Manter os jovens no campo é uma das principais dificuldades enfrentadas atualmente. Após concluírem os estudos, muitos buscam novas oportunidades no meio urbano. Diante disso, alternativas são implementadas para garantir a continuidade das atividades agrícolas e valorizar a sucessão familiar no meio rural.
Desde o início do ano, a Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Frida Reckziegel, de Vila Palanque, e a EEEM Sebastião Jubal Junqueira, de Vila Deodoro, contam com uma nova metodologia de trabalho. Por meio da matriz curricular Escola do Campo, criada pela Secretaria Estadual de Educação, os estudantes dos dois educandários passam a ter contato direto com práticas sustentáveis e conteúdos específicos relacionados à realidade rural. Além dos Componentes Curriculares da Formação Geral Básica, o currículo inclui itinerários voltadas à agroecologia, produção rural e à rotina no interior.
A diretora da Escola Frida Reckziegel, Rosângela Jung, destaca que a maioria dos 252 alunos matriculados são filhos de produtores rurais. “Temos uma troca mútua. Os estudantes levam o conhecimento para casa e também contribuem com a escola, pois vivem essa realidade no dia a dia. É dessa forma que criamos vínculos com o lugar onde eles estão inseridos”, explica.
Práticas integradas para os estudantes do campo
Entre as turmas do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental, o professor Tiago de Oliveira Schwaickhardt, da área de Ciências Biológicas, ministra as aulas de Práticas Integradas, Sustentáveis e Agroecológicas. Para a inclusão desse conteúdo, o cronograma precisou ser reorganizado, com a redistribuição de carga horária de outras disciplinas. “Retiramos uma aula de Arte e outra de Ciências, mas o conteúdo se complementa nos projetos que desenvolvemos. O que mudou foi a forma de abordar esses assuntos”, comenta.
As atividades buscam desenvolver o maior número de habilidades possível. Além das aulas teóricas, são promovidas oficinas, atividades práticas e apresentações em grupo e individuais. Um dos diferenciais é que cada turma assume responsabilidades específicas dentro da escola, participando do cultivo de mudas, controle de pragas, produção na horta, jardinagem e paisagismo. As ações são realizadas no próprio pátio da escola, estimulando os estudantes a cuidarem do espaço onde convivem.
O uso da tecnologia também integra a proposta pedagógica. “Muitos jovens pensam que, se vão permanecer no campo, não precisam continuar estudando. Mas quanto mais informação eles tiverem, maior a capacidade de produzir mais em menos espaço, com mais qualidade. A tecnologia hoje está intimamente ligada à agricultura, reduzindo a competitividade desigual e a dependência de mão de obra”, avalia o professor.
“A Escola do Campo contribui para o contato do estudante com novas tecnologias, mas também para que ele crie vínculos com os assuntos ligados à sua própria realidade.”
ROSÂNGELA JUNG
Diretora da Escola Frida Reckziegel
O que dizem os estudantes do campo
- “Meus pais são agricultores e não sinto vergonha em dizer isso. E é muito bom aprender esses assuntos diferentes, que estão próximos da gente, na sala de aula”, destaca a aluna do 9º ano, Kamily Vitória do Couto Weschenfelder, de 13 anos. Embora pretenda, no futuro, buscar oportunidades na cidade, a moradora de Linha Herval reconhece a importância de conteúdos voltados à realidade local. “É muito importante aprendermos sobre sucessão e o trabalho no interior”, completa.
- Já a estudante Camila Raíssa de Bittencourt, de 12 anos, aluna do 7º ano, sonha em seguir no meio rural. Para ela, o aprendizado atual será fundamental no futuro. “Levar esse conhecimento para casa é ótimo. São assuntos do nosso cotidiano e que a gente consegue colocar em prática no dia a dia”, destaca.
Ensino Médio e os itinerários formativos
As três turmas de Ensino Médio da escola funcionam no período noturno. Com as mudanças recentes do Novo Ensino Médio, as alterações curriculares também trouxeram itinerários formativos específicos para atender as realidades locais.
A turma do 1º ano ainda não participa diretamente das disciplinas voltadas ao meio rural, mas os estudantes do 2º e 3º anos já têm um currículo mais aprofundado nesse aspecto. São seis períodos noturnos, sendo que o primeiro e o último ocorrem na modalidade de Educação à Distância (EAD). Além das disciplinas regulares, como Língua Portuguesa e Matemática, os alunos contam com a matriz curricular ‘Ações sustentáveis no campo’, que envolve sustentabilidade, qualidade de vida, agroecologia e biodiversidade.
A professora de Ciências Humanas, Catarina de Oliveira, ressalta a importância desse vínculo. “Gostamos de reforçar com eles a importância de valorizar a atividade dos pais e continuar a sucessão familiar, pois ela tem se tornado um desafio a cada geração”, destaca.
Schwaickhardt complementa dizendo que os estudantes contribuem significativamente com as aulas. “Eles vivem essa realidade diariamente e trazem experiências e relatos de casa, o que enriquece o aprendizado e gera identificação com o conteúdo”, comenta.
Escola do Campo e a BNCC
- A matriz Escola do Campo foi desenvolvida em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que orienta as diretrizes para todas as instituições de ensino do país. A BNCC estabelece as competências e habilidades essenciais que devem ser garantidas ao longo da Educação Básica.
- No caso das escolas rurais, a proposta permite adaptar parte do currículo à realidade dos estudantes do campo. Assim, integra os conhecimentos previstos na BNCC aos saberes locais, considerando a cultura e as práticas produtivas do meio rural. O objetivo é promover a formação integral do estudante, permitindo que ele valorize sua origem.