Há quase 30 anos sem estudar, Maria Aurora de Carvalho, 43 anos, precisou voltar a pegar o caderno, no ano passado, para ensinar o filho Dieison Maciel da Silva, 8 anos. Quando as aulas começaram de forma remota, em maio de 2020, a produtora de tabaco ficou com medo de como seria o aprendizado do filho. Nos primeiros temas, fez algumas questões para o estudante do 3º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Bento Gonçalves, em Linha Estância São José.
Nas primeiras semanas que as atividades da escola voltaram, as professoras estranharam a letra e pediram para conversar com Maria. Após uma reunião, a mãe relatou que achava difícil ensinar para o filho, pois estava muito tempo sem ir para a escola e era mais fácil ela tentar fazer os exercícios por ele. “Explicamos para a mãe como ela deveria ensinar o Dieison a fazer, para que ela não fizesse a tarefa dele e que ele pudesse aprender certinho”, conta a professora Samara Fuentes dos Santos.
Sem acesso à internet e ao grupo de mães do WhatsApp, após essa conversa, Maria começou a ir de ônibus ou apé, de Linha Cerrito até a escola, que são dois quilômetros de distância, todas sextas-feiras para devolver os trabalhos, buscar as atividades e aprender com as professoras como deveria repassar ao filho. “Tirava a sexta para isso, ia até a escola aprender como ensinar ele, depois ia para casa e de tarde fazíamos os trabalhos. Era a tarde que meu marido e meus dois filhos mais velhos saiam e ficava só eu e o Dieison. Era uma tarde nossa, dedicada para a aprendizagem”, lembra a mãe que estudou até a 4ª série.
Nesse meio tempo, a própria mãe aprendeu novas coisas sobre as aulas, pois, segundo ela, a forma de aprendizado mudou muito desde que estudava. “Minha dificuldade era no português, em montar frases, está muito diferente de quando eu estudei, muitos acentos que não existem mais. Daí descobri que foi feita uma reforma na ortografia e fui aprendendo também com as professoras do meu filho”, comenta, feliz.
Resultado
Antes da pandemia, no início do 2º ano, Dieison não sabia ler e era mais tímido na escola. Durante as aulas remotas, as professoras estavam preocupadas com isso e incentivaram a mãe a estimular o filho. Neste ano, o estudante chegou na escola lendo e mais ativo nas atividades. “Ele teve todo 2º ano, praticamente, em casa. Quem incentivou e ensinou ele a ler foi a mãe. Hoje ele está curioso para sempre aprender mais. É uma das histórias positivas da educação durante a pandemia”, destaca a professora Samara.
Maria, mesmo sem ter usado quadros e atividades extras, comemora que conseguiu auxiliar na alfabetização do filho. “Sentávamos para fazer as atividades e eu lia muito para ele, ele acompanhava minha leitura e, assim, sozinho foi juntando as sílabas e aprendendo. Teve um esforço dele também”, diz.
Dieison está feliz sabendo ler e escrever e adora fazer contas de matemática. Segundo o menino, ele gostou aprender com a mãe. “Tava com saudades da escola, mas em casa também aprendi. Foi legal”, conclui.
“Ela foi mãe, aluna e professora durante a pandemia, pois aprendeu e ensinou o filho. É um exemplo.”
SAMARA FUENTES DOS SANTOS
Professora
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