A semana começou com adaptações para os alunos, professores e funcionários da Escola Estadual de Ensino Médio Mariante, de Vila Mariante. Isso porque ontem foi o primeiro dia de atividades após o documento que notificou a interdição de um dos prédios do educandário, expedido pela Secretaria de Obras do Estado. O local, que tem mais de 30 anos, abrigava seis aulas, das turmas do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, laboratório de informática, direção, supervisão, secretaria e saguão.
De acordo com a vice-diretora, Lucinei Moraes, ontem, os 134 estudantes dessas turmas tiveram aulas remotas para que a organização fosse feita e, a partir de hoje, as aulas pudessem ocorrer no outro prédio, de forma provisória, já que ele também aloca as demais turmas. Nos próximos dias, devem ser locadas, no mínimo, três salas de aula contêineres, para acomodar os alunos e demais setores da escola prejudicados.
O coordenador regional de Educação, Luiz Ricardo Pinho de Moura, esteve ontem em Venâncio Aires, para tratar do assunto. Segundo ele, a solução a longo prazo ainda está sendo pensada. Uma das possibilidades é a construção de um novo prédio, porém, ainda serão avaliadas as questões de espaço físico e legislação.
Lucinei explica que o principal problema é na estrutura de concreto e na escada interna do prédio. “A escada externa e a sacada já estavam interditadas desde o começo deste ano. A situação era realmente perigosa e oferecia risco aos alunos e demais pessoas”, comenta. No entanto, a vice- diretora afirma que a situação já vinha sendo acompanhada há algum tempo pelos engenheiros e, por isso, sabia-se que, a qualquer momento, a interdição poderia acontecer.
A diretora da Escola Mariante, Naira Elisabeth Rosa, destaca que, por condições de espaço e reformas, no momento, o administrativo da escola continuará sendo no prédio interditado, pois todos os espaços possíveis foram usados emergencialmente como salas de aula.
O prédio interditado, segundo ela, é muito antigo. Em 1996, a escola começou a fazer uso dele para o Ensino Médio e, desde então, recursos próprios eram utilizados na manutenção. “O Conselho de Pais e Mestres da escola também se mobilizavam e ajudavam, mas agora é o final de um ciclo. É um pouco triste, tem toda uma história envolvida, mas chegamos ao limite”, lamenta.
Os problemas começaram em novembro do ano passado, quando foi iniciado o processo de troca do forro em algumas salas de aula e, ao começar a mexer, percebeu-se que o problema era maior. “Rachaduras profundas apareceram e constatamos que o problema era na base da estrutura”, afirma a diretora. Naira relata que apesar das adaptações e reorganizações da escola, a segurança sempre está em primeiro lugar. Ela também enfatiza que, a todo momento, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e o Município prestaram auxílio.
- 260 é o número de alunos da escola Mariante. Destes, 38 estudantes fazem parte da rede municipal e estudam nas salas cedidas pelo Estado, nas turmas de Pré A e Pré B.
Os motivos para a interdição
• O responsável pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura, afirma que o prédio interditado estava em constante observação por parte da 6ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (Crop) e a intenção era remanejar os alunos deste prédio para o outro nas férias de inverno, na segunda quinzena de julho.
• No entanto, com as vistorias, foi entendido que a interdição deveria ser antecipada devido à deterioração das colunas de concreto.
• A notificação que chegou para a equipe da escola na sexta-feira, 24, tem data de 21 de junho de 2022. O documento cita que a interdição aconteceu “devido ao grau de comprometimento e deterioração da estrutura de concreto armado, que oferece risco de colapso e danos imediatos”.
• Segundo o documento, na inspeção visual feita por engenheiros da Crop, foi possível “verificar a degradação do concreto e corrosão das armaduras que compõem as vigas, pilares e lajes em concreto armado, gerando fissuras, perda de seção e consequente perda da capacidade de resistência da estrutura da edificação”.
• Além disso, o ofício aponta que a única escada fixa de acesso às salas de aula que apresenta boa condição estrutural não possui as dimensões mínimas de largura exigidas pela NBR 9077/2011, com saída de emergência dos edifícios. “O grau de risco da edificação é crítico, segundo a metodologia prevista na Norma de Inspeção Predial Nacional 2012, do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape). Portanto, está interditada e vedada a utilização de toda a área do prédio da escola, até que sejam tomadas as medidas necessárias para eliminar risco no local”, conclui a determinação.
Pais pedem providências
Pais de alunos da Escola Mariante utilizaram as redes sociais para falar sobre a interdição do prédio e os prejuízos causados aos estudantes, professores e à comunidade escolar. Inclusive, estava prevista, para a noite de ontem, a participação na sessão ordinária da Câmara de Vereadores.
Quem lidera o movimento é Letícia dos Santos, 32 anos, mãe da Alice, de 10 anos, que estuda no 5º ano; e Helena, 4 anos, que está no Pré A, na sala cedida pelo Estado para o Município. Mesmo que
não esteja sendo prejudicada diretamente com a interdição, pois suas filhas têm aulas no outro prédio, ela ressalta a preocupação com a situação. “A comunidade de Mariante está sendo deixada de lado e a interdição deste prédio da escola foi o limite. Somos procurados somente antes das eleições”, desabafa.
A atendente de farmácia, que é moradora de Vila Mariante, também foi aluna da instituição de ensino, assim como os irmãos e a mãe. “Por isso, fico triste com o fato da escola não estar sendo valorizada. Tínhamos gincanas, o salão de comunidade era usado para esportes e hoje não temos mais nada disso. Mariante regrediu com o passar dos anos”, lamenta.
“Queremos cobrar providências e ser ouvidos. Nossa intenção é explicar a situação, mencionar os problemas e esperamos encontrar soluções. Estamos cansados das promessas que fazem para Mariante.”
LETÍCIA DOS SANTOS
Moradora de Vila Mariante e mãe de alunas da Escola Mariante
Moção de apelo
Estava prevista, para a noite de ontem, votação de uma moção de apelo do vereador Clécio Espíndola, o Galo (PTB), pedindo a manutenção do prédio da Escola Mariante. O documento deve ser encaminhado ao governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior; à secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira; ao coordenador da 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinheiro de Moura; e ao prefeito de Venâncio Aires, Jarbas Daniel da Rosa.
Município coloca prédio da capatazia à disposição
O prefeito Jarbas da Rosa e o secretário municipal de Educação, Émerson Henrique, se reuniram com o coordenador regional de Educação, Luiz Ricardo Pinho de Moura, ontem, para conhecer o plano de ação imediato para solucionar o problema na Escola Mariante. “O prédio está há 16 anos sem manutenção de quem deveria prestar esse serviço. Mesmo não sendo responsabilidade do Município, iremos auxiliar”, afirmou ele, em entrevista ao programa Terra em Uma Hora, da Rádio Terra FM, ontem.
O chefe do Executivo colocou à disposição da CRE o atual prédio da capatazia de Vila Mariante, providenciando adequações para abrigar os alunos. No local, poderão ser realizadas atividades de contraturno, aulas de música e outras demandas da escola. “Com poucas adequações, podemos ali fazer, pelo menos, duas salas de aula”, explica o prefeito.
Além disso, por meio da Procuradoria Jurídica, a Prefeitura auxiliará o Estado na busca da regularização da cessão de uso do prédio, que pertence à Campanha Nacional das Escolas da Comunidade (CNEC).