
O que começou como uma simples atividade de divulgação do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (Cepa), da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), evoluiu para um importante projeto com os alunos do 4º e 5º anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Narciso Mariante de Campos, de Linha Tangerinas. Na escola do interior de Venâncio Aires, os estudantes exploram o universo da arqueologia por meio de pesquisas e oficinas práticas, como simulações de escavações, para compreender os processos científicos da área.
A parceria teve início em 2023, após os alunos apresentarem uma pesquisa sobre o Cerro do Baú, em outubro de 2022. No evento, o trabalho chamou a atenção dos professores Sérgio Klamt, coordenador do Cepa, e Hélio Afonso Etges, do curso de Jornalismo, que atuavam como avaliadores. Ambos se interessaram pela iniciativa e fizeram uma palestra na escola. Contudo, ao perceberem que apenas a teoria não engajava os estudantes, idealizaram as oficinas práticas.
Aproximação da arqueologia
Dessa forma, o que seria apenas um encontro se transformou em um projeto contínuo, agora em seu terceiro ano consecutivo. Ao longo desse período, os participantes já realizaram oficinas de escavação, criaram petróglifos e confeccionaram colares e réplicas de artefatos, entre outras atividades.
Na última sexta-feira, 15, uma nova etapa do projeto começou a ser contada. Os estudantes receberam descrições de cenas em folhas de papel A4, com o desafio de criarem ilustrações. A proposta, intitulada ‘Tribo Cerro do Baú’, simula um jornal e incentiva os alunos a usarem a imaginação para retratar o ‘dia da grande caçada’. As cenas incluem desde o início do dia em uma aldeia imaginária, a preparação de armas e a caçada na mata, até o retorno à tribo e o registro do animal abatido em um bloco de pedra. Cada aluno também foi desafiado a criar uma assinatura tribal, inspirada nos símbolos que identificavam povos antigos.
Paralelamente, no projeto de criação do jornal ancestral, a professora Priscila Wagner Pereira ainda busca explorar os estudos sobre textos jornalísticos, narrando as figuras elaboradas pelos estudantes. “A meta é desenvolver a criatividade, tentando voltar no tempo e imaginar onde a história teria acontecido. Serão 12 narrativas seguindo o mesmo ‘fio da meada’, mas cada uma com o olhar de outro aluno. É mais um capítulo desenvolvido por eles”, destaca o professor Hélio Afonso Etges.
Para Sérgio Klamt, é gratificante ver o interesse dos estudantes pelo trabalho arqueológico de forma lúdica. “Começamos com um projeto pequeno que se expandiu. A ideia inicial era apenas divulgar nosso trabalho, não esperávamos a dimensão que alcançou. É recompensador”, salienta.
Pré-história
Conforme o professor Sérgio Klamt, o estudo da pré-história local é um dos pilares do projeto desenvolvido na escola. Há seis mil anos, o território que hoje corresponde a Venâncio Aires e região era ocupado por povos caçadores-coletores, também conhecidos como pampeanos. Nômades, eles viviam da caça, da pesca e da coleta.

Um vestígio dessa presença é a imagem de um animal quadrúpede encontrada no Cerro do Baú, em 1950. Acredita-se que a peça tenha sido esculpida por um membro desse grupo há cerca de três mil anos, possivelmente após uma caçada. O artefato original foi encaminhado ao Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (Cepa), mas uma réplica idêntica pode ser visitada no local da descoberta.
Um vestígio dessa presença é a imagem de um animal quadrúpede encontrada no Cerro do Baú, em 1950. Acredita-se que a peça tenha sido esculpida por um membro desse grupo há cerca de três mil anos, possivelmente após uma caçada. O artefato original foi encaminhado ao Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (Cepa), mas uma réplica idêntica pode ser visitada no local da descoberta.
Expectativa para a ‘sexta-feira da Unisc’
A variedade de atividades, especialmente as práticas, inspira os estudantes. Segundo a professora Priscila Wagner Pereira, o conteúdo está alinhado às diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Exploramos a população indígena, trabalhando forte a cultura gaúcha e complementando com os conteúdos locais”, explica.
Ela reforça que a expectativa para os encontros mensais é visível no rosto dos alunos. “Quando chegam na escola, eles perguntam se é a ‘sexta-feira da Unisc’. Eles amam”, salienta a professora.
Aluna do 5º ano, Brenda Rafaela da Silva, de 11 anos, ingressou na escola em 2025 e vê o projeto como uma grande novidade. “São atividades bem legais e com explicações fáceis de entender. Gosto de aprender sobre a forma como eles viveram e a cultura deles”, relata.
Colega de turma de Brenda, Fernanda de Borba, de 10 anos, já participou do projeto no ano passado e compartilha do mesmo entusiasmo. “Gosto de participar. Acho muito importante para compreender mais sobre os povos indígenas. A didática também é fácil, o que ajuda a prestar atenção em tudo”, considera.

Sobre os encontros
Os encontros entre as turmas do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental e os professores ocorrem em uma sexta-feira de cada mês. O cronograma é organizado em conjunto com a direção da escola.