Geovane Griesang, 44 anos, começou a correr de forma despretensiosa, uma década atrás. A intenção era perder uns quilos e entrar em forma. Mas o professor de Informática gostou de correr. Com os resultados positivos em competições, descobriu que tinha potencial para provas de resistência, em percursos de longa distância, para ultramaratona. Foi assim que o esporte se tornou coisa séria.
Em março deste ano, ele atingiu o recorde pessoal, ao completar o percurso de 460 quilômetros, na Cassino Ultra Racer. Foram 89 horas de corrida, em um percurso de ida e volta do Chuí ao Cassino. Mais do que uma conquista individual, colocou o nome de Venâncio Aires na história das ultramaratonas: foi o primeiro homem a completar a prova, realizada há quatro edições – até então, apenas uma mulher havia conquistado o feito.
Para Griesang, que é o diretor do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) de Venâncio Aires, correr é um hobby encarado com a mesma seriedade, organização e comprometimento do trabalho: treinos de cinco a sete vezes por semana, preparo físico e mental, academia e nutricionista. “Para ser um atleta tem que ter compromisso. Por isso nunca falto a um treino, independente se estiver chovendo ou frio, ou mesmo se estiver em outra cidade”, salienta.
Em viagens profissionais, que são comuns para ele, é natural madrugar para correr alguns quilômetros, a exemplo do que faz em Venâncio Aires, tanto na área urbana quando no interior. Morador do bairro Bela Vista, ele percorre, especialmente, regiões próximas como Linha Hansel, Tangerinas e o bairro Santa Tecla. Quando o treino é de altimetria, corre em localidades como Marechal Floriano e Monte Belo. Por semana, são 120 quilômetros percorridos.
Griesang observa que Venâncio Aires tem se destacado na corrida, com muitos adeptos da modalidade e expoentes como Roberto Wessling e Gabriel Kretschmer, que tem o melhor tempo em maratonas. Para ele, é uma alegria acompanhar novos atletas se desafiando na corrida. “Servir de inspiração para outras pessoas é gratificante.”
Desafios e determinação, em 89 horas de ultramaratona
A ultramaratona Cassino Ultra Racer foi realizada em duas etapas de 230 quilômetros pelas areias das praias – ida e volta, do Chuí ao Cassino, totalizando 460 quilômetros. Foram 89 horas de corrida e 15 de descanso. Durante a maior parte do percurso, o venâncio-airense Geovane Griesang correu ao lado do santa-cruzense Júlio César Becker, que fez 365 quilômetros. Eles encararam chuva, frio e temporal, além de outros imprevistos ao longo da prova.
“O potencial não é na velocidade, mas na resistência. Tem que estar bem preparado fisicamente, mas principalmente com o mental”, afirma Griesang. De acordo com ele, uma das estratégias é desfocar do local onde está e pensar em outras coisas, já que passa horas sozinho, sem ver ninguém. Em postos de comando situados ao longo do percurso, ele também trocou de roupa e se alimentou. No intervalo de descanso, Griesang e o amigo contaram com apoio de uma equipe de apoio profissional, com nutricionista e fisioterapeuta. Na opinião do venâncio-airense, foi um diferencial que contribuiu para que ele completasse a prova. “Valeu muito a experiência de ter a equipe. Me senti um atleta profissional”, brinca.

De acordo com ele, entre os principais desafios de participar das competições está ficar longe da esposa Taciane Alves Figueirola e das filhas Gabriela, 9 anos, e Rafaela, de 1 ano, além de conciliar com as atividades profissionais. No entanto, sonha em participar, no futuro, de competições como a 1000 km Brasil, em Minas Gerais, e a Terra de Gigantes, em Portugal. Além disso, prepara-se para a Vaca Backyard Ultra, em Porto Alegre, no segundo semestre deste ano. Em 2024, sagrou-se vice-campeão, entre os 15 melhores brasileiros, com 340 quilômetros percorridos, em 51 voltas.