Karina Landim: uma voz para representar e emocionar

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Quais músicas você ouvia quando tinha cerca de 6 anos? No caso de quem nasceu na década de 1980, provavelmente eram os hits de Xuxa e que estavam na ponta da língua de qualquer criança naquela época. Isso aconteceu com Karina Landim, hoje com 41 anos, a grande vencedora do Festival A Mais Bela Voz de Venâncio Aires, disputado no último dia 10, no Clube de Leituras.

Karina cresceu ouvindo os discos de vinil da mãe, Lacy. Na coleção, nomes como Rita Lee e Belchior (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Mas, além da ‘Rainha dos Baixinhos’, a então menina, ainda moradora de Porto Alegre, onde nasceu, deixava os ouvidos consumirem Rita Lee, Queen, Belchior, Angela Ro Ro e Novos Baianos, gastando a agulha da vitrola da mãe, Lacy, a ‘dona’ dos discos de vinil. “Sempre fui muito musical e era isso que eu gostava de ouvir, desde pequena. Meu gosto vem dos discos da mãe. Músicas do ‘tempo dela’, mas que são do meu tempo também. Cresci achando que nasci na época errada. Parece que eu tenho 80 anos e não minha mãe”, brinca Karina, uma nostálgica assumida.

Nas únicas participações em festivais, ambas no A Mais Bela Voz, conquistou o terceiro lugar em 2022 e venceu em 2023 (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

O gosto pelas coisas do passado vai além da música. Estuda sobre os cenários, o contexto histórico, a moda, os estilos de meados do século XX. Adora tudo que é vintage. Não é diferente com a música, embora entenda que, o que é bom, se mantém atual. Por isso, o repertório dela tem muito dos clássicos das consideradas ‘divas do jazz’, entre elas Aretha Franklin. Foi desta cantora, aliás, a música escolhida para levar ao festival e que lhe rendeu o primeiro lugar na categoria Profissional: ‘A natural woman’, lançada em 1968.

“Karina tá virando artista”

Curiosamente, a campeã do festival virou cantora (ou se descobriu assim) quando já tinha 35 anos. Até então, cantarolava apenas para o filho, Isaac, hoje com 9 anos, e no chuveiro. A ‘descoberta’ começou em 2017, no aniversário do pai, Joel, quando as tias comentaram sobre o Grupo Vocal Alphorria e a convidaram para participar. No primeiro encontro na ONG, ela cantou nada menos que ‘As rosas não falam’, de Cartola.

Um ano depois, quando acompanhava o pai numa consulta no hospital de Venâncio, foi abordada por uma mulher que comentou tê-la vista cantando no grupo. “Karina tá virando artista”, sorriu Joel, orgulhoso da filha única, diante do comentário da estranha. Infelizmente, ele não viveu muito mais para vê-la se consolidando como cantora, já que faleceu no fim de 2018, após complicações causadas por um câncer. “Penso nele todas as vezes que subo num palco”, revela Karina.

Técnica e estudo

Karina Landim afirma que apenas talento não basta e, se existe um dom, ele precisa ser lapidado. Assim, passou a aprender tudo que podia sobre técnica vocal. “Sou boa mãe, sou uma boa profissional [também trabalha como técnica em Enfermagem] e acredito que sou boa cantora. Mas o estudo é tudo e eu não tinha técnica, não sabia usar todos os recursos para cantar.”

Nos últimos anos, faz aulas de canto e dedica cerca de quatro dias da semana para estudar. Karina é considerada uma contralto, um timbre feminino com textura mais grave. O canto dela pode ser ouvido pelos vizinhos (que não reclamam!), já que montou um estúdio em casa. O dinheiro recebido no A Mais Bela Voz será investido em melhorias no espaço e compra de equipamentos.

De Ney Matogrosso a Édith Piaf

Para quem cresceu ouvindo grandes nomes da música brasileira e internacional dos anos 1960, 1970 e 1980, Karina desenvolveu um gosto que poderia ser classificado como incomum para os dias atuais (pelo menos para alguém da idade dela) e são justamente os clássicos que gosta de cantar.

A música que mais aprecia ouvir é ‘Love of my life’, eternizada na voz de Freddie Mercury, vocalista da banda Queen, porque lhe remete à infância. Já a canção que mais gosta de cantar é ‘Tema de amor de Gabriela’, composta por Tom Jobim, mas gravada por Ney Matogrosso, seu ídolo brasileiro. “Ele é um artista completo. Meu sonho é ver um show dele.”

Entre os artistas internacionais, ouve e canta as ‘divas do jazz’ como Aretha Franklin, Etta James, Ella Fitzgerald, Billie Holiday e Nina Simone. Também no repertório de suas apresentações, Karina canta em francês, interpretando Édith Piaf.

Atual formação da Banda Alphorria: Roger Landim, Guilherme Waechter, Nara Landim, Karina Landim, Dalana Landim, Rodrigo Ipê e Matheus Kroetz (Foto: Arquivo pessoal)

A importância da ONG Alphorria

Karina diz que hoje não se vê sem música e que muito deve à ONG Alphorria. Ela destaca que o trabalho não se trata apenas das lutas antirraciais, mas sobre respeito às diferenças. “Me encontrei na música por estar dentro da ONG. Foi ela que levou a me reconhecer como cantora e estar inserida, fazer parte de algo tão representativo. Tenho orgulho de fazer parte de um grupo que, através da música, aborda o respeito, a resistência e o empoderamento.” No repertório, muito soul music, como Tim Maia e Sandra de Sá, além de sambas antigos.

A cantora ressalta ainda a importância de poder entender que todos podem fazer a diferença, independente de onde estiverem inseridos. “Sou mulher e é possível. Tenho mais de 40 anos e é possível. Sou uma mulher negra com mais de 40 anos e é possível. Essa representatividade é importante e pode influenciar positivamente outras pessoas.”

Além de ser vocalista da Banda Alphorria, Karina também tem um projeto paralelo, chamado Karina Landim Acústico.

“A música é um lugar para onde somos transportados quando ouvimos ou cantamos. Ela abre um espaço na alma. Acredito que uma voz precisa emocionar e representar e se eu conseguir tocar uma única pessoa com minha voz, já estarei realizada.”

KARINA LANDIM – Cantora



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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