Na próxima segunda-feira, 18, está prevista a volta das aulas presenciais nas Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis) de Venâncio Aires. A data marcará 10 meses de cadeiras viradas sobre as mesas, salas vazias, brinquedos parados e corredores silenciosos. Este é o cenário das escolinhas do município desde março de 2020, quando as aulas foram suspensas devido à pandemia.
Quase um ano depois e com as atuais notícias falando sobre a aproximação de uma vacina, mais de 1,6 mil famílias terão novamente a oportunidade de levar suas crianças para a escola. A expectativa é grande em todos os lados e, a menos de uma semana para a volta, os preparativos seguem.
Na Emei Arco-Íris, por exemplo, a segunda-feira, 11, foi de limpeza e desinsetização. Depois disso, a escola do bairro Aviação vai organizar classes, cadeiras e demais equipamentos. Em tempos de pandemia, também passam a integrar os itens escolares o álcool gel, tapetes sanitizantes, termômetros e as marcações para manter o distanciamento. “Uma coisa é planejar, outra é a prática. Então sabemos que vamos aprender juntos, porque muitas dúvidas podem surgir ou situações que não estão previstas”, apontou a diretora da Arco-Íris, Fátima Conceição Nicolay.
Para ela, que tem experiência de 35 anos com educação infantil, a maior expectativa é sobre o que não pode acontecer com o retorno. “A parte mais difícil é lidar com a saudade, porque não podemos abraçar, tocar, dar aquele carinho que é tão importante. O resto a gente se adapta, mas não poder dar e receber aquele carinho, para a educação infantil, dói muito.”
Impressões
Embora o 2020 foi sem aula presencial, Fátima destacou que os profissionais trabalharam além do normal. “Trabalhamos o triplo e muita gente ainda fazendo comentários absurdos, que não queríamos trabalhar. Não tínhamos horário, porque muitos pais chamavam à noite, quando podiam, e entendemos que precisávamos atender.” No caso dela, era dar conta de 150 contatos de famílias de alunos e 15 grupos de WhatsApp relacionados à escola.
A diretora afirmou ainda que é o momento mais difícil que vive enquanto profissional. “Espero que a vacina venha e que a gente não veja mais escolas sem crianças, sem gritos, sem risadas, sem vida. Claro que temos receios, mas se não abrirmos e experimentarmos, não saberemos como vai ser.”
Organização
Os mais de 140 alunos da Arco-Íris serão divididas e, conforme organização da Secretaria de Educação, uma semana um grupo vai para a escola e outro fica em casa. Na semana seguinte, ocorre o contrário. O horário será o mesmo: das 6h30min às 18h30min.
Segundo Fátima Nicolay, a divisão nas turmas deve ser por ordem alfabética, mas ajustes devem ocorrer quando houver dois irmãos na mesma escola ou em escolas separadas. Nesse caso, o objetivo é que eles frequentem a escola na mesma semana.
Os pais não poderão mais acessar o pátio da escola e farão fila na calçada (já demarcada). Em caso de chuva, na Arco Íris, o acesso será por um corredor coberto que dará em uma porta lateral.
Muitos brinquedos foram guardados e as crianças só terão acesso àqueles de fácil higienização. Cortinas de pano foram retiradas e o bebedouro está lacrado. Cada um levará sua garrafa de água.
Profissionais
Na Emei Arco-Íris, dos 40 funcionários, duas profissionais se enquadram no chamado grupo de risco (uma diabética e outra com mais de 30 semanas de gestação) e ainda não há certeza se elas trabalharão na volta ou se será necessário um remanejo de profissionais. Para isso, a Secretaria de Educação analisa as necessidades de recursos humanos em cada escolinha para suprir as demandas.
Semana decisiva para a Luiza
Grupos divididos por semana foi a alternativa da Administração neste momento. “É o que o decreto estadual permite, também avaliado pelo Comitê de Crises e pelo Centro de Operações de Emergências da Saúde (COE). A revisão [do formato] dependerá dos rumos da pandemia ou da vacina”, mencionou o secretário de Educação, Émerson Eloi Henrique.
Ainda na semana passada, quando anunciou a data do retorno e a forma, a pasta informou que optou por atender cada grupo durante uma semana para possibilitar somente uma entrada e uma saída diária de cada um, além facilitar o atendimento às crianças na hora do almoço e favorecer a organização das famílias para cumprir seus horários de trabalho.
Como ainda não foi ‘sentido’ na prática, o formato das semanas alternadas nas Emeis gera dúvidas. É o caso de Maquelli Kist, 28 anos. Em março passado, quando ‘estourou’ a pandemia, ela saiu do emprego de maquiadora para cuidar da filha Luiza, então com 10 meses. “Meu marido trabalha, meus pais, sogros, todos ainda trabalham. Não tinha com quem deixar e precisei sair”, relata.
Nos meses seguintes, em casa com a menina, procurou realizar todas as atividades enviadas pelas professoras da Emei Arco-Íris, onde estava matriculada. Foram oito meses em casa, até que, em novembro, Maquelli começou a trabalhar novamente. O jeito foi matricular a pequena em uma escola particular (com desconto na mensalidade para não apertar ainda mais o orçamento).
Mas, sempre na expectativa pela volta das Emeis, Maquelli comemorou o anúncio do retorno, ainda que o formato seja um problema para resolver. “Vamos ver essa semana, porque ela não poderá frequentar duas escolas ao mesmo tempo. Então não basta a nossa vontade, porque as coisas como um todo precisam ser possíveis.”
Maquelli diz ainda que é importante a possibilidade de as crianças voltarem a frequentar as escolinhas. “Tenho certeza que os pais têm medo da Covid, mas vamos nos adaptando e nos cuidando para viver essa realidade e encontrar uma forma que nossas crianças voltem a conviver e se desenvolver no aprendizado.”
Para os pais que optarem em não levar as crianças para a escola, o secretário Émerson Henrique disse que elas receberão as atividades para fazer em casa e ninguém perderá vaga. Ou seja, a matrícula permanece.