Com a restrição de aulas presenciais nas escolas, muitos pais, professores e alunos, principalmente da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, vêm sentindo a dificuldade de acompanhar aulas e não perder o ritmo escolar em casa. Desde o dia 28 de fevereiro, uma liminar impede as aulas presenciais de Educação Infantil e o 1º e 2º ano do Ensino Fundamental, que antes podiam ocorrer mesmo em bandeira preta.
Jaqueline Becker de Castro, 35 anos, é uma das mães que enfrenta essa dificuldade. Segundo ela, a situação está complicada, principalmente devido o orçamento apertado. A filha Caroline Bencker Hamerski, 3 anos, é estudante de uma escola privada de Venâncio Aires e, neste momento, a mãe ainda paga uma cuidadora que fica com a filha durante o dia, para que ela e o marido possam trabalhar.
Jaqueline relata que mesmo a filha recebendo atividades pedagógicas para serem feitas em casa, nem sempre consegue dar a devida atenção. “Chego do trabalho e acabo tendo todos os afazeres de casa”, compartilha. A mãe também relata que a filha não fica por muito tempo na frente do computador para realização das tarefas. “Não dá para se iludir, o ambiente não é propício para os estudos. Na escola, até a hora de comer é diferente do que em casa”, destaca Jaqueline.
A operadora de máquinas confessa ser um assunto delicado para ser tratado. Apesar de entender as restrição causadas pela pandemia, sofre com as dificuldades impostas pelo ensino remoto. “Têm famílias que passam por necessidades para conseguir pagar um lugar que os filhos possam ficar. Inclusive, foi na escola que minha filha aprendeu os cuidados que se deve ter contra a Covid-19”, esclarece. A exposição, conforme a mãe, acontece de qualquer forma, pois se não há aulas presenciais, precisa levar a filha até uma cuidadora. “Todos acabam saindo de casa da mesma forma, precisamos garantir o nosso ganha-pão”, completa.
Professores
A professora do 1º ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Benno Breunig, e também do 3º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual São Luiz, Simone Caroline Moraes, confirma que o período da alfabetização por si só, já é difícil para qualquer criança, e agora, com o ensino remoto se torna ainda mais desafiador. A falta do contato afetivo devido aos protocolos faz falta para os pequenos nesse momento, explica Simone.
Ela destaca que nem sempre se consegue atingir todos os alunos com as atividades. “Tudo é um processo. Usamos o WhatsApp, Google Classroom e materiais impressos. Também uso métodos como vídeos, aplicativos e videochamadas para atrair os alunos”, ressalta. Inclusive, a professora destaca que, como os alunos são crianças, não possuem celulares e computadores próprios, por isso necessitam sempre do acompanhamento dos pais à noite ou nos fins de semana, que é o período que a maioria dos pais não trabalha.
“Estamos passando por um momento delicado para a educação”, considera Simone, que acredita que, no retorno das aulas presenciais, será importante organizar os conhecimentos de cada aluno para ter uma abordagem mais completa na turma, e caso necessário, alunos terão que receber aulas extras e materiais a mais para recuperar o tempo perdido.
Família se mobiliza para auxiliar no estudo
Otávio Hendges, 6 anos, cursa o 1º ano do Ensino Fundamental na Escola Benno Breunig, com a professora Simone e está na fase de alfabetização. A mãe, Jéssica Ackele, 37 anos, é quem ajuda o Otávio com as tarefas escolares. Ela relata que, desde o ano passado, ajuda o filho no que é necessário para estimular e fazê-lo tomar gosto por essa nova maneira de ensino. “Também tenho as minhas limitações, é claro. O ambiente casa não é igual à escola. Fiz um cantinho colorido, com letras, números, livros e um quadro para incentivar o Otávio”, compartilha.
Jéssica, que é formada em Gestora de Produção, complementa que tenta manter uma rotina de estudos para o filho. “É importante que ele entenda que todo dia será igual, como se fosse na escola. Tem dias que é difícil, que não quer fazer, mas nós, como pai e mãe, temos a obrigação de estimular”, completa.
A mãe de Otávio destaca que, pelo filho ser autista, já vem buscando possibilitar melhores maneiras de aprendizado para o filho desde que entrou na escola, inclusive, foi por esse motivo que voltou a estudar e, atualmente, cursa o sétimo semestre de Pedagogia. “Já venho trabalhando em sintonia com a escola pelas limitações de personalidade do Otávio, mesmo que ele tenha facilidade em aprender”, comenta.
O pai, Igor Fernando da Silva Hendges, 37 anos, é orientador agrícola e quando necessário também auxilia no aprendizado do filho. “Lemos e escrevemos muito na frente dele. São nesses exemplos do dia a dia que incentivamos o Otávio. Vamos implementar agora também a função dele escrever a lista do supermercado”, acrescenta Jéssica.
Diante da incerteza do retorno das aulas presenciais, Jéssica confirma que, como pais, ela e o marido procuram aceitar e reconhecer os fatores que impedem a volta. Para eles, possibilitar a alfabetização em casa é um desafio, mas também uma oportunidade de vivenciar essa experiência. “É gratificante acompanhar esse processo, na busca pela descoberta dessa nova habilidade”, reconhece.
Dicas para os pais
- A professora Simone Caroline Moraes compartilha dicas importantes para os pais na hora de auxiliar os filhos com o aprendizado remoto. “Primeiramente ter muita paciência, pois não é nada fácil e uma criança não é igual a outra”, frisa.
- Simone orienta que, sempre que houver dúvidas, os pais devem procurar pelo professor para que as atividades não sejam entregues com atraso.
- Um suporte com leituras diárias é uma forma de aprendizado importante, conforme a professora. “Estimular, auxiliar e elogiar as pequenas conquistas deles é muito importante”, afirma.
Aulas atrativas
- A coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação do município, Juliane Weiss Niedermayer, confirma que a dificuldade no processo de alfabetização das crianças preocupa. Conforme ela, alunos princialmente do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental necessitam desse contato que faz toda a diferença e neste momento está prejudicado.
- De acordo com Juliane, as aulas síncronas, via Google Meet, estão dando um bom retorno. “Por ali, os alunos conseguem matar um pouco da saudade e fazem essa interação”, observa.
- Já uma parte dos alunos necessita de recursos digitais diferenciados, como espaço de tira-dúvidas, jogos, histórias e atividades que instigam a curiosidade. “Orientamos para os professores fazerem uma aula que chame a atenção do aluno e que tenha propostas atrativas”, comenta.
- No retorno das aulas presenciais, Juliane afirma que será necessário um diagnóstico de todos os alunos. “As professoras terão que ver como estarão esses alunos e fazer uma adaptação curricular para toda a turma”, orienta.
Governo do Estado busca o retorno presencial
Na manhã da segunda-feira, 5, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) ajuizou um pedido de medida cautelar de urgência para que fossem suspensas as decisões judiciais e demais atos que impedem a retomada das atividades presenciais de ensino no Estado.
Conforme o Governo do Estado, a medida reafirma que a educação é essencial e procura reconhecer a inconstitucionalidade dos atos que impedem o retorno, inclusive decisões judiciais que suspendem as normas editadas pelo Estado que autorizam a retomada das aulas, com as observações das medidas sanitárias estabelecidas pela secretaria da Educação e da Saúde.
A PGE ressaltou a importância do ensino presencial para o desenvolvimento de crianças que frequentam a educação infantil e os primeiros anos do Ensino Fundamental, já que o ensino remoto causa prejuízos às crianças de menor idade.
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