Do potencial dos atletas a uma pista de atletismo com destaque estadual

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Por Juliana Bencke e Taís Fortes

Foi por acreditar na capacidade dos atletas de Mato Leitão, que, mesmo sem as condições adequadas para treinar, já se dedicavam à prática esportiva, que a Administração, que tinha João Aurélio Wildner (já falecido) como prefeito e Carmen Goerck como vice-prefeita, buscou recursos para construir a Pista de Atletismo João Carlos de Freitas Leitão. O nome é uma homenagem ao colonizador de Mato Leitão.

O complexo esportivo, localizado em anexo à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Santo Antônio de Pádua, em Vila Santo Antônio, no interior do município, foi inaugurado em 28 de abril de 2006. “Sempre digo que aquilo que se planta no pátio de uma escola tem muita chance de dar certo”, justifica Carmen sobre a escolha do local.

A pista foi construída em uma área alagadiça, que não podia ser usada para outra finalidade, e contou com aporte financeiro de R$ 50 mil da extinta Fundação de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul (Fundergs). O restante do valor foi contrapartida da Prefeitura.

Segundo Carmen, que na época também ocupava o cargo de secretária de Educação, Cultura e Desporto, ainda em 2002, o Município havia criado as Mini Olimpíadas Estudantis (MOE), justamente porque percebia nos alunos de Mato Leitão o desejo de praticar esportes. Antes da pista ficar pronta, as provas eram disputadas no campo de futebol dos Santos, também em Vila Santo Antônio.

Foi a dedicação dos atletas, que apenas tinham o apoio das famílias e das escolas, que inspirou a Municipalidade a buscar um local adequado para a prática do atletismo. Na época, o Executivo também firmou uma parceria com a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), que disponibilizou um estagiário para atuar nas atividades.

“Foi uma obra muito trabalhosa e emocionante. Me orgulho muito e falo com emoção de cada etapa que a envolve.”

CARMEN GOERCK

Vice-prefeita de Mato Leitão na época da construção da pista

Destaque estadual

Após a inauguração, a pista de atletismo de Mato Leitão sediou o primeiro evento estadual, em 2007, quando recebeu a etapa final dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs). “Nos tornamos a capital do atletismo do Rio Grande do Sul. A pista foi palco para vários atletas de Mato Leitão e também recebemos autoridades de várias instituições do Brasil”, relembra Carmen.

Para a ex-prefeita da Cidade das Orquídeas, a pista também contribuiu para o aumento da autoestima e o desenvolvimento do município, especialmente de Vila Santo Antônio. “A maior obra está nas pessoas. Um município é admirado pela sua gente e buscamos dar oportunidade para os nossos estudantes”, afirma.

Ela também lembra que a pista teve grande repercussão regional, tanto que era ‘emprestada’ para que a Prefeitura do município-mãe, Venâncio Aires, realizasse atividades. O projeto da pista atlética de Mato Leitão, inclusive, partiu de uma ideia da Capital do Chimarrão que ainda não havia sido executada e foi recuperada para ser colocada em prática, com ajustes, na Cidade das Orquídeas.

Carmen também menciona que, paralelamente à construção da pista, o Município instalou um programa com oficinas aos alunos no turno oposto da aula, que mais tarde se tornaria o tempo integral.

Ela também enfatiza que o objetivo da Administração Municipal da época era oferecer condições iguais para que os estudantes de Mato Leitão pudessem competir com alunos de outros centros educacionais. “Nós tínhamos potencial humano. Defendíamos o esporte de inclusão, com condições adequadas para que os nossos atletas fossem eficientes nas suas capacidades, além de trabalhar a autoestima deles.”

O mato-leitoense que conquistou o ouro do Sul-americano

Felipe com o treinador Diego Konrad, após a conquista da medalha de ouro no Jergs, em 2004. (Foto: Arquivo Pessoal)

Assim como a pista de atletismo de Mato Leitão virou referência, o município ficou reconhecido por conta do desempenho de atletas da Cidade das Orquídeas. O nome de maior destaque foi Felipe Mathias Weber Hickmann, hoje com 30 anos. Em 2010, ele conquistou a medalha de ouro do salto em altura no Campeonato Sul-americano, em Uberlândia, São Paulo.

No mesmo ano, disputou a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Singapura. “Foi algo muito marcante, pois foi a oportunidade de competir com os melhores do mundo. Passei um mês em Singapura”, recorda. Nessa época, Hickmann já era atleta da Sogipa, em Porto Alegre, equipe que passou a integrar em 2009, após se destacar em âmbito estadual.

No entanto, tudo começou no campinho em frente à Escola Santo Antônio de Pádua (SAP), onde o mato-leitoense estudava, em 2003. Foi nas competições escolares que o menino 10 anos foi descobrindo a habilidade para o salto em altura. Na época, treinava uma vez por semana, no contraturno da escola. “Minha altura me favoreceu e também tive o incentivo do treinador Diego Konradt, que enxergou esse potencial”, comenta Hickmann, que tem 1,98 metro

Em 2003, conquistou os Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs) pela primeira vez, feito repetido em 2004. “Comecei a me destacar nas provas de campeonatos escolares e a partir disso fui convidado pela Sogipa para ir para Porto Alegre, em 2009, aos 16 anos. Considero essa como a minha segunda fase, quando alcancei projeção nacional”, afirma.

No início de 2012, após uma fratura no tornozelo, Hickmann decidiu encerrar a carreira esportiva para focar na trajetória acadêmica. Engenheiro agrônomo, ele reside em Quebec, no Canadá, há um ano, onde faz doutorado na área de produção animal sustentável – aves e suínos. Ele explica que o doutorado é dividido entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Université Laval, onde deve permanecer até 2024.

Importância da pista

Embora tenha começado a se destacar no atletismo antes da existência do complexo esportivo, Felipe Hickmann considera que a pista contribuiu por oferecer uma estrutura adequada para os treinos. “Com a pista, no salto em altura, pudemos começar a usar o colchão, o que possibilita cair de costas e saltar mais alto”, explica.

Ele também ressalta o apoio que a Prefeitura oferecia aos atletas, inclusive com transporte para competições em outros municípios. “Algo importante que a pista possibilitou também foi a realização de vários eventos de atletismo no município”, observa.

Melhorias na pista e incentivo à prática são projetos para este ano

O uso da pista atlética, que se tornou referência na região, deve ser intensificado neste ano, conforme o prefeito Carlos Bohn. De acordo com ele, estão concluídos dois projetos importantes: a construção de arquibancadas na pista atlética e a instalação de iluminação na pista e no campo de futebol, viabilizados através dos Programas Estruturação de Espaços Esportivos e Ilumina/RS, ambos do Governo do Estado. “Faltam ainda alguns reparos e melhorias na pista, nos equipamentos e instalações, para deixar tudo novamente em excelentes condições de uso para atividades escolares, competições e comunidade”, esclarece.

Além disso, ele destaca que a prática de atletismo vai ser fomentada, neste ano, tanto nas atividades curriculares quanto em escolinhas e projetos. Um das novidades será um profissional exclusivo para atuar na área. “Haverá transporte dos alunos e toda estrutura para viabilizar a participação dos estudantes”, comenta Bohn.

Outra ação ressaltada pelo chefe do Executivo é que a Cidade das Orquídeas também buscará a habilitação para sediar competições regionais e estaduais, como por exemplo, finais estaduais dos Jogos Estudantis do Rio Grande do Sul (Jergs), modalidade atletismo, como já ocorreu em anos anteriores.

“A prática de atletismo passa a ser intensificadas neste ano, nas atividades curriculares, escolinhas e projetos, inclusive com profissional exclusivo, envolvendo alunos das escolas municipais e o Colégio Poncho Verde. Deveremos também nos habilitar a sediar competições regionais e estaduais, como já sediamos em duas oportunidades.”

CARLOS BOHN

Prefeito

    

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