação e outras dimensões. “Precisamos respaldar e fortalecer as iniciativas que têm essa visão lúcida e arrojada de aproximação com a Europa de língua alemã. A Alemanha é uma parceira estratégica e confiável. E Venâncio Aires, os municípios da região e todo o Rio Grande do Sul, não devem ficar esperando que venha algo pronto de Brasília para avançarmos e nos beneficiarmos das relações com cidades e entidades alemãs.”