Por Ana Carolina Becker e Rosana Wessling
Em Linha Maria Madalena, ouvir o toque telefone fixo é comum na casa da família Weiss. Apesar do celular estar na mesa, a precariedade do sinal faz com que a preferência ainda seja pela linha fixa. “A pessoa me dá um toque e eu preciso sair correndo procurando sinal no pátio. Às vezes até tenho que subir o morro. É uma verdadeira missão”, conta a aposentada Marli Weiss, de 69 anos. Esse é um dos motivos pelos quais os moradores do 3° Distrito mantêm a linha fixa de telefone há mais de 30 anos.
Eles são uma das 4.723 pessoas de Venâncio Aires que ainda preservam uma linha fixa de telefone em casa. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram uma queda de 26,84% nas linhas nos últimos quatro anos. Em abril de 2016, eram 6.456 telefones fixos em funcionamento na Capital do Chimarrão. Enquanto diversos fatores podem ser usados para fundamentar a queda, na casa da aposentada a justificativa é porque o sinal do celular ainda não chegou na localidade, distante 20 quilômetros do centro da cidade. Por lá, nem o sinal de internet é realidade no momento.
Antes da pandemia, o som do telefone era ainda mais comum na rotina do casal Eri e Marli, que trabalham com a organização de festas e ornamentação. “O telefone nunca parava, agora é até estranho, chega a dar um vazio”, diz Marli. O casal tem o telefone desde a época em que se mudaram para a localidade e que, ainda era necessário contatar a central telefônica para realizar uma ligação. Depois passou para o sistema de ramal e hoje é linha fixa. O número de linhas fixas em Venâncio Aires é 4.723.
Marli lembra que antigamente manter um telefone fixo era caro. Hoje, ela faz ligações para fora do estado frequentemente e o valor não ultrapassa de um plano de telefone móvel. O telefone fixo é tão importante que a família possui dois aparelhos na residência, um com e outro sem fio.
Curiosidades
- Das linhas mantidas em Venâncio, maioria é da empresa Vivo e outros são divididas entre outras operadoras.
- A cada 100 habitantes, 17,7 possuem acesso a linha de telefone fixo.
- Em gráfico apresentado pela Anatel, é possível visualizar que as linhas de telefone fixo estão em queda, em Venâncio Aires, desde 2007.
- Conforme dados da Anatel, de abril deste ano, no Brasil são 32,2 milhões de telefones fixos, o que equivale a 46,92 telefones a cada 100 domicílios.
Professor acredita que o telefone fixo deixará de existir ao longo dos anos
A telefonia fixa começou no Brasil, fortemente, na década de 60. Conforme o professor de Engenharia de Software da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Evandro Franzen, foi criada uma estatal e todas as companhias telefônicas eram vinculadas e só elas poderiam instalar redes de telefones. “Elas tinham a missão social de levar telefone para qualquer lugar. Isso foi uma busca de interiorização no Brasil. Naquela época não tinha outra alternativa. Não era fácil instalar”, explica.
Por isso, no início, Franzen comenta que surgiram as centrais, que facilitavam a instalação dos sistemas de telefonia fixa em lugares distantes. “Até meados dos anos 90, o telefone fixo era uma das únicas alternativas”, relembra o professor, que também atua no curso de Engenharia da Computação.
Franzen justifica que a queda de aparelhos de telefonia fixa é uma questão comportamental e cultural, pois as pessoas buscam praticidade. “Hoje as pessoas não querem só mais ligar e falar. Elas querem transmitir vídeos, fotos. Acredito que, na medida que a cobertura de celular avançar o telefone fixo vai deixar de existir. O conceito de ligação clássica por minutos é algo que vai se extinguir ao longo dos anos.”
O professor de Análise e Desenvolvimento de Sistema também acredita que nos locais mais distantes podem surgir outras formas de receber o sinal móvel, além das antenas tradicionais. “Hoje muitas pessoas ainda tem o telefone fixo porque ele é mais robusto e não cai o sinal, por falta de energia elétrica.”
“Na medida que a internet e a telefonia móvel avançam, as linhas de telefone fixo vão acabando. A tendência é natural, o telefone fixo tende a ser substituído.”
EVANDRO FRANZEN – Professor de Engenharia de Software da Univates