Aumenta a procura por erva-mate para consumo do tereré

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O gaúcho sempre foi acostumado a tomar chimarrão durante todo o ano, seja inverno ou verão. Porém, de alguns anos para cá, uma nova bebida vem se popularizando na estação mais quente do ano. Pode ser consumida com água ou sucos in natura bem gelados, e a erva-mate pode ser pura ou de variados sabores que trazem refrescância. O tereré já é o ‘queridinho’, principalmente, dos mais jovens.

O sócio-proprietário do Paradouro Biomate, em Mato Leitão, André Ricardo Franceschi, percebe que a procura pela erva de tereré, em geral, aumentou nos últimos três anos no Sul do país. Em estados como Santa Catarina e Paraná, o consumo já era maior. O público que tem mais adesão à bebida são os jovens, e Franceschi informa que isso não prejudica o consumo do chimarrão, que ainda se mantém no dia a dia do gaúcho. “O tereré é democrático, refrescante e, quanto mais gelado, melhor”, complementa. O paradouro, inaugurado em setembro de 2020, tem como objetivo ser um ponto de vendas da erva-mate Biomate e também comercializa itens relacionados às bebidas típicas.

Ervateiras

Proprietário da ervateira Biomate, Donato Roni Dreissig conta que a marca lançou sua linha de erva-mate para tereré em dezembro de 2020 e, desde lá, a venda é satisfatória. Nos tempos vagos de produção da ervateira, a equipe da Biomate faz o empacotamento de outras 16 ervateiras. Dessas, dez não possuíam a erva para tereré, mas já aderiram ao produto. Hoje, a ervateira de Dreissig oferece oito opções de erva-mate para tereré, inclusive com açaí e melão. O proprietário relata estar satisfeito com o bom número de vendas. “O tereré entra como curiosidade, mais comum em jovens com idade entre 15 e 25 anos. Já nas famílias tradicionais, a proporção de consumo é reduzida”, salienta.

De acordo com o sócio-diretor da ervateira Elacy, Gilberto Luiz Heck, a venda da erva-mate específica para tereré tem aumento de 40% entre os meses de setembro e março, período em que a bebida é mais consumida. A ervateira tem cinco variações da erva para tereré. Heck destaca que o sucesso da bebida entre o público mais jovem se dá, principalmente, pela versatilidade, inovação e criatividade que a bebida oferece. Ele argumenta que a adesão ao tereré ainda é menor na região Sul se comparada ao restante do país, pois os gaúchos intercalam o chimarrão e o tereré nos momentos do dia.

O diretor da ervateira Madrugada, Lucio Metzdorf, confirma o aumento significativo das vendas da erva-mate para tereré, entre novembro e março. Neste ano, especificamente, projeta crescimento de 30%, comparando ao mesmo período do ano passado. Metzdorf também comenta que o público consumidor é o mais jovem. “Os mais velhos ainda resistem para substituir o chimarrão”, explica. A Madrugada possui hoje duas opções de erva-mate para tereré, a tradicional pura e outra com adição de limão.

Granulometria: a diferença entre as ervas de chimarrão e tereré

Diretor executivo do Instituto Escola do Chimarrão, Pedro Schwengber reforça que a erva-mate do chimarrão e do tereré é a mesma, o que diferencia as duas é o processo de granulometria, em que o chimarrão possui mais folha do que palito em sua composição, tornando-a mais amarga, enquanto a do tereré é equilibrada nesse quesito, gerando um sabor mais suave. “A erva-mate é considerada a planta mais completa em nutrientes do mundo. Tem tudo que nosso organismo precisa e faz muito bem à saúde”, completa.

De acordo com Schwengber, antes a erva-mate para tereré era envelhecida, mas foi sendo inovada e saborizada, além de receber ervas mais novas, o que ajuda no impulsionamento da bebida. A região Sul do país (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) é a maior produtora de erva-mate do Brasil – do mundo, é a Argentina, mesmo sem nenhuma planta nativa. Schwengber sugere que a melhor erva-mate para tereré é produzida em Venâncio Aires, já para chimarrão o melhor produto está no Paraná.

Pedro Schwengber, que antes mostrava resistência à bebida, agora já prepara o seu preferido, com erva-mate pura e suco de limão natural
Pedro Schwengber, que antes mostrava resistência à bebida, agora já prepara o seu preferido, com erva-mate pura e suco de limão natural

Consumo

Sobre o consumo das bebidas, o líder da Escola do Chimarrão explica que são duas pirâmides que se invertem: enquanto no chimarrão, os gaúchos estão na base, representando a maioria do público consumidor, para o tereré, estão na ponta, ficando depois de Paragrai e Mato Grosso, maiores consumidores da bebida. Para se ter uma noção, o valor por pessoa no consumo do tereré no Mato Grosso subiu de R$ 5, em 1980, para R$ 25, em 2005.

O consumo da erva-mate já é datado de 3.000 anos, com estudo de ampliação para 7.000 anos. A bebida chimarrão tem aproximadamente 500 anos de história, e o tereré, 300 anos. O início do tereré, conforme Schwengber, foi na Guerra do Chaco, da Bolívia contra o Paraguai, entre os anos de 1932 e 1935. Na época, os soldados do Paraguai já tinham o hábito de tomar o chimarrão, porém ali, no cenário de guerra, não tinham fogo para aquecer a água, e resolveram tomar a bebida fria mesmo: surgiu então o tereré.

História

Para ampliar o conhecimento sobre o surgimento e a história do tereré, a reportagem da Folha do Mate ouviu o engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Rubens Silvestrini, que há 40 anos iniciou o hobby de colecionar peças e artigos de chimarrão e tereré. Mais tarde, quando fez seu mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), se interessou ainda mais pela erva-mate e o chimarrão, bebida irmã do tereré.

Começou a estudar o assunto e visitou os estados de Santa Catarina e Paraná, pesquisando a parte botânica e vegetativa da erva-mate. Em janeiro de 2014, o professor esteve em Venâncio Aires e conta ter tomado tereré com Pedro Schwengber sob um calor de 39º graus. Em Mato Grosso do Sul, Silvestrini fala que costumam tomar o mate (bebida quente) nos dias de frio.

Silvestrini explica ainda que por mais que digam que a origem das bebidas com erva-mate seja paraguaia, há 7.000 anos, os índios já consumiam bebidas com a planta caá-yari, que é a erva-mate. Hoje, a cidade que mais consome tereré é Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. A erva-mate possui 190 princípios ativos descobertos.

É tererê ou tereré?

• O professor Rubens Silvestrini explica que o tererê, com o acento circunflexo, é de origem espanhola. Formato que também era adotado no Paraguai e se espalhou em algumas regiões do Brasil, como no Rio Grande do Sul. Já o tereré, com acento agudo, é a forma aportuguesada e correta do nome da bebida no Brasil. É falado assim no Mato Grosso do Sul e na região Centro-Oeste do país.

O hábito do tereré nas famílias Mello e Martins

A estudante de Direito, Kauana Andriele de Mello, 22 anos, e o militar Jhonny Francisco Martins de Lima, 23 anos, já aderem à bebida refrescante do tereré, mas não abandonam por nada o tradicional chimarrão. Kauana conta que na sua família não tinham o costume de terem ervas e cuias específicas para a bebida. “Fazíamos com a erva normal de chimarrão e na cuia de porongo mesmo, inclusive com a mesma bomba do chimarrão”, comenta.

Foi somente depois, quando iniciaram o namoro e começaram a morar juntos, que Jhonny mostrou o caminho correto. “Na família dela ninguém tinha o costume de fazer dessa maneira”, reforça. A partir de então, adotaram uma cuia, bomba e térmica próprias para o consumo do tereré.

No verão, e agora também período de férias do casal, costumam beber o tereré pela manhã, à tardinha e nos momentos de lazer na piscina. Mas declaram que em um momento do dia, pelo menos, o chimarrão também ganha espaço. Além dos dois, a família toda adere à bebida gelada, que preparam com suco industrializado e erva-mate de tererê com menta.

Kauana e Jhonny tomam o tereré durante as manhãs e no fim do dia
Kauana e Jhonny tomam o tereré durante as manhãs e no fim do dia

Dicas importantes

• O chimarrão é geralmente consumido em uma cuia de porongo, porém não é indicado consumir a bebida tereré em uma cuia desse material, pois o gosto é absorvido e, após, demora para sair. O gosto não ficará agradável, principalmente se usar a mesma cuia para as duas bebidas.

• O indicado é consumir o tereré em cuias feitas de guampas de boi ou sintéticas ou copos metálicos, que ajudam a manter a bebida gelada.

• A quantidade de erva-mate deve ser de 2/3 (dois terços) do recipiente, pois a erva de tereré tem o efeito de inchar ao entrar em contato com a água gelada.

• Tenha cuidado ao utilizar sucos industrializados para a produção da bebida, devido à grande quantidade de açúcar que pode afetar uma pessoa diabética. O mais indicado é usar qualquer suco que seja natural ou até mesmo a água bem gelada.

• Experimente tomar o tereré apenas com água bem gelada, ou ainda com folhas de hortelã, pedaços de frutas e especiarias do seu gosto. Quanto mais gelo você colocar, melhor seu tereré vai ficar.

Como preparar

1 Tenha em mãos uma erva-mate e cuia específicas para tereré.

2 Prepare uma água ou suco bem gelado, natural ou industrializado, podendo também colocar especiarias.

3 Coloque no copo ou cuia que separou, ¾ (três quartos) de erva tereré.

4 Após, coloque a bomba até o fundo do copo.

5 Adicione gelo e a bebida gelada. Está pronto!

6 Uma dica: aos que fazem questão do chimarrão mesmo nos períodos de muito calor, experimente colocar uma colher de sopa de erva-mate tereré ou composta com menta junto na produção da bebida. Além de refrescante, fica com um ótimo aroma!

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Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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