A suspensão das aulas nas escolas, entre as medidas de enfrentamento do coronavírus, não representou uma interrupção nos estudos para muitos estudantes e professores. Em escolas particulares, universidades e na rede estadual de ensino, as atividades seguem à distância.
Coordenador regional de Educação, Luiz Ricardo Pinho de Moura explica que, na rede estadual, os professores realizam o curso de formação continuada on-line ‘Currículo da Escola Gaúcha’. Os alunos, por sua vez, têm atividades das “aulas programadas não presenciais” em casa. A entrega dos trabalhos, no retorno das aulas presenciais, é o que vai garantir a frequência, pois os dias são considerados letivos.
Segundo o coordenador, como as atividades foram suspensas de 19 de março a 2 de abril, nos dias 17 e 18 os professores repassaram orientações sobre as aulas não presenciais. Conforme a série, a realidade das escolas e dos estudantes, alguns receberam as atividades de forma ‘física’, antes da quarentena. “Não podemos condicionar a ter internet em casa. Por isso, a entrega das atividades também será no retorno à escola.”
Mesmo assim, de acordo com ele, e-mail e WhatsApp estão entre as plataformas utilizadas por muitas escolas para repassar atividades aos estudantes. “Cada aluno recebe atividades da disciplina conforme a carga horária para a qual está matriculado. Diferentes formas foram utilizadas, desde exercícios no caderno e em livros didáticos, até uso de blog e WhatsApp. A 6ª CRE monitora esse trabalho das escolas”, detalha. “De uma maneira à distância, estamos todos na ativa, inclusive a coordenadoria.”
APOIO FAMILIAR
O Colégio Gaspar Silveira Martins é uma das instituições privadas que adotou o ensino a distância, com atividades virtuais para todos os estudantes, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. De acordo com o diretor Tiago Becker, é importante lembrar que as crianças e os jovens não estão de férias e o auxílio das famílias é fundamental para que o estudo prossiga.
“Eles estão em regime de ensino domiciliar e certamente precisarão de apoio das famílias. Os maiores necessitarão de um horário de estudo e um bom local para estudar. Já os menores precisarão de auxílio no desenvolvimento de algumas atividades”, comenta ele, que também ressalta a situação como uma boa oportunidade para o convívio entre pais e filhos.
Rotina de estudos segue sem alterações
Para Vinícius Roberto Reck, 13 anos, a rotina de acordar cedo para estudar não mudou. Todos os dias, quando o alarme toca, ele levanta e toma café, assim como fazia para ir à aula. No entanto, em vez de ir ao Colégio Gaspar, ele liga o computador.
O estudante do 8º ano do Ensino Fundamental conta que essas aulas seguem o mesmo ritmo das presenciais, com todas as disciplinas da escola. “É o mesmo tempo de atividade, inclusive tem hora marcada para entregar as atividades e, às vezes, também preciso mandar fotos do caderno.”
Segundo ele, a disciplina de Educação Física, que exige mais atividade corporal, também está sendo feita de forma EAD. “Nesta semana, o professor mandou vídeo falando sobre postura e dando exercícios. Como tarefa tivemos que fazer fotos ou gravar um vídeo fazendo esses exercícios.”
A mãe, Glória Regina Reck, ajuda ele quando precisa gravar ou fotografar as atividades. “Pelo que vejo, as aulas são muito claras, com o mesmo nível de exigência que tem na sala de aula.” Ela também destaca que até conteúdos novos o menino já teve por aula à distância. “Segue todo cronograma que estava sendo feito. Terá até provas. Claro, com consulta, mas vai ter.”
Organização e disciplina são fundamentais
Enquanto o ensino a distância tem sido novidade para muitos alunos, já é prática comum para instituições como o Centro Universitário Uninter. Com uma unidade em Venâncio Aires há 13 anos, a Uninter é pioneira no EAD do município.
De acordo com a gestora do campus, Maria Lúcia Costa, uma das características do EAD é que o aluno precisa buscar o próprio conhecimento. “Isso o transforma em um autodidata”, observa. Ela ressalta que essa forma de aprendizado não é mais fácil que aulas presenciais. “Muitas vezes, ele se torna mais difícil, o aluno precisa ser regrado, porque se ele não faz, não irá aprender.”
Para os alunos que estão tendo as primeiras experiências com atividades de aula à distância, Lúcia reforça que é importante ter uma rotina. “É importante abrir a plataforma de ensino todo dia, fazer as atividades propostas e também as leituras. Resumindo, ter organização é a chave fundamental.”
Para os professores, ela sugere um ensino prático. “A página usada deve ter bastante ferramentas e ter complementos do assunto com sites e livros. Com mais opções de pesquisa se torna algo bom de fazer.”
“É uma oportunidade para que as pessoas conheçam e percebam que o EAD é ótimo e dá tanto conhecimento quanto o ensino presencial.”
MARIA LÚCIA COSTA – Gestora do campus Uninter
Modalidade é adotada, também, no ensino de idiomas
A Fisk Centro de Ensino também adotou aulas à distância. “Logo que os colégios pararam, começamos o planejamento das aulas on-line, para que os alunos não precisassem interromper o curso. A preocupação foi chegar à casa deles, para que pudessem estudar com conforto e segurança”, diz a diretora da Fisk, Marcia Streich.
Segundo ela, com o material disponibilizado pela escola, as aulas são transmitidas, na maioria, da própria casa dos professores. “O objetivo é que cada aluno tenha o professor, ao vivo, no dia e horário da sua aula. Inclusive a turma infantil, a partir dos 6 anos, tem videoconferência com o professor e também consegue ver os colegas. Eles, que já são desse meio digital, gostaram muito da novidade”, afirma. Além das aulas, os alunos têm possibilidade de acessar jogos e exercícios, na plataforma da Fisk. “Nos dedicamos bastante para que esse ensino à distância acontecesse. O momento é difícil, mas nestas fases a gente se reinventa”, salienta Marcia.
PANORAMA
• Escolas municipais – A secretária de Educação, Alice Theis, explica que o decreto de Venâncio Aires suspendeu todas as atividades nas escolas municipais, por 15 dias, a partir de 19 de março. “Não temos nenhuma atividade on-line, até porque grande parte dos alunos não tem acesso à internet. A recuperação desses dias letivos será conforme legislação determinada pelo Ministério da Educação (MEC).”
• Colégio Gaspar Silveira Martins – As aulas ocorrem por meio da plataforma Google for Education, para estudantes a partir do 5º do Ensino Fundamental. Para estudantes menores, as atividades são encaminhadas para e-mails dos pais. Além do conteúdo disponibilizado aos estudantes, eles produzem tarefas referentes a cada disciplina.
• Colégio Bom Jesus Nossa Senhora Aparecida – Realiza atividades à distância, por meio da plataforma Google for Education, ferramenta que já era utilizada para passar tema de casa aos alunos. Todos os dias, conteúdos de duas ou três disciplinas são postadas em horário de aula, e os estudantes recebem prazos para a entrega.
• Colégio Professor José de Oliveira Castilhos – Oferece atividades à distância, através de meios eletrônicos como plataforma Classroom, e-mail, WhattsApp e videoaulas. Na página do Facebook da escola, a instituição também sugere sites e obras de literatura infanto-juvenis.
• As universidades de Santa Cruz do Sul (Unisc) e do Vale do Taquari (Univates) realizam aulas EAD, bem como o Centro Universitário Uninter. Em ambas as instituições, as atividades presenciais estão suspensas.
*Com colaboração: Eduarda Wenzel