Ler, por si só já é uma prática que só traz benefícios. Agora, ter com quem trocar ideias e conversar sobre o conteúdo lido é ainda mais prazeroso e divertido. Essa é a função dos clubes de leitura. Uma atividade que começou a se destacar durante a pandemia e não para de crescer.
Uma das adeptas ao clube dos livros é a auxiliar de escritório Losana Farinha dos Santos, 42 anos. Ela idealizou um grupo em junho de 2021, do qual somente mulheres participam, e lá é um espaço para que elas possam se desconstruir e se encontrar, sem julgamentos. “Nos acolhemos com a leitura”, define.
O grupo em conjunto decide por um livro, que todas leem e, após, em encontros virtuais que ocorrem a cada quinze dias, o discutem. No momento, são sete leitoras ativas no grupo de Losana, inclusive com moradoras de São Gabriel, Caçapava e Itapema. As mulheres também conversam pelo grupo de WhatsApp criado em função do clube de leitura. A intenção é conseguir, neste ano, reunir todas as participantes em um encontro presencial.
A preferências são livros escritos por mulheres e que tratam de assuntos do mundo feminino. A primeira obra discutida foi ‘A cor púrpura’, de Alice Walker e agora o grupo está lendo ‘Mulheres que correm com os lobos’, de Clarissa Pinkola Estés. Losana explica que, além dos encontros virtuais para discutir o livro, as leitoras também realizam dinâmicas que envolvam artesanato, dança, finanças e assuntos da atualidade. Até o momento, já foram feitos 13 encontros.
Reflexos
A idealizadora do clube comenta que, quando lançou a ideia, convidou algumas pessoas e não foi difícil a aceitação. Ela afirma que no grupo do WhatsApp estão até mais mulheres, além daquelas ativas, pois algumas preferem estar ali acompanhando o assunto e interagindo da forma que conseguem. Losana já fez parte de mais grupos de leitura, porém, este foi o primeiro que liderou.
As colegas do clube literário comentam com Losana que reconhecem a importância do grupo e não vivem mais sem. “Acaba sendo uma terapia, bom para todas. Trazemos a leitura de forma leve, podendo se expressar sem medo do julgamento.” A idealizadora observa que é preciso, além da vontade de participar, uma certa organização e disciplina nas leituras. Losana menciona que o grupo traz um sentimento terapêutico, pois, além da leitura contínua, todas podem desabafar e contar os problemas da vida, pois ali recebem apoio e conforto.
“A leitura é tudo de bom. Além de discutirmos vários assuntos interessantes, sempre temos uma entrega a mais, com dinâmicas e contribuições de todas. É uma rede de apoio para qualquer hora.”
LOSANA FARINHA DOS SANTOS
Idealizadora de um clube de leitura para mulheres
Novo clube
A intenção de Losana é que, neste ano, ela consiga criar mais um clube de leitura, dedicado à literatura negra feminina, também somente com participação feminina. Interessadas em participar podem entrar em contato com Losana pelo telefone (51) 99854-5818.
Saiba mais sobre o assunto
1. A bibliotecária da Biblioteca Pública Municipal Caá Yari, Rosaria Garcia Costa, explica que os clubes do livro não são um movimento novo. Anos atrás, quando mulheres e homens não podiam ficar juntos em uma mesma sala, o público masculino jogava e fumava, enquanto as mulheres se reuniam para ler e discutir sobre os livros.
2. Ela observa que a ascensão desta prática se deu na pandemia da Covid-19, quando os encontros on-line eram os únicos permitidos naquele momento em que as bibliotecas e livrarias estavam proibidas de aglomerar leitores. Ela comenta que há eventos específicos para estes clubes, organizados por videotecas, porém, em Venâncio Aires, nenhum ainda foi feito.
3. A bibliotecária conta que também participa de um clube junto com a ONG Alphorria, no qual são debatidos livros.
4. Rosaria destaca que o clube literário pode ser uma ideia legal para jovens que recebem leituras obrigatórias na escola ou para fazer algum vestibular. “A junção de grupos para conversar facilita o entendimento, pois cada leitor tem uma visão, acaba sendo uma troca enriquecedora para todos.”
Livros, vinhos e espumantes entre amigas
Participar de uma confraria de vinhos e espumantes sempre foi o desejo de Juliana Denise Becker, 49 anos. Porém, a junção apenas para consumir bebidas não a agradava, por isso, por inspiração de uma amiga do Rio de Janeiro, veio a sugestão: unir a literatura e harmonizar vinhos que tenham a ver com a história ou a origem da autora do livro.
A ideia foi lançada por ela após um pedal com amigas pelo interior de Venâncio Aires. Na hora, Carmem Druciaki e Deisi Penz toparam. Ali, nascia a Confraria Enoliterária, em novembro de 2021. A partir dali mais mulheres foram convidadas: Jacqueline Froemming, Maria Irene Sulzbach e Sandra Knudsen.
O primeiro encontro da confraria aconteceu em dezembro, e nele foi discutido o livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. O próximo será nesta semana, para abordar sobre a obra Hibisco Roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie. Em cada reunião, é feita uma ata que registra o livro discutido e o vinho degustado. A primeira bebida foi um vinho inglês Sauvignon Blanc e, agora, nesta semana, para acompanhar a obra da autora nigeriana, as mulheres pesquisaram um vinho feito com uvas de origem africana, Pinot Noir.
Juliana afirma que todas as integrantes do grupo são um verdadeiro presente, e que admira de forma especial Sandra Knudsen, uma exemplar leitora na opinião de Juliana. “A ideia nasce de algo que sempre tive vontade, mas conseguimos tornar isso mais profundo e cultural. Todas amam leitura e leem muito, é um privilégio tê-las e poder compartilhar esta experiência com cada uma.”
Os livros lidos pelo grupo são escolhidos de forma coletiva e até o momento possuem uma tendência a serem sempre de autoras femininas. Uma pesquisa é feita para decidir o vinho que acompanhará. As mulheres se reúnem uma vez ao mês.
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