Uma figura ilustre do meio diplomático esteve em Venâncio Aires na noite de sexta-feira, 3. Ibrahim Alzeben, embaixador da Palestina no Brasil, esteve no Parque do Chimarrão para prestigiar o jantar temático árabe, organizado pela família Hamid.
Alzeben, que mora em Brasília há 11 anos, é decano do Conselho de Embaixadores árabes no país e representa 17 países, inclusive a missão da Liga Árabe. Ele conversou com a reportagem sobre aspectos políticos e de relações internacionais, mas também mencionou a alegria de estar no município.
Venâncio Aires, em 2012, se tornou referência nacional no apoio a refugiados e, desde 2013, tem o Dia Municipal da Comunidade Palestina, comemorado em 30 de março, proposta do então vereador José Cândido Faleiro Neto (PT). “Fico muito feliz com esse reconhecimento e essa consideração.”
Conforme o embaixador, o Brasil tem, atualmente, cerca de 60 mil palestinos, entre refugiados, imigrantes e descendentes. “Já comemoramos 125 anos da imigração palestina para o Brasil e sempre tivemos uma ótima relação.”
Ibrahim Alzeben também conheceu o prefeito Giovane Wickert, com quem trocou presentes, e depois participou do jantar temático árabe, realizado na sede da Associação dos Servidores Municipais de Venâncio Aires (Asmuva). O lucro do jantar será revertido para a campanha da UTI Neonatal do Hospital São Sebastião Mártir.
FEDERAÇÃO
Uma importante entidade para a comunidade palestina é a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), que existe há 40 anos. Em abril, foi eleita a nova diretoria e que conta com dois nomes conhecidos de Venâncio Aires. Fátima Ali, agora vice-presidente, que cresceu no município, e Regina Hamid, essa venâncio-airense de berço, que integra o Conselho Fiscal.
“O Brasil é soberano e acredito que vai manter o respeito ao interesse internacional”
Há pouco mais de um mês, as relações entre Brasil e Palestina viveram dias de tensão após declarações do presidente Jair Bolsonaro. Ele disse, durante visita a Israel, que tem a intenção de abrir um escritório comercial do governo brasileiro em Jerusalém.
Mas o desconforto se criou, mesmo, logo após a eleição, quando Bolsonaro manifestou a intenção de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv (reconhecida pela comunidade internacional como capital de Israel) para Jerusalém.
Na Geografia histórica (e também atual), Israel considera Jerusalém a “capital eterna e indivisível” do país, mas os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado palestino.
E foi justamente isso que ‘incomodou’ a comunidade árabe, já que pareceu um eventual reconhecimento por parte do governo brasileiro de Jerusalém como capital de Israel. Consequentemente, surgiu o receio de retaliações comerciais de países árabes, que compram muita carne do Brasil.
PANOS QUENTES
O desconforto político, ao que parece, foi amenizado após um jantar entre Bolsonaro com embaixadores de países islâmicos e no qual esteve Ibrahim Alzeben. Questionado sobre os episódios recentes, o embaixador da Palestina afirmou que a situação “está sendo superada”, já que foi iniciado um diálogo com o novo governo. “Queremos ratificar nossa posição, de manter as boas relações que sempre tivemos com o Brasil.”
Alzeben também afirmou que acredita na diplomacia da política brasileira. “O Brasil deve ser um mediador, sem tomar lado e ficar longe desse conflito que nem é dele. Acho que está mais para um mal-entendido ou pressão do Trump [presidente dos Estados Unidos que transferiu a embaixada americana para Jerusalém]. Mas o Brasil sempre foi soberano nas suas decisões e vai manter o respeito ao direito internacional.”