Se você tem uns 20, 30 anos, pode achar que o tema desta matéria não interessa, afinal, faltam algumas décadas para se tornar um idoso. Agora, para quem está prestes a chegar na chamada ‘terceira idade’ ou já integra esta faixa etária, a preocupação em ter uma velhice saudável e com direitos assegurados são prioridades. “Não tem quem não tenha em seu vínculo familiar ou conheça uma pessoa idosa”, observa a assistente social, doutora em Serviço Social e pós-doutora em Desenvolvimento Regional, Rosane Bernardete Brochier Kist. A palestrante da 1ª Conferência Municipal da Pessoa Idosa realizada em Venâncio Aires conversou com a reportagem da Folha do Mate e pontuou os principais desafios das famílias, comunidades e do poder público ao traçar metas e garantir os direitos das pessoas idosas.
Para ela, refletir e colocar em práticas ações em prol da população idosa é um desafio para toda a sociedade. Integrante do Conselho Estadual do Idoso, a profissional que possui pesquisas sobre o envelhecimento e as políticas executadas em municípios do Vale do Rio Pado garante que a dificuldade de tratar sobre o envelhecimento é uma carência que não se restringe aos familiares, mas envolve os próprios profissionais de saúde e assistência social. “Antes de tudo precisamos preparar os nossos profissionais e compreender o nosso território, os desafios e o papel das políticas públicas onde vivemos”, observa.
Hoje, a população idosa estimada de Venâncio Aires, segundo dados do IBGE 2010, é de 9,4 mil pessoas, o que representa 14,26% da população local. O percentual é mais alto do que os índices estadual e nacional. Conforme a assistente social, o número chama atenção para a necessidade de se preocupar com uma rede de atendimento eficaz. “Precisamos pensar na perspectiva de rede e ter diálogo entre as diferentes áreas. O profissional da saúde precisa se comunicar com o da assistência social. Nem todas as pessoas que estão na rede têm conhecimento dos serviços oferecidos.”
GRUPOS
Durante a pesquisa, Rosane analisou o que é ofertado no serviço público, na rede privada e nas iniciativas lideradas pelas comunidades e associações. “Em Venâncio Aires me chamou atenção a existência de 25 grupos de terceira idade. Grupos com autonomia e independência, inclusive, com sede própria”, observa.
Segundo ela, durante a pesquisa, teve a oportunidade de visitar algumas sedes e constatar “organização, capricho e cuidado”. “Esta é uma particularidade de Venâncio Aires.”
ENVELHECIMENTO ATIVO
Um ponto destacado pela assistente social é o envelhecimento ativo. “Não estamos falando somente da atividade física, são vário fatores.”
Para ela, esse tema deve ser abraçado pelos gestores públicos com a participação da sociedade. Uma forma de garantir o debate e a fiscalização das políticas públicas é a implantação de Conselhos Municipais. “Isso significa um avanço. Os conselhos têm papel fundamental. É a partir deles que podemos deliberar e fiscalizar as políticas”, justifica. Reativado no ano passado, o Conselho Municipal do Idoso de Venâncio Aires realiza reuniões mensalmente.
“Idoso não é criança”
Um dos projetos vistos com bons olhos pela profissional é a criação do Centro Dia, popularmente chamado de Creche do Idoso. Trata-se de uma unidade pública especializada em serviços para pessoas idosas. “Na Espanha há muitos espaços como esses.”
Segundo Rosane, a socialização do idoso é muito importante e pode se conquistada por meio destes espaços que proporcionam o convívio, durante o dia, com outros idosos, além de ser uma alternativa para as famílias que muitas vezes não têm um responsável disponível durante o dia para cuidar e acompanhar o idoso. Porém, alerta a assistente social, é preciso cuidado para não infantilizar o idoso. “Ele é uma pessoa que já viveu bastante, tem experiência e está em outra fase. Ele não é criança”, frisa.
Outra observação é sobre a importância do idoso manter o convívio com o núcleo familiar. “Os Centros Dia são muito importantes, pois à noite os idosos podem retornar para suas casas. Mantê-los o mais próximo possível do seu ciclo de apoio é importante para a saúde física e mental.”
Ela lembra que o Estatuto do Idoso preconiza que uma das últimas alternativas é levar os idosos para um espaço de longa permanência e longe do vínculo diário com a família. Na cidade de Santa Cruz do Sul, por exemplo, há em torno de 30 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs).
Quarta idade
1 Melhor idade e terceira idade são dois termos utilizados para definir as pessoas idosas. No entanto, são dois termos que merecem uma reflexão, segundo a assistente social Rosane Bernardete Brochier Kist.
2 Segundo ela, o termo melhor idade nem sempre é o mais adequado. “É preciso compreender que apesar de muitas pessoas terem uma vida mais tranquila nesta fase, a velhice traz muitas limitações.”
3 Em relação ao termo terceira idade, ela observa que muitos autores e pesquisadores vêm disseminando o conceito de quarta idade, que compreende todas as pessoas partir dos 80 anos.
4 Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a população idosa deve crescer significativamente nos próximos anos. Em 2030 o número de idosos deve ser maior dos que a faixa entre 0 a 14 anos.
Recado da profissional
Para os idosos
“Procurem participar de espaços coletivos. Embora não tenha uma comprovação científica disso, um dos fatores que mais leva os idosos a adoecerem é o isolamento social.”
Para os jovens
“Para você que é jovem, se preocupe desde já em ter uma vida mais saudável. Há questões que podemos evitar ao longo do ciclo, para chegar na terceira idade melhor preparado. A preparação se dá na saúde, na educação e com o convício social.”