Representante da Loja Simbólica Luz do Oriente, organização maçônica de Venâncio Aires, Cláudio José Dietrich utilizou a tribuna da Câmara de Vereadores, na sessão de segunda-feira, 2, para pedir a ajuda dos poderes Legislativo e Executivo, assim como da população da Capital do Chimarrão, para uma missão que, segundo ele, é de todos: evitar que o Museu de Venâncio Aires feche as suas portas por falta de recursos para manutenção.
Conforme Dietrich, o Museu vem enfrentando sérias dificuldades financeiras e necessita de suporte para que não seja preciso encerrar as atividades ou, no mínimo, reduzir o horário de atendimento a visitantes. De acordo com ele, o Núcleo de Cultura de Venâncio Aires (Nucva) está preocupado, em especial, com a necessidade de disponibilização de um elevador no Edifício Storck – prédio no qual está todo o acervo do Museu. O elevador é exigência da União, para que o Nucva possa encaminhar projetos de captação pela Lei Rouanet.
Além da instalação do equipamento, também é necessário realizar reformas estruturais no prédio. A princípio, são mais urgentes a revitalização do telhado e a pintura da edificação, bem como algumas intervenções pontuais na alvenaria. “Se não conseguirmos ajuda, o Museu fecha em 2023”, afirmou o porta-voz do Nucva, ao destacar que o patrimônio do Museu “é inestimável” e que a comunidade também deve se sentir responsável. “Temos um dos maiores museus do Rio Grande do Sul. São 80 mil peças no acervo”, afirmou Dietrich.
Sobras na Câmara
Após a manifestação, o presidente da Câmara de Vereadores, Benildo Soares (Republicanos), pediu a palavra e se comprometeu em ajudar o Museu. Ele disse que vai usar parte das obras legislativas como forma de ‘socorro’. Vários outros parlamentares se pronunciaram no sentido de destinação de emendas impositivas para a causa. No fim da sessão, os vereadores ainda conversaram com Flávio Seibt, médico aposentado e um dos maiores entusiastas do Museu. Eles pretendem se reunir com o prefeito Jarbas da Rosa para tratar do assunto.
Conta alta: R$ 500 mil para o alívio
A instalação do elevador – cujo orçamento é de R$ 150 mil, aproximadamente – é somente uma das melhorias necessárias para o bom funcionamento do Museu. Flávio Seibt ressalta que está aberto o valor de R$ 100 mil relativo ao projeto para implementação do equipamento, que contempla ainda outras obras para melhorar a acessibilidade. “O projeto foi feito na amizade pela empresa Reciclare, de Porto Alegre. Isso quando nós tínhamos contato direto com o número 2 do Ministério da Cultura e havia a expectativa de captação de recursos por meio da Lei Rouanet. Agora, o projeto que havia foi engavetado e perdemos o contato, fomos esquecidos”, lamenta.
Além disso, Seibt acredita que mais R$ 250 mil sejam necessários para manutenção do telhado do Edifício Storck, pintura do prédio e outras ações na estrutura. “Por baixo, calculo que R$ 500 mil seria um valor para o alívio”, argumenta. Embora saiba que o montante é elevado, ele comenta que saiu da Câmara de Vereadores satisfeito com as promessas dos vereadores de que irão se engajar à causa. Seibt confirma que pretende marcar uma agenda com o prefeito Jarbas da Rosa para falar do tema. “Vamos deixar para depois da Fenachim”, pondera.
Municipalização
Flávio Seibt afirma que, enquanto puder, continuará lutando pelo Museu de Venâncio Aires. Porém, ele destaca que está com 75 anos e não tem mais condições físicas de cuidar do prédio e do acervo. “Se não tivermos pelo menos dois funcionários remunerados e mais dois voluntários, complica a situação. Hoje, os voluntários somos eu e meu sobrinho. Se não conseguirmos os recursos, teremos que, infelizmente, demitir os três remunerados que trabalham conosco. Aí seria só eu para abrir o Museu. E não tenho como assumir esta responsabilidade sozinho. É muita coisa para cuidar, muito material para catalogar”, compartilha.
Em razão disso, ele sugere uma parceria público-privada para que as atividades do Museu possam seguir. “Com aluguéis, arrecadamos cerca de R$ 7 mil por mês, montante que não é suficiente nem para o pagamento dos funcionários e os encargos trabalhistas. Ainda temos água, luz, impostos e as questões envolvendo PPCI e manutenção. Acreditamos que é o momento de trazer a Prefeitura para mais perto do Museu, para que o Município seja mais diretamente responsável”, sugere. Como ação inicial, será solicitada isenção da taxa de lixo do Museu, cerca de R$ 3,5 mil ao ano. “Praticamente não produzimos resíduos”, justifica. Em uma eventual parceria, Seibt calcula que seriam precisos dois cargos em comissão (CCs) para prestarem serviço ao Museu, além de mais alguns voluntários. “Queremos criar as condições permanentes de trabalho”, diz.
“Vamos tentar uma solução negociada, depois da Fenachim. Se conseguirmos uma parceria, todos passam a ter mais responsabilidade com o Museu. Ele é do povo de Venâncio Aires, é onde está guardada toda a história da nossa cidade. O valor é inestimável.”
FLÁVIO SEIBT – Médico voluntário e integrante do Nucva
R$ 15 mil
é o valor aproximado de receitas necessárias, mensalmente, para que o Museu consiga cumprir com as obrigações de pessoal e manutenção estrutural.
“Não vamos fugir da responsabilidade”
O prefeito Jarbas da Rosa já tem conhecimento da situação delicada que envolve a administração do Museu. Ele teve breve conversa com Flávio Seibt e pediu para continuar as negociações após a 16ª Festa Nacional do Chimarrão. O chefe do Executivo ressaltou que o Município não tem expertise em museus, no entanto garantiu que “não vamos fugir da responsabilidade, caso seja realmente necessário”.
Jarbas antecipou à reportagem da Folha do Mate que a Administração está “à disposição para ajudar no que for preciso”, mas declarou que “o ideal é que uma entidade cuide do Museu”. Disse também que “foi a comunidade que comprou aquele prédio e a Prefeitura entende que o Nucva faz um ótimo trabalho”. O gestor reforçou que o Município não deixará de dar apoio, “assim como já aconteceu com outros prefeitos”.
Ele ainda destacou que a Prefeitura aluga uma sala no Edifício Storck, onde está instalado o Centro de Atendimento ao Turista (CAT), com custo de R$ 3,3 mil por mês, “justamente para auxiliar de alguma forma”. Jarbas entende que é preciso renovar e aumentar o grupo que cuida do Museu. “São sempre as mesmas pessoas. Precisamos de mais engajamento da comunidade, pois nos preocupa a continuidade do Museu. Quem vai cuidar no futuro?”, indagou.
“Se chegarmos ao extremo de a Prefeitura ter que abraçar o Museu, vamos assumir a responsabilidade. Não podemos deixar que a história de Venâncio Aires seja esquecida. O ideal é a entidade cuidar, porque faz um grande trabalho, mas se não for possível, fechado o Museu não vai ficar.”
JARBAS DA ROSA – Prefeito de Venâncio Aires