Foto: Divulgação / Folha do MateEm Venâncio Aires, escolas particulares já sentem uma perda no número de alunos
Em Venâncio Aires, escolas particulares já sentem uma perda no número de alunos

Em muitos lugares, o que mais se escuta falar é da crise econômica. As pessoas queixam-se sobre a quantidade de despesas, elevados preços e, devido a isso, acabam por abrir mão de algumas coisas para poder pagar todas as contas em dia. Esta redução de gastos tem afetado até mesmo as escolas particulares, que notam uma redução no número de alunos, porque os pais ou responsáveis encontram dificuldades financeiras para ‘bancar’ os custos dos estudos dos filhos.

Em Venâncio Aires, das três maiores escolas particulares, quem sentiu os reflexos da crise foi o Colégio Professor José de Oliveira Castilhos. A escola, do ano passado para cá, perdeu 28 alunos. De acordo com Jair Paulo Freitag, diretor pedagógico do colégio, a redução no número de alunos é percebida principalmente nas séries finais, que correspondem do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Além disso, ele acrescenta que a saída dos estudantes também está relacionada à mudança de cidade, mas o principal motivo ainda se refere às condições financeiras. “As famílias já comentavam sobre as dificuldades e era algo que a escola já imaginava que iria ocorrer”, argumenta o diretor.

Na opinião dele, entre vários fatores, estão os custos que os pais necessitam desembolsar para pagar os livros que, a partir do sexto ano, são exigidos. “Ali entram os materiais didáticos, que são um custo a mais para a família. Por isso, nessas séries, nós sentimos mais a perda de alunos”, comenta. O diretor pedagógico ressalta que essa diminuição no número de alunos tem preocupado a escola. Segundo ele, a instituição sempre iniciou os anos letivos com um acréscimo de estudantes e não com uma redução, como ocorreu neste ano. “A perda de alunos é sempre uma preocupação, porque reflete nas questões financeiras da escola e no próprio desenvolvimento do trabalho pedagógico”, ressalta.

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Para driblar a situação desfavorável, Freitag explica que o Colégio Professor José de Oliveira Castilhos busca oferecer um preço de mensalidade mais acessível. “Nós também sabemos que é um momento temporário e pontual dessa crise, mas que, com certeza, amanhã ou depois a situação vai mudar”, comenta.

Instituições privadas de ensino infantil também sentem o baque

A crise econômica também tem afetado as escolas particulares de educação infantil de Venâncio Aires, conforme verificado pela reportagem, que entrou em contato com cinco instituições de ensino. Ana Andressa Haas, coordenadora pedagógica de uma escola infantil do município, conta que a escola perdeu dez alunos neste ano. Segundo ela, os pais alegam que o valor da mensalidade é alto e se torna muito caro para o orçamento familiar.

De acordo com Bárbara Fischer, diretora de outra escola de infantil da Capital do Chimarrão, o educandário perdeu, em 2016, cinco crianças para a rede pública em função da redução de gastos das famílias. Para ela, o resultado não é positivo, pois afeta até mesmo nas condições financeiras da escola.

Na opinião da diretora de outra escola particular, Roberta Rex, os pais, hoje em dia, estão mais preocupados com os gastos do que com a qualidade de ensino que é oferecida. “Atualmente, os pais preferem escolas com um valor inferior, não estão muito preocupados com a qualidade, mas, em função da situação socioeconômica, estão mais preocupados com o valor da mensalidade”, explica a diretora. 

 Bom Jesus e Gaspar estão na contramão da queda

A perda de alunos nas escolas particulares é uma situação que não pode ser generalizada. Mesmo que algumas notem redução no número de alunos, outras não sentem os reflexos das dificuldades financeiras, mas, nem por isso, deixam de se preocupar com a situação. Segundo Inês Schwertner, gestora do Colégio Bom Jesus Nossa Senhora Aparecida, neste ano, em relação ao ano anterior, houve um acréscimo de 5% no número de alunos. No entanto, o número não é tão alto se comparado com o aumento de estudantes de 2014 para 2015, que foi de 7%.

Conforme Inês, esse acréscimo é mais notado nas série iniciais. “Nós recebemos muito aqueles alunos que ainda não estavam em escola”, acrescenta. Embora a escola não tenha sido afetada, a profissional demonstra preocupação. “Com o momento econômico e a situação que se vive, é claro que as famílias vão ter que fazer um esforço ainda maior para manter os filhos em escolas privadas”, admite.

GASPARCristiane Bencke Fengler, coordenadora pedagógica do Colégio Gaspar Silveira Martins, afirma que do ano anterior até o momento, a escola recebeu um acréscimo de cerca de 100 alunos, um crescimento de 30% em relação ao início do ano letivo de 2015. De acordo com ela, este aumento é o maior registrado nos últimos anos. Além disso, acrescenta que todas as turmas receberam novos alunos, mas a grande maioria deles foi para o ensino fundamental e educação infantil.

Cristiane ressalta que há alunos de outros municípios e alguns que saem de escola pública, mas a grande maioria é oriunda de escolas particulares. Ela inda acrescenta: “A gente sabe que a crise existe e que nós temos que ficar sempre atentos. Mas também temos que fazer o nosso trabalho da melhor qualidade possível.”

 Vale a pena?

Para o economista Carlos Giasson, investir em escolas particulares vale a pena, pois, muitas vezes, escolas públicas enfrentam problemas de estrutura e há situações em que os professores fazem greves, o que, segundo ele, prejudica o aluno. “Sou de uma geração em que a escola pública competia com as particulares, mas se for analisar os exames do Ministério da Educação, os melhores desempenhos estão com os alunos de escola particular”, comenta. Para ele, tirar o filho de uma escola privada trata-se de uma decisão muito pessoal e ocorre quando a família de fato se encontra em uma situação financeira desfavorável.

Na opinião do economista, o valor da mensalidade pesa no bolso. “Os reajustes que vemos nas escolas são altos, acima da inflação. Com isso, se perde demais no orçamento familiar e acaba ficando caro manter um filho em uma escola particular”, reforça. Se as escolas particulares tendem a perder mais alunos, isso depende, segundo ele, da economia brasileira. Ainda acrescenta: “é possível, sim, que piore antes de começar a melhorar.”