Especialistas em saúde alertam sobre o excesso de tecnologias na infância

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O Programa Primeira Infância Melhor (PIM) promoveu, na quarta-feira, 22, o 12º Encontro Municipal do Dia do Bebê e o 7º Seminário Municipal de Integralidade do Desenvolvimento Infantil. O evento ocorreu na Câmara de Vereadores e discutiu o tema ‘Olhar na Primeira Infância: o uso da Tecnologia Digital e seus Impactos no Desenvolvimento Infantil’.
O seminário reuniu os servidores das secretarias de Desenvolvimento Social, Saúde e Educação. Segundo a coordenadora do PIM/Criança Feliz, Andréa de Oliveira, o objetivo foi qualificar os profissionais que lidam diretamente com as crianças do município e sensibilizar a sociedade sobre o uso das tecnologias digitais. “Por estar tão presente no dia a dia das famílias, pensamos nessa temática para refletirmos sobre as influências das tecnologias na vida das crianças, o tempo que elas ficam utilizando e como isso acaba impactando no desenvolvimento emocional, cognitivo e social.”

As especialistas em saúde da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), a enfermeira Larissa Ponsi, e a terapeuta ocupacional Francielle Foggiatto, conduziram o seminário. A Folha do Mate ouviu as profissionais, que apontaram diversos aspectos sobre o assunto. Confira:

Folha do Mate: Há muito se fala em riscos e problemas que o excesso de exposição às telas pode causar para as crianças. Mas como garantir o equilíbrio, considerando que os pequenos já são parte de uma geração totalmente digital?

Francielle e Larissa: O tempo da infância é um tempo de estruturação cerebral, motora e psíquica, é tempo crucial para o ser que está integralmente em formação, mas ela termina, portanto é fundamental pensarmos nos tipos de experiências que oferecemos às crianças. A tecnologia pode ter evoluído, mas as crianças ainda necessitam do outro e do meio para desenvolverem-se, tarefa que não pode ser suprida por uma tela. As crianças necessitam brincar para se desenvolver, esta é a melhor via de aprendizado na primeira infância. Necessitam de afeto, do contato com os pais/cuidadores, de estímulos reais e não virtuais. As crianças, especialmente até os 2 anos de idade, não devem ter contato com as telas. As telas deveriam ser usadas apenas em situações de emergência e com supervisão e mediação parental.

Quanto o comportamento dos pais pode ter influência sobre os hábitos ou rotina das crianças?

Influencia totalmente. As crianças aprendem por repetição e principalmente por imitação, desta forma, o tempo que as crianças passam na frente das telas passa pelo tempo que nós, adultos, também destinamos ao uso delas. Outra questão importante é de que o cérebro infantil está em amadurecimento, desta maneira, não regula o tempo de tela, sendo essa uma função impreterível do adulto.

Ter todas as informações à mão, de forma imediata, facilita a pesquisa. Mas isso realmente contribuiu para o aprendizado?

A informação imediata facilita a pesquisa, mas ela não garante o aprendizado, justamente por estar relacionado a algo imediato, pontual. Aprender algo passa, também, pela via da construção, da troca com o outro, da intermediação. É necessário pensar, supor, imaginar, criar, interpretar por si só e, principalmente, experienciar e elaborar para aprender. A tela não substitui a complexidade da tarefa de aprender.

Quais características podem indicar problemas causados pelo excesso de uso das tecnologias digitais? Quais impactos podem causar à saúde mental, emocional e mesmo para habilidades motoras?

O uso excessivo e precoce das tecnologias traz prejuízos à saúde, sob os aspectos emocionais, cognitivos, emocionais, sensoriais, para o atraso da linguagem e convívio social. Características como irritabilidade, ansiedade, alteração do ciclo de sono (pela luz azul das telas bloquearem a produção de melatonina – hormônio responsável por naturalmente induzir o corpo ao sono), alterações de atenção, dificuldade de aprendizagem, baixa tolerância à frustração entre outros. Outros problemas como obesidade, nos olhos e alterações das habilidades motoras, como a motricidade fina e ampla, dores articulares pelo uso excessivo de pequenas articulações da mão/dedos, má postura e dores cervicais estão relacionados ao uso de telas.

Qual a importância de tratar sobre esses temas, também, com profissionais que lidam diretamente com crianças nas áreas social, de saúde e educação?

Para um desenvolvimento infantil satisfatório, é necessário que a criança seja olhada de maneira integral, considerando suas dimensões física, intelectual, social, emocional, de linguagem e comunicação, aliado ao fortalecimento da interação parental positiva. Nesse sentido, torna-se necessário que a rede de serviços esteja muito bem integrada e preparada para lidar com estas questões, sendo crucial que os profissionais das áreas social, de saúde e educação estejam envolvidos e empenhados para trabalhar esta temática no seu cotidiano laboral com crianças, famílias e comunidades.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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