Nos últimos meses, depois do incêndio, em 17 de março, que destruiu a fábrica da Beira Rio – maior empresa de Mato Leitão – a busca por empregos aumentou, na Cidade das Orquídeas. Enquanto algumas pessoas encontram oportunidade de trabalho em empresas locais que iniciam ou expandem atividades, outras se deslocam para outros municípios para trabalhar.
Frigoríficos de Lajeado, como Minuano e BRF, e a indústria de confecções Dass, de Venâncio Aires, estão entre as empresas que realizaram seleção de profissionais de Mato Leitão, recentemente. A Secretaria Municipal de Assistência Social atua na intermediação, com o objetivo de auxiliar quem está desempregado.
“Até o ano passado, fazíamos esse trabalho, mas com foco no Jovem Aprendiz, com oportunidades para os adolescentes, e para algumas mulheres que atuavam na safra do tabaco, em indústrias de Venâncio Aires. Até então, não se tinha falta de emprego. No entanto, neste ano, intensificamos este trabalho de intermediação de mão de obra e agora as empresas também passaram a buscar”, explica a secretária Eunice Heuser.
De acordo com ela, para divulgar o recrutamento para as vagas, a Prefeitura utiliza redes sociais e também distribui cartazes em pontos estratégicos, como supermercados, farmácias e posto de gasolina. “Buscamos auxiliar nesta intermediação. Algumas empresas realizam o cadastramento das pessoas na Seubv. Umas fazem entrevistas na hora, outras recebem os currículos e depois chamam.”
Ela cita que parte das empresas, inclusive, disponibiliza transporte para que os mato-leitoenses possam se deslocar até o trabalho. É o caso da CTA – Continental Tobaccos Alliance, de Venâncio Aires. Atualmente, a indústria conta com cerca de 30 colaboradores de Mato Leitão.
Embora não divulgue o número, a Alliance One também tem diversos funcionários de Mato Leitão. É o caso do morador de Vila Santo Antônio, Alexandre José Fagundes da Silva, 42 anos, que trabalha há 15 anos na Alliance.
Antes disso, o operador de empilhadeira atuou durante 10 anos na Universal Leaf Tabacos. Ele conta que, na época que ingressou no mercado de trabalho, o pai já trabalhava na empresa do município vizinho e havia vagas no local.
Silva trabalha durante o período da safra, o que, normalmente, significa entre oito e nove meses a cada ano. No início, ele trabalhava na Diária (das 7h30min às 17h), mas atualmente, o horário que está cumprindo é das 10h às 20h30min. Ele vai até o trabalho com transporte disponibilizado pela empresa. Como o ônibus faz um roteiro antes de chegar da empresa, o morador de Mato Leitão sai de casa às 9h e retorna por volta das 21h15min. “A gente se acostuma com os horários”, comenta.
Empresas locais fomentam empregos
Apesar dos reflexos da suspensão das atividades da Beira Rio, o prefeito Carlos Bohn ressalta que, além das empresas de fora do município que buscam profissionais na Cidade das Orquídeas, várias empresas locais surgiram, se expandiram e aumentaram postos de trabalho.
Ele cita que, desde 2017, foram concedidos 18 incentivos industriais. “Em breve, teremos 20 empresas que receberam o incentivo. Tudo isso reflete em geração de emprego. O momento é complicado mas, aos poucos, iremos superá-lo e a situação vai se restabelecer.”
Na análise do prefeito, quando os empregos são oferecidos na própria cidade, isso contribui para o fortalecimento da economia. “As pessoas preferem trabalhar no município, e quando elas atuam no local, fortalecem as empresas, compram no comércio e a economia gira.”
Seno Köester, 59 anos, é funcionário da Ditlanta Distribuidora, uma das empresas que recebeu incentivo industrial nos últimos anos e está ampliando a estrutura. Ele sempre conseguiu trabalhar no município, porém, conhece muitas pessoas que saem do local por falta de oportunidade.
O profissional observa que, depois do fechamento da Beira Rio, a situação piorou. “Agora vejo mais desemprego da população e mais busca por empregos em cidades vizinhas, assim, muitas vezes, as pessoas acabam saindo de Mato Leitão.”
Para ele, é muito bom trabalhar próximo de casa. “É bom poder voltar todos os dias também, pois vejo que muitas pessoas não conseguem isso e precisam ficar a semana longe da família para trabalhar”, comenta o motorista, que faz rotas diferentes pelo estado, mas dificilmente passa a noite fora de casa.
Busca por vagas: via de mão dupla
O coordenador da agência da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS) e do Sistema Nacional de Empregos (Sine) de Venâncio Aires, Adriano da Costa, afirma que, depois do desligamento de centenas de funcionários da Beira Rio, os mato-leitoenses passaram a procurar mais a unidade, em busca de emprego.
“Como Mato Leitão não tem Sine, a agência de Venâncio acaba contemplando o município. Temos bastante procura. Ao mesmo tempo, temos empresas de Mato Leitão que também nos procuram em busca de profissionais para as vagas”, comenta.
Entre elas, está a JDL Equipamentos. De acordo com o proprietário Nilson Dahmer, dos 14 funcionários, apenas três são de Mato Leitão. Os demais, são de Venâncio Aires, Lajeado e Estrela.
“Ao mesmo tempo que sai muita gente do município para trabalhar, muita gente vem de fora. Mato Leitão tem vagas, mas muitas vezes faltam profissionais. A dificuldade é conseguir pessoas que queiram aprender e trabalhar”, enfatiza Dahmer.
As vagas de torneiro mecânico, soldador e mecânico de montagem estão entre as que apresentam dificuldade para serem preenchidas na empresa, que projeta e fabrica equipamentos industriais e tem como principal cliente o grupo JBS. “Nosso maior foco são os projetos dos equipamentos. Desenvolvemos os equipamentos, mas terceirizamos a mão de obra de corte, dobra e usinagem, em Lajeado, Estrela, Caxias do Sul e São Paulo”, explica o proprietário da JDL.
* Colaboraram Eduarda Wenzel e Taís Fortes
