“A sala de aula saiu de mim, mas eu não saí da sala de aula.” É com essa frase que a professora aposentada Elisabet Frey, 57 anos, resume o atual momento da sua vida. Com atuação por 27 anos na rede municipal e outros 25 no Estado, desde criança sempre teve o desejo de lecionar e viver a rotina escolar. Com a chegada da aposentadoria, ela deixou o dia a dia corrido dos educandários e passou a atuar como motorista na empresa de transporte coletivo da família, sem romper os laços com a educação.
Elisabet conta que nasceu em Linha Marmeleiro. O pai, Protácio Lourenço Werlang, era professor, e a mãe, Maria Werlang, uma artesã de ‘mão cheia’. Quando ela tinha quase três anos, o pai pediu transferência para Vila Santa Emília, passando a atuar na Escola São Luiz. Depois de concluir os anos de estudo, ela ingressou no magistério, em 1983, no Colégio Nossa Senhora Aparecida, onde se formou três anos depois. Em 1987, prestou vestibular na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e se formou em Letras/Português, em 1993.
O concurso para a rede municipal veio um pouco antes, em 1989. Ela recorda que começou a atuar na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Princesa Isabel, de Linha Isabel. “Naquele tempo, a educação era mais valorizada. Especialmente em dias de chuva, cheguei a dormir na casa de pais de alunos, pois o trajeto de volta era longo e era impossível pegar a estrada”, comenta.
Desde 7 de abril de 1990, é casada com Alceu Frey e reside em Linha Cecília. Para completar a carga horária, fez concurso público para a rede estadual em 1994. Em 2018, se aposentou da rede municipal, quando lecionava na Emef Gabriela Mistral, de Santa Emília, e continuou na Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Léo João Frölich, onde se aposentou dois anos depois. “Tudo aconteceu como tinha que ser”, considera.
Na condução do ‘micrinho’
Ao deixar as salas de aula, a filha mais nova de seu Protácio e dona Maria, e mãe do Matheus e Leandro, nem imaginava o que a aguardava. O marido, Alceu, integrava a sociedade da empresa de transportes Reckziegel. Com a aposentadoria dos demais sócios, Alceu e o filho Leandro assumiram a empresa, que passou a ser familiar e foi rebatizada como FreyBus.
Como não gostava de ficar parada, e com o incentivo da família, Elisabet buscou habilitação para auxiliar na rotina da empresa. “A aposentadoria é um momento de transição que traz desafios. Refletir sobre isso deu certo, pois, naquele momento, eu só queria me sentir útil”, explica.
Com a aprovação na categoria D, em 9 de abril de 2018, começou realizando pequenos trajetos. Inicialmente, fazia algumas ‘corridas’, transportando combustíveis ou prestando socorro. Mais tarde, pegou gosto pela nova rotina e hoje é responsável pelo transporte de alunos da pré-escola da EEEF São Luiz. Seu xodó é o micro-ônibus número 15, apelidado de ‘micrinho’. A monitora, Marta Frey, também é professora aposentada. “Essa é minha nova rotina, ainda aprendendo muito. Mas sei da responsabilidade que é transportar vidas”, destaca Elisabet.