“Defesa Civil de Venâncio não tem nada”, afirma coordenador Luciano Teixeira

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Durante os resgates em Vila Mariante e arredores, bem como na região baixa da cidade, foi necessário o auxílio do Corpo de Bombeiros Militar (CBM) e de voluntários, além da equipe da Defesa Civil. Para além das três embarcações dos bombeiros (duas de Venâncio Aires e uma de Santa Cruz do Sul), os demais veículos eram de propriedade de voluntários. Isso se dá porque a Defesa Civil do município não tem aparato para resgates de risco, como nas duas situações relatadas anteriormente.

A informação da falta de recursos foi confirmada pelo coordenador da Defesa Civil de Venâncio Aires, Luciano Teixeira, em entrevista à Rádio Terra 105.1 FM. De acordo com ele, essa não é uma realidade exclusiva da Capital Nacional do Chimarrão, mas que também atinge todos os municípios da região dos Vales. “A Defesa Civil do município não tem nada, nem a de Lajeado, nem de outros municípios próximos. Temos apenas uma viatura [pick-up]. Barcos, coletes e cordas, não temos”, comenta ele.

Segundo o coordenador, para a Defesa Civil ser estruturada, são necessárias embarcações e treinamento, algo que nenhum município tem – a Defesa Civil em Venâncio Aires está no ‘guarda-chuva’ da Secretaria de Segurança Pública, que conta com cerca de 50 servidores. De acordo com o professor e especialista em Desastres Naturais, Marcos Kazmierczak, 74% dos municípios gaúchos têm a equipe de Defesa Civil formada por apenas uma ou duas pessoas. “E, em geral, quando muda o prefeito, muda toda a equipe. Sai o conhecimento e, quem entra, normalmente está sem informação”, diz.

Regional

Segundo o coordenador regional da Defesa Civil, coronel Claiton Marmitt, o sistema é composto de uma estrutura estadual, organizada em nove coordenadorias, as quais, em momentos de calmaria, buscam auxiliar tanto no planejamento, quanto no treinamento dos colaboradores das Defesas Civis municipais.

Marmitt salienta que o sistema de Defesa Civil visa integrar e coordenar as ações nos momentos de desastres ou de desestabilização das forças locais, cabendo, por exemplo, ao Corpo de Bombeiros Militar e à Brigada Militar as ações e operações de resgate e manutenção da segurança pública, contudo sob a coordenação da Defesa Civil.

Dessa forma, a Defesa Civil direciona as equipes, em conjunto com as forças de segurança locais e estaduais, para a retirada de pessoas de forma segura e para alertar a população em casos de emergência para reduzir riscos e danos. Dessa forma, conforme a magnitude do evento, aumenta de escala e outros níveis de recobrimento de meios e recursos vão sendo acionados, a exemplo das Forças Armadas.

Ele afirma que a Defesa Civil do estado tinha um plano de contingência, no entanto, os eventos climáticos superaram todas as projeções. “Precisamos de um novo plano, adaptado a esta realidade. Isso inclui, também, auxílio dos municípios, com planos diretores adaptados, planejamento, sistemas de alertas e treinamento”, explica.

Entre os sistemas de alertas está a aquisição de um radar meteorológico, que será instalado no município de Montenegro. A expectativa é que ele será essencial para a projeção de tempestades e altos volumes de chuvas em até 150 quilômetros de distância e apresente uma visão diferente dos satélites – atualmente, principal forma de previsão. “Ele estará no solo e poderá detectar nuvens que os satélites não identificam”, aponta o coordenador.

Prevenção

Marmitt destaca que o objetivo para os próximos meses e anos é a criação de um consórcio entre os municípios da região para a obtenção de uma resposta mais rápida, tanto de alertas quanto de auxílio com insumos básicos. Segundo o coordenador regional da Defesa Civil, existem possibilidades envolvendo associações de municípios e consórcios como o Cisvale (Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo), que podem ser ajustados para realizar essa ajuda mútua. “Podemos ter um local com produtos de urgência ou um fundo regionalizado para tragédias como esta”, explica.

Além disso, ainda é projetada a implementação de um mecanismo que emitirá alerta para todos os celulares de moradores de comunidades que podem sofrer com eventos adversos. Conforme Marmitt, o alerta seria recebido independente da operadora e teria mensagens claras e orientações aos moradores.

Saiba mais

• Conforme a Lei Orçamentária Anual 2024 (LOA) do Governo do Estado, estão contemplados mais de R$ 115 milhões (0,2% das despesas totais) em recursos para enfrentar os eventos climáticos neste ano. Os recursos elencados na proposta são destinados às estruturas do Estado que atuam diretamente no enfrentamento às adversidades, como Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária, Corpo de Bombeiros Militar, Defesa Civil e Secretaria de Assistência Social.

• Para 2024, o orçamento previa um incremento de R$ 5 milhões para o Fundo Estadual da Defesa Civil, a ser utilizado no custeio das despesas e atendimento tempestivo às situações de emergência. Além dos valores já orçados, ainda serão anunciados novos projetos de investimentos. Neste fundo, entre os investimentos estão incluídos R$ 28,4 milhões para reaparelhamento do Corpo de Bombeiros Militar e R$ 2,5 milhões para atuação da Defesa Civil estadual.



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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