
Quando há uma criança na família, é natural que os pais ou responsáveis a mimem muito e façam as vontades dela na maioria das situações. Contudo, embora pareça ‘bonitinho’ no momento, deixar os pequenos serem o centro das atenções e ‘comandarem o espetáculo’ – o que recebe o nome de infantolatria – acarreta consequências negativas para o futuro.
A dona de casa Bruna Serafim, 23 anos, por exemplo, é mãe do pequeno Gabriel Martins, dois anos. Mesmo que ame tanto o filho, ela reconhece que, em alguns momentos, é preciso se mostrar firme e rígida, para que ele não tome conta. “Eu não deixo ele fazer tudo o que ele quer, porque, se não, tenho certeza que vai dar problema mais tarde”, comenta.
Na opinião de Bruna, quando os pais não impõem limites aos filhos e deixam eles decidirem as coisas com frequência, há uma grande chance da criança se tornar um adulto mimado, que não aceita estar errado e, ainda, não sabe lidar com as frustrações da vida. “A criança saber respeitar o pai e a mãe é fundamental, porque é o mínimo que ela deve fazer”, acrescenta.
Vida em função da criançaHá casos em que as atividades e horários da família são definidos de acordo com as vontades dos filhos, assim como as músicas ouvidas, os programas assistidos na televisão, entre outras situações. Contudo, de acordo com a psicóloga Joana Puglia, existe uma diferença entre cuidar, dar amor e atenção e fazer todas as vontades. O fato dos pais ou responsáveis deixarem as crianças agirem como

desejarem faz com que eles mesmos, mais tarde, tenham que pedir ‘socorro’: “Porque chega uma hora que os pais não conseguem dar conta dos filhos”.
Joana ressalta que quanto menos os pequenos escutam a palavra ‘não’, menos felizes eles se tornam, porque, a partir do momento em que tudo o que eles fazem é tido como bom e certo, as crianças têm a impressão de que são tratadas com indiferença e que não há alguém que de fato se preocupa com elas. “A pessoa que se importa, ama, diz ‘não’ e coloca limites”, comenta. A psicóloga explica que colocar limite e não deixar os pequenos ‘tomarem conta’ é uma forma de mostrar preocupação e valorização.
CONSEQUêNCIASSegundo a profissional, quando a criança percebe que está no comando, ela alimenta um sentimento de insegurança. “Porque se é a criança que manda e tem autoridade, ela se questiona quem vai cuidar dela”, acrescenta. Esse sentimento faz os pequenos, em algumas situações, chorarem muito, tornarem-se agressivos e se irritarem de forma fácil.
Se em casa a criança é tratada como um rei ou rainha, o primeiro grande sofrimento surge quando ela começa a frequentar a escola, porque irá se deparar com muitas outras crianças que também querem ser reis ou rainhas. “Então vai aprender na prática o que é ser contrariada e frustrada, além de ver que existem outras crianças que também querem privilégios”, comenta.
No entanto, os problemas não começam a surgir apenas na infância, mas quando os pequenos tornam-se adultos. Conforme Joana, crianças mimadas e que fazem tudo o que têm interesse viram adultos que não toleram limites, têm dificuldades de aceitar o ‘não’, obedecer as leis e outras regras estabelecidas no dia a dia: “O ‘não’ na infância prepara a criança para uma vida na sociedade, que é cheia de ‘nãos’ e limites”.A profissional aconselha que os pais mantenham-se firmes quando acham que estão certos, porque, a partir do momento que cederem sempre, as crianças acabam por não os respeitarem mais. “Elas aprendem a testar os pais. Se eles cedem toda a vez que a criança teima, eles ensinam que quando ela chora, grita e chuta as coisas, consegue tudo o que quer”, explica.
A psicóloga observa que alguns pais acabam por deixar as crianças agirem como ‘bem entenderem’, porque tiveram uma infância difícil e não desejam que os filhos passem pela mesma situação. Contudo, a profissional reconhece que é possível dar uma boa educação aos pequenos e fazê-los terem uma vida melhor mesmo com o estabelecimento de limites e regras. “Os limites na sociedade é a família que funda. Ela é que ensina a ter ética e disciplina”, destaca.
O principal erro cometido pelos pais, segundo Joana, está no fato de eles acreditarem que perderão o afeto dos filhos ao contrariarem eles. Esse medo é desnecessário, porque, mais tarde, irão agradecer pelo fato dos pais terem colocado regras. “Pais que não contrariam os filhos vêm de grandes conflitos familiares”, conta.