Deixar o país natal, seja pelo motivo que for, sempre causa apreensão e dúvidas. Quando a decisão é a única oportunidade para garantir a sobrevivência, a situação é ainda mais complexa. Além de se adaptar em outra ‘terra’ e buscar oportunidades, os migrantes veem em Venâncio Aires uma chance de dar a volta por cima na vida e ajudar os parentes distantes. A maioria deles é de venezuelanos.
Capital do Chimarrão já recebeu mais de 1,3 mil migrantes
O mês de junho é marcado por celebrações e ações especiais em todo o país, principalmente entre os dias 15 e 22 de junho, quando ocorre a Semana do Migrante no Brasil. Em Venâncio Aires, conforme dados da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Social, mais de 1,3 mil migrantes já buscaram o setor. A maioria de venezuelanos, cubanos e haitianos, e ainda há chilenos, argentinos e peruanos, em menor número.
No entanto, segundo a secretária Camilla Capelão, nem todos buscam a pasta ou o Cadastro Único (CadÚnico), o que pode causar uma subnotificação. Por exemplo, um estudo do Governo do Estado, em janeiro de 2025, baseado apenas em inscrições no CadÚnico, aponta para 989 estrangeiros em Venâncio Aires, com um total de 896 venezuelanos.
Oportunidades
Nesta semana, as agências da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS) realizaram um feirão de vagas para migrantes e refugiados. Em Venâncio Aires, o coordenador Fernando Freda ressalta que, semanalmente, ocorre o atendimento de muitos estrangeiros, então não houve alteração no calendário. “Sempre há empresas daqui e de municípios vizinhos que vêm até nós para realizar entrevistas com oportunidades para os povos migrantes”, afirma.
O Frigorífico Kroth, de Vila Santa Emília, é um dos que mais contrata migrantes no município. Conforme o supervisor contábil Hugo Alex Barden, são cerca de 100 a 110 estrangeiros que trabalham na empresa. “Estamos com essa política de inclusão há mais de cinco anos. É uma forma de suprir a falta de mão de obra que vivemos”, explica.
Destes, aproximadamente 95% são venezuelanos e as principais vagas no Kroth são para os setores de produção e manutenção. Cerca de 20% do total de empregados no setor de produção é de migrantes. “Notamos diferenças culturais, em especial na relação empregado e empresa, nas oportunidades no setor e a segurança do emprego, que eles não têm fora do Brasil”, diz Barden.
Além disso, ele afirma que os imigrantes buscam nas oportunidades uma forma de reconstruir a vida em uma nova casa e, também, ajudar as famílias que seguem nos países de origem.
Busca por uma chance
Há apenas uma semana em Venâncio Aires, o venezuelano Eddy Santiago Ramirez, de 30 anos, já visitou a agência local da FGTAS/Sine para encontrar uma oportunidade. Com familiares na Capital do Chimarrão, ele decidiu vir ao município por conta das dificuldades enfrentadas no país natal. “Não há oportunidades lá. Muitos trabalham em qualquer emprego, apenas para sobreviver” relata. Ele é técnico em Administração e destaca que se mudou para Venâncio Aires em busca de independência e com a expectativa de trabalhar. “Quero ajudar a mim e a minha família”, completa Ramirez.
Entrevistas
• A agência local da FGTAS/Sine divulga o calendário de entrevistas nas redes sociais e, para quem tem dúvidas, é possível entrar em contato pelo WhatsApp (51) 2183-0742. Para participar das entrevistas de emprego, os migrantes devem ter consigo o número do CPF e um dos seguintes documentos de identificação: Protocolo de Solicitação de Refúgio, Documento Provisório de Registro Nacional Migratório (DPRNM), Solicitação de Residência (documento aceito excepcionalmente sem foto), Carteira de Registro Nacional Migratório (CRNM), Registro Nacional do Estrangeiro (RNE) e demais documentos de identificação emitidos no Brasil, tais como Carteira de Trabalho física ou passaporte.
“O nosso objetivo é justamente poder auxiliar todos, principalmente também os povos migrantes. Fazemos esse atendimento humanizado, para auxiliar a inserção no mercado de trabalho, com orientação profissional.”
FERNANDO FREDA
Coordenador da FGTAS/Sine em Venâncio Aires
Empregabilidade dos migrantes
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), até abril de 2025, o saldo de contratações de estrangeiros na Capital do Chimarrão é de 148, com 333 admissões e 185 desligamentos – são 59 homens e 89 mulheres.
O setor que mais contrata é o da produção de bens e serviços industriais, com 127 das 148 vagas totais. A maior fatia das contratações está entre pessoas com 30 e 39 anos, seguido pela faixa etária dos 18 aos 24 anos.
Destes, a ampla maioria tem Ensino Médio completo (76), enquanto apenas seis têm Ensino Superior completo.
A maioria das contratações envolve venezuelanos, com 124 do total do saldo (290 admissões e 166 demissões). A lista também conta com cubanos, haitianos, bolivianos, paraguaios, uruguaios, colombianos e argentinos.
No geral, o acumulado do ano em Venâncio Aires aponta para 8.781 admissões e 4.451 desligamentos, com saldo de 4.330. Sendo assim, 3,4% destes dados equivalem a estrangeiros.
Qual a diferença entre migrantes e imigrantes?
A diferença principal é que migrante é um termo mais amplo, usado para descrever qualquer pessoa que se desloca de um lugar para outro, seja dentro de um país ou entre países. Já imigrante refere-se especificamente a alguém que se muda para um novo país com a intenção de se estabelecer lá.