No início de fevereiro, a Secretaria Municipal de Educação de Venâncio Aires implantou mudanças no cardápio das Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis), atendidas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A determinação partiu do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e gerou muitas dúvidas entre os pais.
Para explicar as alterações, as escolas realizaram um ciclo de reuniões com os responsáveis para detalhar a mudança. Conforme a nutricionista, responsável técnica pelo Programa de Alimentação Escolar do Município, Josiane Pereira Pacheco, toda a mudança gera um certo estranhamento, porém, o processo é normal e está ocorrendo dentro do esperado.
A profissional explica que não ocorreram muitas mudanças. “A alteração foi mais especificamente no café da manhã. As outras quatro refeições pouco foram alteradas. As escolas do Município já tinham uma alimentação saudável, porém alguns alimentos ultraprocessados ainda integravam o cardápio.”
Josiane reforça que foram retirados do cardápio os alimentos ultraprocessados, como: achocolatado, café, margarina, doce de frutas, biscoitos, bebida láctea, mortadela e salsicha. “A formação do hábito alimentar acontece nesta fase. Precisamos introduzir bons hábitos desde cedo, desta forma, estaremos criando uma geração mais saudável e consciente do que a nossa.”
As alterações, conforme a nutricionista, terão reflexo a médio e longo prazo na saúde das crianças, principalmente, na prevenção da obesidade. “As mudanças são baseadas em resultados de estudos científicos, que mostram que nossas crianças estão adoecendo e apresentando doenças que há pouco tempo eram vistas apenas em adultos e idosos, por isso, precisamos fazer alguma coisa, mudar hábitos.”
A médica Pediatra e Consultora em Aleitamento Materno, Samanta Feilstrecker, reforça a importância de garantir que as crianças tenham uma boa alimentação desde cedo para prevenir doenças. “A alimentação adequada auxilia no desenvolvimento pleno da criança, ou seja, no seu desenvolvimento pondero-estatural, cognitivo, de sistema imunológico e assim por diante.”
Samanta enfatiza que uma das grande preocupações de especialistas é a obesidade infantil que já se tornou uma doença de alta prevalência e com ela vem as outras doenças atreladas como o diabetes, as alterações de colesterol e a hipertensão por exemplo.
Além disso, a pediatra reforça que são comprovados, cientificamente, os benefícios do aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida do bebê. “O importante é retardar o quanto possível a introdução de alimentos que sabemos que não trarão benefícios nutricionais àquela criança.”
RECEITAS SAUDÁVEIS
A presidente do Conselho de Alimentação Escolar e agente escolar, Beatris Maria Gesing Frey, 54 anos, conta que, no ano passado, o conselho sugeriu a substituição de alimentos ultraprocessados por produtos caseiros. “Por coincidência veio a norma, a nota técnica de acordo com o que a gente já havia conversado.”
A profissional acrescenta que várias substituições estão sendo pensadas, afinal, ela é uma das responsáveis pelo preparo dos alimentos das crianças na Emei Passinho Seguro, no bairro Cidade Nova. “Toda mudança gera desconforto, mas esse desconforto é principalmente dos pais. A gente nota que as crianças se adaptam fácil, dá tempo de corrigir a alimentação delas.”
Beatriz reforça que as agentes escolares receberam diversas receitas para substituir os processados. “Fazemos geleia de frutas, natural, sem açúcar, para substituir a margarina, patê de frango, ovo mexido, sucos naturais. A gente se esforça para fazer algo bem gostoso e saudável para nossas crianças.”
“Em relação às alterações da dieta das Emeis, eu acho extremamente válidas, pois acredito que é importante começar a mudar a alimentação das nossas crianças para melhor. Se é comprovado que podemos melhorar a saúde por meio da alimentação, porque não fazê-lo? É muito mais fácil começar da forma correta a introdução alimentar do que alterar um paladar já ‘viciado’ em açúcar. Por isso, é importante o acompanhamento pediátrico, para receber a orientação correta.”
SAMANTA FEILSTRECKER
Médica Pediatra e Consultora em Aleitamento Materno
ADAPTAÇÕES
1 Conforme a nutricionista Josiane Pereira Pacheco, foram testadas algumas receitas saudáveis, práticas e que pudessem ser preparadas na escola, dentre elas: maionese de ovos cozidos (com pouco óleo), requeijão caseiro, geleia de maçã sem açúcar.
2 Quanto aos biscoitos industrializados (maria, cream cracker, maisena e sortido), eles serão substituídos até o final do mês por bolachas caseiras produzidas por agroindústrias do município, enquanto isso, as escolas estão produzindo bolos e outras preparações.
3 O leite, que a partir do nível IB era servido com achocolatado ou café (ambos em pouca quantidade), foi trocado por chocolate em pó 50% cacau e algumas vezes está sendo batido com frutas, trocados por sucos naturais ou oferecidos puro. Já para os menores (IA), não houve mudanças, pois nenhum destes produtos era acrescentado ao leite.
Mãe defende substituição gradual
Logo após o anúncio da alteração no plano alimentar, mãe de um aluno de Emei procurou a reportagem da Folha do Mate para “relatar que seu filho estaria chegando em casa com fome, o que antes não era comum.”
Juliane Roberta Mees, 29 anos, defende que a mudança deveria ter sido feita gradualmente. “Elas [crianças] não entendem que aquilo que elas estavam acostumadas a comer pode prejudicar a saúde.” Entretanto, a servidora pública é a favor de que as crianças tenham uma alimentação regrada, nutritiva, saudável. “Mas acredito também que por serem crianças que estão acostumadas com algumas coisas já, se deve ter uma organização e fazer a substituição gradualmente e não simplesmente tirar alguns itens sem ter a substituição.”
Juliane destaca que se preocupa com a alimentação do filho e sempre incentiva o consumo de alimentos saudáveis. “Estamos sempre incentivando e o resultado que tenho é que meu filho é uma criança que, apesar de ter nascido um pouco antes, é extremamente saudável, com peso ideal para a sua idade e que adora comer frutas. Não estamos pedindo que seja colocada nenhuma ‘guloseima’ ou algo assim, só queremos que as substituições ocorram antes da retirada.”