Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do Matez

O churrasco de domingo, a foto do chimarrão na rede social, a bandeira do RS na foto da viagem ao exterior, o grito de ‘Eu Sou Gaúcho’ no estádio de futebol, o pendrive com playlist campeiro. Não é preciso usar bombacha todos os dias, pois até gaúcho de apartamento tem na ponta da língua a letra do hino-riograndese.

O orgulho de ser do Rio Grande do Sul é uma marca de um povo bairrista e fanático 365 dias por ano, mas que nesta Semana, quando é lembrada a Revolução Farroupilha, aflora ainda mais. “Foi o 20 de setembro, o percursor da liberdade”, lembra o hino gaúcho.Basta voltar muitas páginas da história e chegar no capítulo da Revolução, para compreender como esse sentimento de orgulho ganhou força. A Epopeia dos Farrapos é tida como marco fundador da identidade gauchesca. Conforme o historiador e jornalista do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Rogério Bastos, esse sentimento “está intrínseco no povo.”Ele destaca que a identidade do gaúcho começa a ganhar forma a partir da visita do botânico Augustin de Saint-Hilaire, que viajou pelo Brasil no século XIX e relatou os costumes e paisagens brasileiras. “Ele classificou que nesta província até os cães latiam diferente. Ele notou a diferença da Província de São Pedro das outras localidades do Brasil.”Bastos observa que obras como de João Simões Lopes, José de Alencar e a atuação da Sociedade Parthenon Literário, considerada a principal agremiação cultural do Rio Grande do Sul do século XIX, também foram fundamentais para descrever o gaúcho para o país e o mundo. Foram nestes escritos que o gaúcho foi relatado como um homem valente, “que se adaptou ao sul pra sobreviver e lutou pela sua terra.”Mas esse interesse de retratar a figura do gaúcho gera curiosidade até hoje. Inclusive durante a Copa do Mundo de 2014, o The New York Times, considerado o principal jornal do mundo, classificou o Rio Grande do Sul como um povo totalmente diferente do restante do Brasil. Outra característica apontada pelo historiador é a vaidade. “Ele gosta de mostrar suas qualidades. Em um estádio de futebol por exemplo, ele gosta de gritar que é gaúcho para pressionar o adversário e para dizer que o gaúcho é diferente. Agora Santa Catarina e Paraná começaram a cantar o hino de seus estados nos estádios”, exemplifica.Para Bastos, o orgulho de ter construído uma Província, depois um Estado, e por ter dado um exemplo para o Brasil durante a Revolução Farroupilha, não pode ser ignorado. “A Revolução buscava tornar o Brasil uma República Federativa, o que aconteceu 50 anos depois.”Cita também o protagonismo do Rio Grande do Sul nas decisões mais importantes do país. “Ao longo da história, sempre que o Brasil teve que provocar mudanças, o Rio Grande do Sul esteve presente. Foi uma região forjada à base de lutas para compor sua identidade. O Rio Grande lutou para ser brasileiro, lutou para manter as fronteiras do Brasil.”

“Ser gaúcho é um estado de espírito, é aquela pessoa que aceita valores construídos ao longo da história para formar a identidade. Esse sentimento está presente no povo e aflora ainda mais nesta época” Rogério Bastos – Jornalista e historiador

 

Cresce a adesão pelo tradicionalismo

A cada ano se realizam mais fandangos, acampamentos, cavalgadas, seja pelas entidades tradicionalistas ou envolvimento das escolas e pelas comunidades. O tradicionalismo, por meio do Movimento ou simplesmente por admiração e hobyy, ganhou espaço em todas as esferas e camadas sociais. Conforme a vice-presidente da Associação Tradicionalista Venâncio-airense (ATVA) Luce Carmem da Rosa Mayer, em Venâncio Aires houve um crescimento muito expressivo das entidades tradicionalistas nos últimos anos. “Hoje nós temos 12 entidades em Venâncio, todas bem organizadas e, a cada dia que passa, são novos integrantes que passam a conhecer o trabalho realizado e criam o gosto pela nossa cultura.”Luce Carmen destaca que o tradicionalismo reúne diversas gerações e, se torna ainda mais importante em dias marcados por tanta violência nas ruas. “Quando estamos dentro de uma entidade tradicionalista, a gente percebe que ali o amor, a amizade, a integração está presente entre as famílias”, frisa.

NOVO PIQUETEA mais recente entidade do município é o PTG Sinuelo de Tropa, fundado em 10 de abril de 2015. O Patrão Amaro Santiago diz que há cerca de 20 anos participa dos acampamentos Farroupilhas, mas pela primeira vez está no Parque do Chimarrão com o recém-fundado piquete. Ele e demais integrantes ficarão acampados até o domingo ou segunda-feira. “Faça chuva ou faça sol”, garante.

Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do Matepatrão Amaro Santiago PARTI CIPA há 20 anos dos acampamentos, mas pela primeira vez com o recém-fundado PTG Sinuelo de Tropa
Patrão Amaro Santiago participa há 20 anos dos acampamentos, mas pela primeira vez com o recém-fundado PTG Sinuelo de Tropa

Música que canta e encanta

Uma das formas mais presentes da demostração do orgulho gaúcho está na música. Hoje, diversas músicas se tornaram verdadeiros ‘hinos’ da cultura gaúcha. Quem compartilha esse envolvimento é o comunicador Antônio Mello, da Terra FM. Há 11 anos ele está à frente do programa Alma Gaúcha, que vai ao ar todos os domingos, das 8h às 13h. A aceitação e participação do ouvinte justificam as cinco horas de duração do programa. “Cada vez mais as pessoas vão se identificando com a música gaúcha. Toda música tradicionalista conta uma história e as pessoas vão gostando e aderindo.”Ele conta que procura rodar músicas que tratam sobre a vida e o jeito de ser do gaúcho e enumera algumas que não podem faltar no playlist, como: Tordilho Negro – Os Serranos; Os loco lá da fronteira – César Oliveira e Rogério Melo; Batendo água – Luiz Marenco; Cantador de Campanha – Luiz Marenco e; Um Bagual Corcoveador – João Luiz Corrêa.