O resgate da língua alemã na comunidade escolar

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Em anos já passados, o costume de falar em alemão era natural no interior de Venâncio Aires e até no chamado ‘centro da cidade’. Muitas pessoas, inclusive, preferiam o dialeto e se sentiam ‘em casa’ ao se expressar desse modo. Hoje, muito se perdeu. Já não se vê mais, principalmente os jovens seguindo esta tradição. Foi pensando nisso que a Escola Estadual de Ensino Fundamental Pedro Beno Bohn, de Vila Arlindo, decidiu fazer uma atividade para resgatar esta cultura e unir as famílias pelo costume de falar o alemão.

Quem entrou em contato com a equipe de reportagem da Folha do Mate para contar essa história foi a professora de Língua Inglesa e Portuguesa, Márcia Kroth, 49 anos. A atividade, segundo a educadora, faz parte de um projeto maior da instituição, chamado ‘Lá onde eu moro, Vila Arlindo’,  iniciado em 2021 e com sequência neste ano letivo. Todas as turmas do educandário participam, mas, de forma mais direta, os anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) são os realizadores das tarefas que envolvem a língua alemã. “Muitos têm o sobrenome de origem alemã e percebemos que nem sequer entendiam a língua. O projeto busca compensar um pouco desta perda”, explica a professora.

Em análise feita pela escola, percebeu-se que muitos pais de alunos também não falam a língua, apenas a entendem. A prática de falar alemão segue mais firme entre os avós e bisavós dos alunos.

“Sabemos que é um processo natural, mas queríamos retardar isso e deixar registrada de alguma forma, por isso, nossa solução foram os vídeos”, conta Márcia.

Os alunos estão ainda com os vídeos em produção, e esta atividade convida pais, avós e bisavós para participar, contando relatos próprios da infância, principalmente relacionados com a escola.

“Cada vez mais queremos trazer a comunidade para dentro da escola e levar a escola para o externo. Fazer essa junção é necessário e enriquece muito”
LARA MARIA DE AZEREDO HENN
Diretora da Escola Pedro Beno Bohn

  • Dois vídeos estão prontos e muitos outros estão em processo de produção e edição. Vinte alunos estão envolvidos diretamente e se auxiliam nas funções. Abaixo você confere um dos vídeos já finalizados, gravado pela aluna Sofia, com o avô e a bisavó.
Alunos e Marguit gravaram um convite especial em alemão. Não viu, ainda? Então acesse o Instagram da Folha do Mate e confere nos stories.

Envolvimento de toda a comunidade escolar

A primeira estudante a fazer o vídeo foi Sofia Gabrieli Schuster, 14 anos, que está no 9º ano. Ela gravou o material com o avô Milton e a bisavó Ana Maria. “Expliquei o projeto para eles e ficaram muito felizes em poder participar. A língua alemã marcou e ainda marca muito a vida deles, principalmente a infância. Toparam de imediato.”

Colega de Sofia, Elisandro Luis Gerlach, 14 anos, está organizado a atividade para ser feita com os pais, que ainda falam um pouco da língua. Ele aprendeu sobre o alemão com a avó. Já Cristine Rafela Schwerz, 15 anos, do 8º ano, comenta que perdeu a fluência do alemão quando começou a frequentar a escola, já que na sala de aula só se falava o português.

A professora de História, Projeto de vida e Arte, Juliana Inês Konzem, 35 anos, observa que a língua alemã foi muito marginalizada nos espaços públicos. “Muitos tinham vergonha de falar o alemão, não só na escola, mas na sociedade em geral. A obrigação e orientação era de saber o português.”

Uma das facilitadoras e ajudantes do projeto é a funcionária Marguit Deufel Schuster, 59 anos, que há 23 trabalha na escola. Ela é filha de imigrante alemão e por isso sabe falar, ler e escrever no idioma. Marguit colabora, principalmente, com a parte da pronúncia da língua. Ela conta relatos do pai que viveu o período do fim da Segunda Guerra Mundial e passou pela campanha da nacionalização. “Naquela época era feio ser alemã e falar o idioma, era proibido.”

A intenção da escola é, depois ter todos os vídeos prontos, realizar visitas às famílias participantes e convidá-las para um momento no qual assistam os relatos de todos e possam compartilhar estas experiências na escola.

A diretora Lara Maria de Azeredo Henn, 51 anos, comenta que o projeto surgiu de uma conversa informal e logo foi agregado em várias disciplinas se tornando interdisciplinar. Estamos felizes com a adesão e interesse, tanto das famílias como dos alunos.”

Veja um dos vídeos do projeto já finalizado

Impressões da repórter

A escola por si só já é um lugar de descobertas e incentivos. O que vi na Escola Pedro Beno Bohn foi muito além. Lá o coletivo funciona muito bem: profes, alunos e funcionários interagem e desenvolvem atividades que despertam nos alunos a criatividade, interesse e a busca pelo aprendizado contínuo. Inclusive, a diretora me contou que a escola sempre tenta participar das mais diversas atividades feitas no município e fora dele. A mais recente foi na Unisc e se pretende retornar para uma oficina de Fotografia. “Sempre damos um jeito dos nossos alunos fazerem parte disso”, destacou. A escola é esse espaço, de dar oportunidade e fazer acontecer. Que mais educandários possam se inspirar na escola de Vila Arlindo.

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Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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