Por Luana Schweikart e Leonardo Pereira
Depois da comunidade de Vila Mariante, que faz uso da Escola Estadual de Ensino Médio Mariante, se deparar e enfrentar o problema do prédio da antiga CNEC interditado (desde 21 de junho), agora, outro percalço afeta estudantes e funcionários do educandário. Quando os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e de todas as turmas do Ensino Médio – que foram afetados pela interdição – já tinham sido realocados, veio a nova surpresa: a precariedade da instalação elétrica do prédio original da escola. A 6ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (Crop) assinou a interdição do uso da parte elétrica e, assim, todos alunos estão tendo aulas de forma remota. Por conta disso, não há certeza sobre quando as aulas voltarão a acontecer presencialmente, na instituição de ensino. Também não há, por parte do Governo do Estado, previsão de reforma da estrutura.
A diretora da escola, Naira Elisabeth Rosa, afirma que todos estão fazendo o possível para que os alunos sejam bem atendidos nesta situação. “No momento, o que conseguimos fazer é ter as aulas de forma síncrona e assíncrona na plataforma Google Sala de Aula, pelo WhatsApp, videochamadas e entregando material impresso, quando é necessário.”
Segundo o responsável pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura, com a realocação dos alunos e uma possível sobrecarga na rede elétrica, foi constatado o perigo e, no ato, a Crop, sob comando da coordenadora Joana Rocha e do engenheiro elétrico Jonas Paixão Vaz, assinou a interdição das instalações elétricas. “O que está proibido é a utilização de equipamentos e da luz elétrica no prédio, mas as pessoas ainda podem frequentar o local”, ressalta Pinho de Moura.
Para resolução do problema, foi aberto no sistema de gerenciamento de obras um pedido para a reforma da parte elétrica, que será custeada pelo Estado. “A Crop já está realizando projeto e a situação é emergencial e de prioridade”, acrescenta o coordenador. Entre os problemas, são citadas emendas malfeitas, oxidação, muitos agrupamentos em um mesmo disjuntor, condutores de cobre expostos e sem isolamento. “O risco de fuga de corrente para provocar choque era claro, podendo ainda evoluir para um curto-circuito e um incêndio”, completa.
Além disso, Pinho de Moura teve uma conversa com o prefeito Jarbas da Rosa para a possibilidade de uso de salas da capatazia da localidade, pelo menos, para a parte administrativa e pedagógica da escola na tarde desta segunda, 11. Também é estudada a possibilidade de os alunos frequentarem a escola em horários diferentes, que permitam mais luminosidade natural e momentos de aula presencial para tirar dúvidas, principalmente para aqueles alunos com dificuldade de conexão com a internet e aparelhos em casa.
- 259 é o número de estudantes na Escola Mariante que atualmente estão com as aulas no formato remoto
“Vila Mariante está esquecida”
Ao caminhar por Vila Mariante, os relatos são de descaso e abandono. Entre eles está o da cabeleireira Cátia Jaqueline Rey, de 50 anos, que fez toda sua formação na Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Mariante – na época, ainda com o nome de EEEM Coronel Brito. Ela tem dois filhos formados na escola e um ainda estudando: Luis Gustavo, de 14 anos, está na oitava série do ensino fundamental.
Cátia detalha a situação complicada, pois após dois anos de pandemia, com os alunos tendo aulas de forma remota, agora os dois prédios da escola foram interditados. “Está impossibilitando que as crianças possam ter uma educação digna, as mães estão chocadas, e professoras e diretoria de mãos atadas. Sei que as professoras fizeram o que podiam em todos esses anos, arrumando aqui e ali, pois não tinha condição de arrumar o prédio inteiro”, relata.
Segundo ela, é nítido que o problema não aconteceu do dia para a noite, sendo que ninguém se movimentou para resolver anteriormente ou, ao menos, para informar à comunidade. “Fomos pegos de surpresa. E agora, o que fazer? Ninguém resolve nada, não explicam nada, não apresentam prazos. É triste, pois não existe um olhar para Mariante, e não é apenas na educação. É no asfalto, no ginásio de esportes (que está interditado há anos), por exemplo, as crianças têm de jogar futebol em um campinho de terra, de qualquer jeito”, explica.
O principal temor da cabeleireira é com o futuro destes estudantes. “Como será possível se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou conquistar uma vaga na faculdade ou em um programa como o Pro Uni? Eles (Governo do Estado e Administração) apenas vêm e tiram fotos, pensando que a gente não sabe que essa situação está acontecendo há muito tempo. Estamos todos de mãos atadas, esperando uma decisão de quem pode e não decide nada. Vila Mariante está esquecida”, desabafa.
“Tenho 50 anos, estudei nesta escola, minhas irmãs estudaram aqui (uma está com 67 anos), dois filhos se formaram na escola e outro está estudando neste momento, mas é meia hora, uma hora todo dia, sem um aproveitamento completo.”
CÁTIA JAQUELINE REY
Moradora da localidade
Análise do solo é feita para colocação dos contêineres
Para que parte das turmas possa voltar a ter aulas presenciais, depois da interdição de um dos prédios da escola, a 6ª CRE vai mandar três contêineres. No momento, explica o coordenador Luiz Ricardo Pinho de Moura, o pedido já foi feito e haverá análise de solo para ver qual o tipo de material e altura da base a ser feita para receber os contêineres.
“Como a região tem o diferencial de sofrer com cheias do rio, o terreno é úmido e temos que estudar um pouco antes de sair fazendo.” A 6ª Crop está a fase de finalizar esta análise e o projeto para executar o mais rápido possível. “Todos estão se esforçando muito para que os contêineres cheguem em um curto espaço de tempo”, conclui o responsável pela 6ª CRE.