Por meio do teatro, alunos do 9º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Alfredo Scherer estão tendo a oportunidade de trabalhar, em sala de aula, lembranças pessoais. O projeto ‘Memórias autobiográficas em cena na escola’ é um dos oito trabalhos de Venâncio Aires selecionados para participar da Mostra de Criatividade em Ciências, Arte e Tecnologia (Mostratec) Junior. A feira será realizada no mês que vem, no Centro de Eventos e Negócios da Fenac, em Novo Hamburgo.
Coordenados pela professora de Arte, Fernanda Saldanha, os estudantes trabalham na iniciativa desde o início deste ano. Mesclando aulas práticas e teóricas, os adolescentes foram convidados a refletir sobre lembranças pessoais para, assim, trabalhar as emoções que surgem a partir delas. Antes de focarem na elaboração do roteiro e nos ensaios das cenas que serão apresentadas, os alunos participaram de atividades preparatórias.
Em uma aula, eles foram convidados a confeccionar um mural autobiográfico, com imagens e palavras recortadas que os representassem. Em outra ocasião, cada um fez a customização de uma. De acordo com a turma, todas essas atividades foram importantes ferramentas para que se desenvolvesse entre os colegas o sentimento de cumplicidade, confiança e empatia. Também foi uma oportunidade de aprenderem a ouvir as histórias uns dos outros e, assim, conseguirem perceber novas perspectivas de vida, proporcionado sentimento de união na turma.
OBJETOS
Também foi proposto que cada aluno levasse para a sala de aula um objeto que tivesse marcado a sua trajetória. Os exemplos são variados: jogo de bisca que é tradição na família e guarda recordações do avô, colar com alianças que pertencia a avó; urso de pelúcia que fez partes de diversos momentos importantes; diário feito como atividade de escola e que guardam recordações marcantes; entre outros. A partir desses itens, os alunos foram convidados a compartilhar as lembranças que têm com os colegas. “Espero que esse projeto seja algo que marque a história da escola e de cada um deles”, destaca a professora. Nesse contexto de memórias autobiográficas, familiares de alunos foram convidados para integrar o ato cênico. Alguns, inclusive, foram em uma aula para participar do ensaio.
Para Fernanda, é possível perceber, através dos relatos dos estudantes, que o projeto está alcançando os objetivos traçados. “São detalhes que muitas vezes passam despercebidos, mas que fazem a diferença para a vida deles, até mesmo no que se refere à autoestima, que vai sendo desenvolvida mesmo sem ser o foco do projeto”, salienta. Ela ainda reforça o fato de o fazer artístico valorizar as subjetividades de cada estudante e de as experiências artísticas vividas terem o poder de tocar e sensibilizar.
“Esse projeto proporciona espaço de fala e escuta coletiva. Desenvolve habilidades socioemocionais e exercita a empatia, colocando-se no lugar do outro para melhor compreendê-lo e produzindo conhecimento e novas aprendizagens a partir da prática teatral. Além disso, discute temas relevantes e recorrentes na adolescência, aproxima mais a turma e uni ainda mais pais e filhos, visto que as famílias estão envolvidas no projeto.”
FERNANDA SALDANHA – Professora
De acordo com a professora, toda a parte escrita do projeto, bem como a elaboração dos roteiros de cada cena, está sendo feita pelos próprios estudantes. Em sala de aula os alunos estudaram cada item teórico e depois os elaboraram com o auxílio e a supervisão de Fernanda. “Queremos estudantes protagonistas. Então, precisamos dar espaço para que assumam esse papel. Porque eles assumem, basta um empurrãozinho. Em um processo colaborativo, como esse, todos se envolvem e assumem responsabilidades, cria-se confiança e cumplicidade no grupo e pertencimento ao trabalho”, avalia. Os estudantes também são responsáveis por, no fim de cada aula, registrar no diário de bordo as atividades que foram feitas naquele dia.
O PROJETO
- O projeto ‘Memórias autobiográficas em cena na escola’ integra a pesquisa de Mestrado Profissional em Artes na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e parte de trabalhos autobiográficos desenvolvidos no início deste ano com a turma, com o intuito de que se pudesse vivenciar experiências artísticas até então não explorados.
- Segundo Fernanda, há dois anos esta turma realizou a montagem de uma peça teatral e apresentou na escola. “O resultado foi muito positivo, eles se surpreenderam com o desempenho de todos.” Desta forma, depois de dois anos, eles retomaram a montagem teatral, mas com o viés autobiográfico. “Isso justamente este ano que, que é o último da turma na escola. É uma forma de eles deixarem suas histórias registradas artisticamente para os que vierem depois deles”, compartilha a professora.
- O projeto desenvolvido com os alunos do 9º ano da Emef Alfredo Scherer foi apresentado pela professora Fernanda durante intercâmbio de oito semanas realizado por ela no Canadá, por meio do Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores da Educação Básica, em Ottawa. “Um dos requisitos era um projeto de intervenção pedagógica. Eu inscrevi esse”, ressalta.
- Nas apresentações do projeto em eventos, a turma é presentada pelos estudantes Lucas Hochscheidt, Vitiéle Wozniak e Vitória Andregheti. Além da participação na Mostratec Junior, o projeto teve a inscrição homologada para participar da X Feira de Ciências (FECIC) do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) campus Camaquã.
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