Da admiração pelo trabalho voluntário à ‘mão na massa’; conheça o casal de bombeiros de Vale Verde

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Uma pergunta comum a quem faz trabalho voluntário é sobre a motivação para realizá-lo. Para Selvino Ignacio da Silva, 61 anos, e a esposa Lisete Lucia Klein da Silva, 55 anos, moradores do Centro de Vale Verde, a resposta é simples: é uma energia positiva e que dá forças.

“Eu vejo como um vício. Você cria um vício para fazer maldade e um vício também para fazer o bem. É um jogo de energia, que a gente não sabe de onde vem, nem para onde vai, e que faz com que criemos força e um ambiente agradável, mesmo em uma hora difícil”, define o autônomo do ramo da construção civil, que atua como bombeiro voluntário.

Há quase cinco anos, o casal integra a Associação Bombeiros Voluntários Passo do Sobrado, que também atende o município vizinho de Vale Verde. Segundo Selvino, o interesse em participar surgiu da admiração por esse trabalho. “Um dia fui visitar a sede e me convenceram que era interessante que fizéssemos parte. Na mesma semana começamos a fazer um curso, com os próprios instrutores da corporação”, recorda.

Para Lisete, a vontade de integrar a associação apareceu logo depois do marido retornar da visita à corporação. “Eu fui junto só para interagir, tomar um chimarrão, mas no fim participei de todas as aulas e me formei no curso também. Assim, fomos nos aperfeiçoando, eu sempre acompanhando ele, e estamos juntos até hoje dentro da corporação”, conta a aposentada.

Depois das atividades em Passo do Sobrado, o casal participou de um curso em Colinas e se formou como bombeiro voluntário e civil. Mais tarde, eles realizaram uma formação em Natal, no Rio Grande do Norte, para se tornarem instrutores e, hoje, fazem parte de um centro internacional de formação.

A associação

Atualmente, a Associação Bombeiros Voluntários de Passo do Sobrado conta com 27 pessoas que trabalham diretamente nos atendimentos. Entretanto, segundo Selvino, que também é comandante e instrutor da corporação, há centenas de pessoas que auxiliam. “As pessoas ajudam de diversas formas, que não dá nem para citar. Existe um grupo enorme, que eu nem sei quantas pessoas fazem parte, que estão sempre apoiando a nossa corporação”, ressalta.

Além disso, os bombeiros voluntários recebem incentivo das Administrações Municipais de Passo do Sobrado e de Vale Verde, que colaboram diretamente com as despesas. “Recebemos o auxílio tanto da comunidade quanto das Prefeituras. Por isso, agradecemos muito a todas as pessoas que fazem parte do nosso trabalho”, enfatiza.

Como também são instrutores, ele e a esposa realizam a formação de turmas de bombeiros civis e voluntários, o que exige a elaboração de planos de aula, por exemplo. Entre as principais ocorrências atendidas pela corporação na região de Passo do Sobrado e Vale Verde estão acidentes de trânsito e incêndios em estufas, em casas e na vegetação. “Não existe ocorrência mais importante que a outra. Quando alguém liga para os bombeiros é porque aquela situação é muito relevante para ela. Então, não discriminamos se é melhor ou pior que a outra”, comenta.

Experiências que marcam

Ao longo da trajetória como bombeiros voluntários, o casal viveu muitas situações. Uma das que mais marcou Lisete foi um capotamento em Vale Verde, no qual uma das vítimas ficou presa no veículo. “Tivemos que fazer vários procedimentos para tirar essa pessoa de dentro do carro, que estava consciente, porém não conseguia sair sozinha. Ela estava presa nas ferragens, mas conseguiu manter a calma e a retiramos com sucesso”, relata.

Para Selvino, todas as ocorrências ficam gravadas na memória. “Não tem como tirar”, observa. Mas como mais marcante ele cita um acidente envolvendo nove vítimas, também em Vale Verde. “Fomos os primeiros a chegar no local e quando vimos nos sentimos muito impotentes, por causa da gravidade da situação. Tinha um óbito e as demais pessoas estavam deitadas no solo, todas muito mal. Inclusive, houve mortes de outras pessoas depois. Tem socorrista que trabalha muitos anos como bombeiro e não vive uma experiência como essa”, menciona.

Ele também cita dois acidentes nos quais eles atuaram no retorno de Natal, quando recém haviam concluído o curso. Um envolvia uma família, que precisou ser socorrida às pressas e eles não encontraram local para atendimento com facilidade. Além disso, havia uma criança envolvida. E o outro aconteceu com um motociclista, que saiu da pista e colidiu em uma árvore. “Eu e minha esposa fizemos os primeiros socorros até que as ambulâncias chegassem. Os próprios socorristas do Samu nos agradeceram e elogiaram o trabalho”, relembra.

Selvino também participou de ações voluntárias para auxiliar os atingidos pela enchente em Roca Sales, no Vale do Taquari, em setembro. “O ambiente era de caos, desolador, onde várias pessoas perderam a vida, famílias totalmente em estado de choque. Mas o grupo que estava ali estava motivado, apesar dessa situação. As pessoas faziam o trabalho com alegria. É algo sobrenatural. Uma coisa que você só entende quando vive. Essa energia brota de quem realmente faz um trabalho voluntário sem nenhum tipo de retorno”, ressalta.

“Eu vejo o trabalho de bombeiro voluntário como um vício. Você cria um vício para fazer maldade e um vício também para fazer o bem. É um jogo de energia, que a gente não sabe de onde vem, nem para onde vai, e que faz com que criemos força e um ambiente agradável, mesmo em uma hora difícil”

SELVINO IGNACIO DA SILVA

Bombeiro voluntário em Passo do Sobrado



Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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