Está a cargo da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (Seduc) pensar na logística do transporte escolar para os alunos do Ensino Médio da rede pública que voltarão para a sala de aula. A poucas semanas do reinício das aulas presenciais, previsto para 13 de outubro, caberá à pasta encontrar uma alternativa junto com os municípios (que na região fazem a própria organização).
O impasse ocorre em praticamente toda a região da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), onde parte do transporte escolar é feito por ônibus de linhas, que recebem por venda de passagem e não por quilômetro rodado. Ou seja, como os veículos só devem transportar metade da sua capacidade, isso impactaria na arrecadação.
Somado a isso, a tendência é de que não haja grande interesse dos alunos em voltar para a sala de aula. “Ainda estamos fazendo levantamento junto às escolas para saber quais alunos querem voltar. Vai ser facultativo e acredito que muitos vão preferir continuar com as aulas on-line. Portanto, é possível que não se tenha uma grande adesão para o retorno presencial”, afirma o coordenador da 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinho de Moura.
Ainda conforme ele, os relatórios recebidos das escolas e as primeiras tratativas entre empresas de ônibus e prefeituras, serão enviados a Porto Alegre. “A logística será gerenciada pelo Departamento de Articulação com os Municípios, na Seduc.”
Espera
Em Venâncio Aires, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Educação, as três empresas que não fazem o fretamento exclusivo de estudantes no interior, não demonstraram interesse em manter os roteiros.
Mas a Auto Viação Venâncio Aires (Viasul), por exemplo, disse que ainda aguarda uma decisão definitiva por parte dos órgãos públicos. “Mesmo que em alguns locais ainda temos roteiros mantidos, os horários reduziram, porque não tem demanda. Vamos esperar o que decide a Educação”, informa o diretor da Viasul, Sérgio Büchner.
Para ele, tudo dependerá da quantidade de alunos e onde eles moram. “É uma questão matemática. Porque se conseguirmos juntar duas linhas em uma, o roteiro muda.”
Desinteresse
- A tendência apontada pelo coordenador da 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinho de Moura, já se confirmou na Escola Estadual de Ensino Médio Frida Reckziegel, de Vila Palanque.
- Segundo a diretora, Angela Maria Stertz, dos 80 alunos matriculados no Ensino Médio, apenas oito querem voltar às aulas presenciais – 10%. “Além da organização das aulas, o transporte também nos preocupa. Porque destes oito, apenas um não depende de ônibus.”
- Na escola, 75% dos estudantes utilizam transporte escolar. Além de Palanque, eles vêm de localidades como Linha Travessa, Linha Grão-Pará e Linha Herval.
- Outra escola que também registra baixa procura é a Sebastião Jubal Junqueira, de Vila Deodoro. Conforme a diretora, Adriana Scheibler, dos 73 matriculados no Ensino Médio, 12 querem voltar à frequentar o educandário.
Empresa registra 75% de queda nas linhas de ônibus
Dos 80 ônibus que integram a frota da Viasul, apenas 20 estão circulando. A queda de 75% acontece desde março, com o início da pandemia do coronavírus. Para os 60 veículos que estão parados, a garagem, próxima à Estação Rodoviária de Venâncio Aires, ficou pequena, e foi necessário alugar outro espaço na cidade para comportar todos.
Entre os ônibus que hoje acumulam poeira no pátio da empresa, estão os que levavam alunos das escolas Cristiano Bencke, de Centro Linha Brasil; Sebastião Jubal Junqueira, de Vila Deodoro; Frida Reckziegel, de Vila Palanque; Professora Helena Bohn, de Vila Terezinha; Mariante, de Vila Mariante; Professor Pedro Beno Bohn, de Vila Arlindo; e até a Santo Antônio, de Mato Leitão. “Nesta quinta mesmo vou a Linha Leonor buscar mais um ônibus que está parado desde março”, revela o diretor da Viasul, Sérgio Büchner. Ônibus novo, que está parado na garagem da Viasul custa R$ 1 milhão. O veículo chegou exatamente no dia 16 de março, quando tudo começou a ‘parar’ devido ao coronavírus.
Os que estão circulando são algumas linhas municipais (Vila Mariante, Linha Herval e Vila Arlindo), intermunicipais (Vale Verde, Passo do Sobrado e Lajeado) e de fretamento, que levam trabalhadores para empresas. Mas todos com a metade da capacidade. Essa regra, aliás, não se aplica aos veículos de linhas interestaduais, nos quais os assentos são mais espaçados e separados por cortinas.
“Apesar das dificuldades, eu sou otimista. Temos que encontrar alternativas. Nesta semana recebemos autorização da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) para operar com mais uma linha interestadual”, anuncia Büchner.
Cortes
Dos 150 funcionários que a Viasul tinha em março, cerca de 40 já foram demitidos e outros estão com contrato suspenso. Trabalhando, no momento, são cerca de 30. Segundo o diretor, Sérgio Büchner, os cortes atingiram todos os setores, entre motoristas, frentistas, mecânicos, lavadores, chapeadores, fiscais, cobradores e do escritório.