Os últimos dias de julho serão reservados para as férias escolares e, seja da rede pública ou particular, o período de recesso será praticamente o mesmo. A volta está prevista para a primeira semana de agosto e será a partir desse momento que uma mudança pode marcar o segundo semestre letivo em Venâncio Aires: todos os alunos matriculados voltando a frequentar a sala de aula.
Mas, antes de se falar em obrigatoriedade ou imaginar classes cheias novamente, há situações que precisam ser consideradas e uma delas é a manutenção de protocolos de prevenção à Covid-19, que exigem, por exemplo, o distanciamento mínimo. Dessa forma, a divisão de turmas ou o escalonamento semanal devem continuar nas escolas que não têm espaço físico suficiente.
O que conselhos e secretarias de Educação têm buscado é que todos os estudantes tenham aulas presenciais em algum momento. Ou seja, apenas o ensino remoto, aquele feito exclusivamente de casa, não seria mais uma opção. A questão ganhou força nesta semana, depois que o Conselho Nacional de Educação aprovou uma resolução para regulamentar o ensino nas escolas brasileiras no contexto da pandemia e que orienta que a volta às aulas presenciais é ação prioritária e urgente. A ideia, portanto, é contrária à aprovação do ensino domiciliar, que está em discussão no Congresso. Vale lembrar que o Ministério da Educação autorizou aulas não presenciais até dezembro de 2021.
Em meio às discussões, no Rio Grande do Sul já há um movimento para mobilizar famílias a uma adesão maior ao ensino presencial. “Tivemos uma boa adesão nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Mas no Ensino Médio, na nossa região, menos da metade tem frequentado a sala de aula, mesmo em escolas que podem atender mais”, revelou o responsável pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Luiz Ricardo Pinho de Moura.
Segundo ele, é preciso avançar nessa mobilização, tanto que as coordenadorias, junto à Secretaria de Educação do Estado, devem começar uma campanha nos próximos dias. “Os professores vão receber a segunda dose da vacina em agosto, o que já tranquiliza um pouco. Além disso, com os números Covid mais controlados, é entendimento que se volte com o presencial no segundo semestre. Mas na sala de aula que não comportar todos os alunos, será mantido o híbrido.”
Ainda, conforme Moura, dos cerca de 30 mil matriculados na rede estadual na região da 6ª CRE, aproximadamente 16 mil têm ido à escola. “Infelizmente, na maioria dos casos dos que estão em casa, não se tem como garantir uma aprendizagem significativa. Existe uma defasagem.”
Espaço
Em muitas escolas de Venâncio Aires, há salas de aula com espaço físico suficiente para atender o número de matriculados sem desrespeitar o distanciamento. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) José Duarte de Macedo, na sala da turma de 7º ano, onde poderiam sentar 22 alunos, cerca de 12 têm ido. Na última quinta à tarde, eram 9. “A média varia, às vezes num dia vem mais, outros menos. Temos 19 turmas e apenas oito necessitam divisão. Mas é um direito das famílias que precisa ser respeitado”, considerou a diretora, Erica Inês Franck.
Para ela, com o avanço da vacinação e a diminuição de casos, é preciso, sim, considerar o retorno presencial. “O ideal é o presencial, porque, se para o aluno muitas vezes é complicado acompanhar, para o professor também é. É difícil dar conta destas ‘mesclas’ do que é presencial, do que é só classroom, de quem busca atividade ou de quem vem dia sim, dia não. É complicado”, afirmou a diretora da Macedo, uma das maiores escolas da rede municipal.
Evasão
Conforme a 6ª CRE, dentro dos 14 mil estudantes da rede estadual na região que estudam em casa, cerca de 1,3 mil têm exigido uma busca ativa. Em outras palavras, seriam praticamente casos de evasão, ao atingirem, por exemplo, cinco atrasos seguidos de entregas de trabalho. Para essas situações, o coordenador Luiz Ricardo Pinho de Moura destaca que ocorre toda uma mobilização, incluindo escola, agentes de saúde e até o Conselho Tutelar.
Improvisos
Independentemente do tamanho da escola, as adequações e, às vezes, improvisos, ainda são necessários. Na Emef Venâncio Aires, de Linha Canto do Cedro, a única sala de aula, que também servia como secretaria e para guardar material expediente, precisou ser modificada. Foi necessário retirar armários, por exemplo, para atender ao protocolo de distanciamento dos estudantes.
Essa Emef, uma das menores escolas do município, é multisseriada e tem 13 crianças matriculadas, entre o 1º e 5º anos do Ensino Fundamental. Onze delas frequentam as aulas todos os dias, sem alternância, enquanto dois, por opção da família, estudam em casa.
Segundo a diretora, Mariéle Vanessa Pinto, como os meses de março e abril foram totalmente remotos, acarretou em outra consequência. “São cinco níveis, mas dentro de cada um há níveis diferentes de aprendizado. Tem uma defasagem no ensino. E no interior, com a falta de estrutura [muitos sem computador ou internet], as lacunas aumentaram.”
“O aluno precisa de rotina”, avalia diretora do Bom Jesus
Enquanto no interior o acesso às tecnologias é quase um luxo, no centro de Venâncio Aires tem realidades bem diferentes. No Colégio Bom Jesus, que é particular, internet e computadores não são problema para os 368 alunos matriculados. “As famílias têm condições de dar estrutura, mas a forma presencial será sempre mais significativa. Na escola, o aluno tem mais disciplina com sua rotina e ficar só em casa pode favorecer uma desorganização. O aluno precisa de uma rotina”, apontou a diretora Inês Schwertner.
Segundo ela, em agosto, haverá na escola o que chamam de ‘segunda avaliação diagnóstica’, para analisar como que está o aprendizado. Momento semelhante aconteceu em março e, em maio, quando foi retomado parte do ensino presencial, o Bom Jesus se reestruturou internamente para atender pontos considerados fundamentais. “A gente trouxe todos os pequenos, porque é uma idade que tem mais dificuldade para ficar muito tempo na frente do computador. Assim como o ‘terceirão’ do Ensino Médio, que é um último ano na escola”, explicou Inês.
Na prática, o Bom Jesus consegue atender, totalmente de forma presencial, a Educação Infantil até o 5º ano do Fundamental. Do 6º ano do Fundamental ao 2º ano do Ensino Médio, segue o modelo híbrido, com alternância entre as semanas. Já para que o ‘terceirão’ possa acompanhar as aulas todos os dias, as classes foram levadas para o auditório, em um espaço mais amplo.
As dificuldades no transporte escolar
Jaqueline Mai Neiland, 17 anos, era a primeira da fila para pegar o ônibus no fim da tarde da última terça-feira, 13, depois do término das aulas na Escola Estadual de Ensino Médio Frida Reckziegel, de Vila Palanque.
Atrás da Jaqueline, outras sete crianças, que moram em localidades no entorno de Linha Travessa. Um ônibus com capacidade para levar mais de 40 pessoas, naquela tarde, transportou apenas oito estudantes. “Antes da pandemia chegava a 30, hoje é praticamente só nós de tarde”, mencionou a estudante do 9º ano.
O veículo usado por esses jovens é exclusivo para estudantes e há outro, da mesma empresa, que faz a linha tradicional, ou seja, que também leva outros passageiros. Em um cenário sem pandemia, seria necessário pelo menos mais um ônibus para dar conta da demanda de todos naquele turno.
Segundo a diretora da Frida Reckziegel, Angela Maria Stertz, dos 305 matriculados, 75% dependeriam, em condições normais, de transporte. Mas, atualmente, cerca de 100 estudantes usam. “Também já se pensa numa campanha para tentar atrair mais alunos, porque nosso maior problema é o transporte escolar. Acho que, a partir de agosto, com o cenário da pandemia melhorando, o ideal é que só ficasse em casa aquela criança que tem atestado médico para algum problema de saúde. Quem pode, deveria vir para a escola, ainda que de forma dividida devido aos protocolos.”
De acordo com dados do Setor de Transporte Escolar da Secretaria de Educação de Venâncio, alguns trajetos estão parados por ter poucos estudantes, como de Linha Olavo Bilac, no turno da manhã, e de Linha Leonor. “Hoje existe uma falta de alunos e houve cancelamento de algumas linhas. Mas nosso apoio ao ensino presencial sempre foi, principalmente, pelo ganho na aprendizagem”, apontou o secretário de Educação, Émerson Henrique.
Números
O transporte escolar é mantido através de uma parceria entre Estado e Município. Considerando apenas a compra de passagens, que são aqueles roteiros feitos com ônibus de linha, por exemplo, foram utilizados 23.161 bilhetes em junho para 1.315 estudantes das redes municipal e estadual, além da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Para a área urbana, o valor da passagem custa R$ 3,87 e, para a zona rural, R$ 5,23.
Vacinas
• O avanço da vacinação entre professores e servidores das redes pública e privada também é um ponto destacado nessa tentativa de atrair mais alunos à sala de aula a partir de agosto.
• Em Venâncio Aires, os profissionais receberam a primeira dose em maio e, nas próximas semanas, devem completar o ciclo da imunização.
• Quanto ao número de professores e funcionários infectados pela Covid neste semestre, de 368 profissionais em Emefs, 16 positivaram. Já nas escolas estaduais, dos 547 profissionais no município, a 6ª CRE não soube precisar quantos contraíram a doença no semestre.