Em liquidação extrajudicial desde julho do ano passado, a Cooperativa Languiru, com sede em Teutônia, ainda busca colocar as peças no lugar para sobreviver à crise financeira que impacta a empresa. A dívida atual é de R$ 1.084.000.000 e a principal mensagem do presidente liquidante, Paulo Roberto Birck, está relacionada ao posicionamento de continuar acreditando na entidade.
Em entrevista ao programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM 105.1, na segunda-feira, 15, ele informou que no último ano a cooperativa focou as energias na reorganização das atividades que continuarão sendo desenvolvidas pela Languiru: leite, aves e a fábrica de rações. Nesse contexto de reformulação, houve redução das lojas no segmento Agrocenter e a descontinuidade do trabalho com suínos.
“Não foi fácil fazer mais de 2,6 mil desligamentos de colaboradores. Já foram pagos R$ 29 milhões em rescisões trabalhistas neste último ano e ainda temos um saldo de pouco mais de R$ 4 milhões. Com as rescisões chegando no final, começamos a ter outro cenário e, por isso, fizemos a assembleia na semana passada”, mencionou Birck.
No encontro realizado na quinta-feira, 11, foi aprovada a prorrogação do procedimento de liquidação extrajudicial da Languiru e o Plano de Pagamento dos Credores, além de outros temas. Desta forma, a partir de agora, os esforços da cooperativa estão direcionados para o enfrentamento da dívida.
“Apuramos no último ano a lista final de credores. A cifra da dívida da Cooperativa Languiru é R$ 1.084.000.000”, ressaltou o presidente liquidante. De acordo com ele, esse montante envolve valores em aberto com associados, fornecedores e agentes financeiros, como bancos e fundos.
Plano de pagamento da dívida com credores

Durante a entrevista à Terra FM, Birck esclareceu as diferenças entre um processo de recuperação judicial e de liquidação, esse último adotado pela Cooperativa Languiru. “Dentro de uma recuperação judicial quem recebe primeiro são trabalhadores. Depois, agentes financeiros e o produtor associado é o último. Na liquidação extrajudicial todo mundo recebe de forma igualitária, mas é preciso aderir ao plano.”
Nesse sentido, ele enfatizou que o associado e outros credores da Languiru precisam fazer contato com a cooperativa para encaminhar o processo, o que pode ser feito pelo site liquidacao.languiru.com.br. Os pagamentos serão trimestrais. O primeiro, com as sobras de julho, agosto e setembro, será feito em 10 de outubro. “Para fazer parte dessa rodada de pagamento o credor precisa fazer a adesão ao plano de pagamento”, reforçou.
Além disso, ele detalhou que a cooperativa fez a divisão das sobras trimestrais em quatro cenários: 40% do valor para aqueles que tenham garantia real, como hipoteca e penhora; 25% para quem tem a receber até R$ 1 milhão; 15% para os credores que têm valores a receber acima de R$ 1 milhão; e 20% para tornar possível a realização do chamado leilão reverso, que contempla quem propor um desconto maior.
“Cada credor vai se habilitar na faixa que se enquadrar e todo fim de trimestre será divulgado o extrato com o saldo que é possível ser utilizado”, explica. Para chegar nesse formato, a Cooperativa Languiru contou com a assessoria da Markestrat Group, de São Paulo. “Contratamos a empresa para nos dizer se há viabilidade de recuperação”, salientou o presidente liquidante.
Três cenários para a recuperação
A empresa paulista criou três cenários para esse processo. Um deles tem como base a situação atual da cooperativa, que envolve o abate próprio de 25 mil aves por dia e captação mensal de seis milhões de litros de leite. “Aplicando uma negociação da taxa de juro seriam necessários 30 anos para pagar a dívida. Mas é viável”, afirmou.
Em um contexto intermediário, que levaria 11 anos para quitar os valores em aberto, a cooperativa precisará chegar a 40 mil aves abatidas ao dia e 7,5 milhões de litros de leite. Já em um ambiente de crescimento, no qual será necessário chegar ao abate de 75 mil aves por dia e 10 milhões de litros de leite ao mês, serão necessários entre sete e oito anos. “É o que buscamos”, enfatizou Birck.
Associados da Languiru
- No ano passado, a Cooperativa Languiru tinha 5,5 mil associados. Agora, são 5.376, mas muitos desses não entregam mais produção para a entidade. “Precisamos fazer o resgate dessa produção, porque é através dela que conseguiremos gerar caixa, melhor faturamento e enfrentar a dívida. Se todo mundo pensar em sair da cooperativa, não adianta ficar somente como associado. É preciso confiar na cooperativa”, ressaltou o presidente liquidante, Paulo Roberto Birck.
Saiba mais
- 730 era o número de colaboradores da Cooperativa Languiru no início de junho. Agora, com a ativação do segundo turno de abate no Frigorífico de Aves Westfália, foram contratados mais 200 funcionários. O local tem abatido 25 mil frangos da própria Languiru e 125 mil por meio da parceria com a JBS.
Cooperativa Languiru não pretende retornar com a suinocultura
Na semana passada, a Folha do Mate divulgou reportagem com situação de suinocultores de Mato Leitão, que estão há mais de um ano sem alojar, após a Languiru interromper o trabalho no segmento. De acordo com o presidente liquidante da Cooperativa, Paulo Roberto Birck, não há perspectiva de retomar as atividades do setor. “Continuamos no mesmo posicionamento de não retornar com a atividade da suinocultura, porque não vamos ter força para isso”, afirmou durante o programa Terra em Uma Hora, na última segunda-feira.
De acordo com ele, o ciclo do suíno é muito longo e, para trabalhar com o segmento, é necessário ter muito capital de giro. “São sete meses que é preciso fornecer ração. Por isso, saímos do segmento suíno. É uma cadeia muito longa”, detalhou.

Sobre a negociação com a Seara/JBS para a venda da planta do Frigorífico de Suínos, em Poço das Antas, Birck informou que uma reunião de alinhamento foi realizada nesta semana. Entretanto, ele lembra que essa não é uma negociação fácil, porque a cooperativa tem dívidas referentes a fornecedores e maquinários da estrutura. “Ninguém compra com chance de herdar as dívidas.”
Apesar desse cenário ainda nebuloso, o presidente liquidante garante que as conversas e tratativas com a empresa continuam. “A JBS continua mantendo interesse e visitando os associados. Buscamos agilidade porque sabemos que tem um número grande de associados que estão parados, desde abril do ano passado, e que eles têm seus investimentos. Esperamos nos próximos um ou dois meses conseguir alinhar isso e voltar, pelo menos, com os abatimentos no frigorífico de suínos e possibilitar aos produtores voltarem a alojar”, projetou.
Ativos da Cooperativa Languiru
- Além do frigorífico de suínos, a Cooperativa Languiru tem outros ativos que busca vender, como o Centro de Distribuição e várias áreas de terras, que foram adquiridas ao longo dos anos pela cooperativa. “Isso é importante para enfrentar parte da dívida e para rentabilizar e incrementar mais as produções”, observou o presidente liquidante, Paulo Roberto Birck.