
“Quem está em casa, tranquilo, com seus filhos e suas famílias, não pode se esquecer que há muitas outras famílias chorando as mortes de seus entes queridos por conta, principalmente, das drogas”. A afirmação é do coordenador do Albergue Municipal e um dos principais entusiastas da instalação de um local para a recuperação dos dependentes, Ademir Maciel. “Tem gente morrendo todos os dias”, alerta ele, ao mesmo tempo que pede agilidade à Administração de Venâncio Aires para a definição de uma área que possa sediar uma comunidade terapêutica. “Nós estamos perdendo tempo demais”, argumenta.
Pensando em reacender o assunto, Maciel está organizando para o dia 24, às 14h, na Praça Católica, um ato de conscientização da comunidade sobre a importância da criação da comunidade. “Tem que ficar bem claro que não é protesto contra a Administração, mas uma convocação para todos aqueles que quiserem colaborar conosco e se engajarem à causa”, esclarece. Profissionais que trabalham em comunidades terapêuticas de municípios da região estarão na Capital Nacional do Chimarrão para a atividade. “São integrantes de equipes técnicas que vêm para relatar suas experiências a quem tiver interesse”, diz.
A intenção de Maciel é coordenar o local de reabilitação ao lado do filho, Cristiano, que atualmente trabalha em uma comunidade de Triunfo e pretende usar sua experiência prática para implementar o projeto em Venâncio Aires. Obreiro da Igreja Assembleia de Deus, Maciel revela que foi alcoólatra, “juntado várias vezes da valeta”, e que está cada vez mais preocupado com a situação na Capital do Chimarrão. “Só não vê quem não quer. Temos pessoas de todas as idades vagando pelas ruas, porém está claro que jovens a partir dos 18 anos são os que mais têm se envolvido com a bebida e drogas”, acrescenta.
ÁREA – O ponto central em relação ao tema da comunidade terapêutica é a necessidade de definição de uma área para o projeto social. Maciel comenta que vários locais foram visitados e que um agradou, mas não pôde ser ocupado, pois um agricultor está utilizando a propriedade para plantio. “Esta área fica em Harmonia da Costa e é perfeita para implementar o projeto. Tem quatro hectares e um prédio já construído, que precisaria passar por uma reforma e estaria em condições. Não precisamos de luxo, apenas de um lugar que tenha capacidade para atender cerca de 20 pessoas, com banheiro, refeitório e alojamento”, afirma.
Conforme Ademir Maciel, o período de reabilitação na comunidade terapêutica é de seis a nove meses, dependendo da evolução do paciente. Trabalho em horta, reflexão, oração e outras atividades, além de acompanhamento médico e psicológico fazem parte do dia a dia.
ALBERGUE
1 Ademir Maciel aproveitou a oportunidade para falar a respeito do Albergue Municipal. De acordo com ele, atualmente apenas duas pessoas estão utilizando o local.
2 A chegada do período mais quente do ano, avalia o coordenador, faz com que andarilhos optem por passar as noites na rua. É no inverno que eles procuram o local para dormir.
3 Maciel comenta que, “por incrível que pareça, o que mais afasta as pessoas do Albergue é terem que tomar banho para entrar”. Segundo ele, muitas vezes os usuários desistem de pernoitar em razão desta exigência.
4 Em relação a familiares de pacientes internados no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) – a hospedagem foi autorizada, pelo Município, para pessoas que não têm condições de pagar para se hospedar em um hotel, por exemplo -, o coordenador relata que apenas uma pessoa utilizou o serviço desde que foi liberado. “E saiu daqui falando mil maravilhas, que jamais vai esquecer Venâncio Aires”, afirma Maciel, acrescentando que há dois quartos separados para este fim.
“O modelo que estamos propondo leva em conta a aceitação do paciente. Não vamos amarrar ninguém para levar até a comunidade, nem mesmo colocar cadeado no portão. Vamos ajudar quem quer se livrar desses males.”ADEMIR MACIELCoordenador do Albergue Municipal e entusiasta da comunidade terapêutica
“Está atropelando um pouco as coisas”, diz Wickert
Ao se manifestar a respeito do assunto, o prefeito Giovane Wickert, embora admita a necessidade de implementação da comunidade terapêutica, diz que não há orçamento para cumprir a demanda neste ano. Além disso, ele ressalta que, antes de partir para a efetivação do local para reabilitação, será preciso reativar o Conselho Municipal de Entorpecentes (Comen) e fazer chamamento público para definir quem serão os responsáveis pela gestão do local. “Penso que o Ademir não deveria sair por aí dando entrevista sobre este tema, pois não vamos direcionar a comunidade a ele. Pode até se credenciar, mas temos uma série de questões legais para cumprir e pode haver concorrência”, diz o chefe do Executivo.
Wickert salienta, no entanto, que “se ele (Ademir) vai fazer com recursos do próprio bolso, sem a participação da Prefeitura, tudo bem, mas se pretende ter o Município conveniado, precisa esperar até que todas as etapas estejam devidamente superadas”. O prefeito lembra ainda que, por ocupar um cargo em comissão (CC), Maciel não pode ser responsável por uma entidade conveniada com a Prefeitura. “Nesse caso, ele teria que fazer uma opção. Ele tem todo o direito de se credenciar, mas acho que, dessa forma, está atropelando um pouco as coisas. Não pode falar pela Administração”, diz, notadamente incomodado.