“O crochê é meu passatempo. Este tapete [mostra] está encomendado, vai para Arroio do Meio. Quando era jovem a Elma (minha irmã) ensinou a fazer crochê, isso quando eu era

solteira. Mas depois não pude mais, pois não tinha tempo, tinha que costurar, ir pra roça. Hoje, meu passatempo é fazer crochê e ler a Paulusblatt, [revista na língua alemã]. Tenho pilhas destas aqui em casa e leio todas”, diz a avó de 13 netos e 7 bisnetos. Se tem uma coisa que dona Ely diz não gostar é de olhar televisão pois sendo em língua portuguesa, dificulta seu entendimento. ” Prefiro ler, isso eu gosto”, reafirma.
Na casa de madeira, onde moravam os pais Bertha e Primórdio Franck, reside a dona Ely Amélia Reckziegel, aniversariante deste sábado, 4. Ela nasceu em Linha Silva Tavares e continua vizinha da figueira centenária, um dos pontos turísticos de Venâncio Aires. Com muitos quadros de fotos antigas nas paredes reside no mesmo lugar, na mesma casa onde passou a sua infância, hoje, ao lado da filha Alcida e do genro Elmo Winck. é a única de uma família de dez irmãos.
De bem com a vida, lúcida, forte e com muito boas recordações. Guarda as roupas de quando ainda era bebê, de 1926. Toucas e um vestidinho, que junto com dona Ely, completam nove décadas. Ela recorda que a mãe Bertha comprou o tecido e uma de suas irmãs, Olívia, costurou as peças: “A Olívia costurou uma para mim e outra para o filho dela, o Bruno, que também era bebê na mesma época. Guardei isso até hoje e nunca usei as peças nas minhas crianças”, conta dona Ely em mais de uma hora de conversa, praticamente toda, em língua alemã.
Foi casada com Alfredo Reckziegel, falecido em 1994. Com ele teve cinco filhos Alcida, Arcélio, Alzira, Renato, Auri. Casou-se com 22 anos, no dia 12 de junho, mas naquela época ainda não era considerado Dia dos Namorados. Ely conta que se interessou por Alfredo nas idas ao moinho de Vila Deodoro. O caminho era por uma trilha de acesso ao estabelecimento comercial onde trocaram olhares. Mas, acabou namorando em casa outro garoto, mas sem aprovação do pai Primórdio, pois ele não era batizado e, portanto, significava não ser visto com bons olhos. O pai ofereceu a ela uma viagem para Horizontina se deixasse de namorar. Ela topou e, depois da viagem, reencontrou Alfredo, o que resultou dois anos de namoro e o casamento.
ESCOLA
Entre as recordações na década de 30, diz que foi na escola pelo período de quatro anos. O prédio não existe mais, mas ficava ao lado da igreja. O seu professor também era seu padrinho Antônio Arnaldo Franck. “Eu era canhota e então o professor me batia nas costas com uma vara de marmelo e graças a isso, daí em diante escrevo com a mão direita”, conta.
Dona Ely recorda que as aulas eram em língua alemã, mas de vez em quando aprendiam em português, uma que outra coisa. “Dos meus colegas de aula, eu ainda tenho um vivo. O Edmundo Dattein, que mora em Deodoro”, diz.

Conviver com amigos e com a comunidade ainda é comum para dona Ely. Ela faz parte do Farain [sociedade] há 72 anos, participando do bolãozinho, do grupo da terceira idade Serranos Alegres, Clube de Mães Nossa Senhora do Rosário e é integrante do grupo do jogo de loto, acompanhando também em outras comunidades. Os brindes que ganha nestas reuniões, ela guarda para o Natal, que é quando ela faz uma espécie de ‘tudo premiado’ (sorteio) onde os presenteados são os seus netos, que participam da comemoração de 90 anos da avó na Associação Esportiva e Recreativa Deodoro (Aerd).
