Dos pratos da avó às churrasqueadas, a receita de um cozinheiro

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Dona Eva era cozinheira de mão cheia. Na casa onde vivia na cidade de Bagé, dava um show na cozinha de casa e na campeira, no lado de fora da residência da família. Era no local que preparava as melhores receitas, sem nunca esquecer aquele toque especial de carinho e dedicação em tudo o que fazia.

Pronto para experimentar as delícias estava o neto, que, com um olhar atento, acompanhava cada passo da avó. Nunca pedia para colocar a mão na massa, mas aprendia a amar a cozinha diariamente. O neto, Luciano Brito Araujo, 36 anos, levou os ensinamentos da avó para os dias atuais e está em constante aprendizado e evolução na área gastronômica. Hoje, alimenta a coluna de gastronomia da Folha do Mate, que completa um ano. Com a participação em eventos por todo o Brasil, se especializa na área das carnes.

Atualmente, as descobertas são outras, as técnicas são diferenciadas, mas em cada prato, uma lembrança das delícias de Dona Eva, avó materna. “Tem comidas que faço que sinto o cheiro dos pratos da minha avó”, recorda. A avó paterna, Orientina, também se destacava na cozinha. Ela era uruguaia e uma doceira de mão cheia.

Dona Eva fazia tudo em casa. Os bolos dos aniversários, doces e pães que consumiam diariamente tinham os toques especiais dela. Luciano e a mãe foram morar na casa da avó após o precoce falecimento do pai dele. Quando o então menino foi estudar, a avó fazia rapaduras para que ele pudesse vender e comprar os livros necessários na formação.

QUALIFICAÇÃO

A trajetória profissional no ramo gastronômico é recente, mas os ensinamentos vêm ainda da adolescência. Aos 12 anos, começou a trabalhar como garçom em um restaurante que atendia viajantes em Bagé. No local, eram feitos os mais diversos pratos típicos da culinária gaúcha, entre eles o feijão mexido, ovelha e mocotó. Luciano acompanhava tudo de perto e trabalhou no restaurante até os 16 anos.

Ele se distanciou um pouco da cozinha quando foi morar em Porto Alegre para estudar. A rotina na capital dos gaúchos era conturbada. Estudava, trabalhava com criação de arte em um escritório e dava aulas para regressos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase). “Foi um período muito cansativo, pois trabalhava com reintegração dos jovens à sociedade, mas ao mesmo tempo de imensa gratidão”, conta.

Em 2013, a esposa de Luciano, Diane, conseguiu uma oportunidade de emprego em Venâncio Aires e o casal optou se mudar. “Logo que eu vim não sabia o que ia fazer. Eu sempre digo que ficava anotando as receitas da Ana Maria em casa”, brinca.

Mesmo sem ter muitos contatos no município, montou um escritório de publicidade e começou a atuar no ramo de criação. Em 2015, após analisar a falta de oportunidades gastronômicas na cidade, decidiu fazer um evento da área. Decidiu inovar num ramo que sempre gostou unindo em um só lugar bancas de comida de variados tipos. O evento, chamado de Gastromania, teve quatro edições no Parque do Chimarrão e em frente à Igreja Matriz, no Centro de Venâncio Aires. “Lotamos o evento já na primeira edição, isso nos mostrou que estávamos no caminho certo”, relata.

Nesse período, Luciano já começou a fazer cursos com chefs de cozinha e participar de eventos em diversas cidades do país.

De hobby para profissão

Depois disso, a atuação no ramo de comida só deslanchou. Em 2016, foi o responsável pela gastronomia da 14ª Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim). Também passou a ser integrante do Rotary Club Venâncio Aires – entidade que presidiu em 2018/19 – e era responsável pela cozinha nas confraternizações dos integrantes.

Ao ar livre e utilizando fogo e ferro, já trabalhou com chefs renomados como Jimmy Ogro, Domingos Neto, Roberto Ravioli e Daniel Lee. “Eu sabia muito do que aprendi com minhas avós, depois busquei aprender as técnicas e isso só é possível trabalhando com quem sabe”, completa. O profissional também dá aulas de gastronomia no Senac, em Santa Cruz do Sul, instituição onde, anteriormente, lecionava cursos da área de design gráfico. Na área social, já ministrou cursos nos condomínios populares Altos da Aviação e Bela Vista. Luciano segue com o escritório de publicidade, mas tem planos de investir ainda mais do seu tempo na gastronomia.

“Eu nunca convivi com meu pai, ele faleceu quando eu tinha oito meses. Mas tenho duas fotos com ele e são no campo. Ele trabalhava na lida campeira e acho que esse meu gosto por carnes deve vir daí.”

LUCIANO BRITO ARAUJO

Publicitário e cozinheiro



Cassiane Rodrigues

Cassiane Rodrigues

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), atua com foco nas editorias de geral, conteúdos publicitários e cadernos especiais. Locutora da Rádio Terra FM, tem participação nos programas Terra Bom Dia, Folha 105 1° edição e Terra em Uma Hora.

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