Suzana Teresinha Daniel foi a vice-campeã da categoria Amador e ainda faturou o troféu de Albano Becker – Melhor Samba; Milenna, campeã do Clubinho, e a mãe Marla, vice no profissional e vencedora do Troféu Volmir Martins – Melhor Gaúcha (Fotos: Débora Kist/Folha do Mate)
Suzana Teresinha Daniel foi a vice-campeã da categoria Amador e ainda faturou o troféu de Albano Becker – Melhor Samba; Milenna, campeã do Clubinho, e a mãe Marla, vice no profissional e vencedora do Troféu Volmir Martins – Melhor Gaúcha (Fotos: Débora Kist/Folha do Mate)

Venâncio Aires - Entre os ditados populares mais conhecidos, há aquele que é usado para explicar quando se encontram, nos filhos, semelhanças com os pais. É o velho conhecido ‘filho de peixe, peixinho é’. A expressão vale tanto para as qualidades como para eventuais características negativas. Mas, quando o assunto é música em Venâncio Aires, o ditado só enaltece algumas histórias. Entre elas, as que se repetem, em gerações diferentes, dentro do Festival A Mais Bela Voz, um dos eventos culturais mais tradicionais do município e que, em 2025, chegou na 45ª edição. Na matéria a seguir, conheça as histórias de Suzana Teresinha Daniel, Marla de Oliveira e Millena de Oliveira Richter, filhas de ganhadores de outras edições e que também levaram troféus em 2025.

Nilo Pedro dos Santos, o Deza, foi campeão de edições do festival na década de 1980 (Foto: Arquivo pessoal)

O samba que honrou a memória de um pai

“O pai vai te preparar para cantar.” Essa frase Suzana Teresinha Daniel ouviu do pai, há 30 anos, ainda na adolescência, quando já vivia nos pés dele querendo aprender mais e mais sobre música. Desde pequena, Suzi, como é conhecida, cresceu ouvindo e admirando a voz potente de Nilo Pedro dos Santos (1953-2022). Em Venâncio Aires, ele era conhecido apenas como Deza, seja nos tempos de jogador de futebol no Santos, do bairro Coronel Brito, ou colecionando títulos nos festivais ‘A Mais Bela Voz’, especialmente na década de 1980.

Suzana conta que o pai era um grande admirador de sambas antigos, além de gostar de ouvir Alcione, Nelson Gonçalves, Altemar Dutra e Nelson Ned, por exemplo. Também foi ‘puxador’ de sambas-enredo do Négo, durante o Carnaval, e chegou a tocar e cantar na banda Sol Nascente. Ela não lembra quantos festivais ‘A Mais Bela Voz’ o pai venceu, ainda nos tempos de Colégio Oliveira, mas tem guardado prêmios, como um blusão. “Na época não era dinheiro ou troféu. Os vencedores ganhavam presentes e até um capacete de moto recebeu uma vez.”

Decisão

Há mais de 20 anos, Suzi participou de alguns festivais e, em 2025, decidiu se inscrever novamente. A decisão veio depois de ouvir uma mensagem de um velho amigo do pai, falando com carinho sobre Deza e a história dele nos festivais. “A música sempre esteve dentro de mim e aí decidi me inscrever. Não tive dúvidas em relação à música, era a que meu pai gostaria que eu cantasse. Fui representando ele e quando subi no palco do Clube de Leituras, foi a imagem dele que vislumbrei na plateia, me assistindo”, conta Suzana, emocionada.

Na noite do dia 24 de outubro, ela foi a vice-campeã da categoria Amador, cantando ‘A loba’, de Alcione, e ainda faturou o troféu de Albano Becker – Melhor Samba. “Não esperava ganhar. Mas a vida toda fui preparada por um grande cantor e um grande pai. Ele sempre me disse que a gente precisava ter prumo, rumo e foco, e que as pessoas mereciam ouvir o que a gente tem de melhor. Acho que consegui honrar a memória do meu pai e ele ficou orgulhoso de mim.”

Suzana e a mãe, Cleci Teresinha dos Santos. Ela guarda um blusão que Deza ganhou de prêmio num festival (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

A filha da Marla e a mãe da Milenna

“Onde tem dom, tem legado.” A afirmação de Marla de Oliveira, 35 anos, vem sendo seguida à risca na família. Ela, que em 2025 participou do nono Festival A Mais Bela Voz, onde conquistou o segundo lugar na categoria Profissional e levou o Troféu Volmir Martins – Melhor Gaúcha, viveu uma emoção ainda maior da plateia: ver a filha conquistar o primeiro lugar na categoria Clubinho.

A filha ensaiou para o festival acompanhada da mãe, que é cantora profissional e ‘respira’ música desde pequena (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Milenna de Oliveira Richert, de 11 anos, na primeira participação no festival, foi a preferida dos jurados ao interpretar ‘Do fundo da alma’ de Shana Müller. A menina estuda no 5º ano da Escola Odila Rosa Scherer e escolheu a mesma música que já tinha lhe garantido premiação no rodeio tradicionalista – ela integra o Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) Piazito da Tradição. “Com certeza a mãe ficou orgulhosa de mim. Primeiro eu fiquei nervosa, mas conforme fui ensaiando, fui gostando e achando legal”, conta Milenna.

O ‘nervosa’ dela se refere ao fato de Marla ter inscrito a filha em segredo. “Achei que ela poderia ter essa experiência e contei depois de inscrever. Mas esperava participação e não vitória. E para nossa alegria, ficou em primeiro”, relata a mãe, orgulhosa. Marla não esconde a emoção ao lembrar da apresentação da filha. “Ela é mais tímida e até tive receio de que não quisesse cantar. Mas disse ‘a mãe vai ficar contigo’. Já revi a apresentação dela várias vezes. Não teria nada a reparar. Ela foi incrível.”

Ponto de referência

A mãe de Milenna também é uma ‘filha de peixe’, afinal, o pai, Marco de Oliveira, 59 anos, foi duas vezes campeão e duas vezes vice-campeão do A Mais Bela Voz. Ele é conhecido como cantor e músico tradicionalista em Venâncio e atualmente mora no Paraná. “Sou uma privilegiada por ter tido meu pai perto e tento ser assim para a Milenna”, destaca Marla, que em oito festivais anteriores venceu três vezes no Infantil, duas vezes campeã no Amador e duas vezes vice-campeã no Amador. Em 2025, os dois troféus que levou foi cantando ‘Prece à pátria’, de Jean Kirchof, também uma música tradicionalista.

Para o próximo ano, Marla diz que não pretende competir, enquanto a Milenna garante que vai subir no palco do Leituras novamente. “O ponto de referência vai mudando. Houve um tempo que eu era conhecida como a filha do Marquinho Gaiteiro. Depois ele virou o pai da Marla. Hoje a Milenna é a filha da Marla, mas logo serei a mãe da Milenna. São esses os ciclos e tenho certeza: a Milenna vai cantar muito mais do que eu”, conclui.