Escola Mariante retoma atividades na quarta-feira, junto à Adelina Konzen

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Por Leonardo Pereira e Luana Schweikart

Após um mês da maior enchente da história do rio Taquari, foi definido pela 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e equipe diretiva da Escola Estadual de Ensino Médio Mariante (EEEM) que os estudantes serão realocados para a EEEM Adelina Isabela Konzen, em Vila Estância Nova, a cerca de 14 quilômetros. Anteriormente, a projeção era que os alunos ficassem, provisoriamente, nas dependências do campus de Venâncio Aires da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), no bairro Universitário. Isso não se confirmou por conta da redução no número de matriculados – de 170 passou-se para 92 – no educandário de Vila Mariante.

A diretora da Mariante, Naira Elisabeth da Rosa, afirma que a instituição não vai acabar, mas que agora ficará junto da Escola Adelina, já que o prédio do educandário de Vila Mariante foi duramente atingido pelas águas do rio Taquari e não deve ser reconstruído, pelo menos, no mesmo local.

Na próxima segunda-feira, 3, as equipes diretivas das duas escolas terão uma reunião com a 6ª CRE para as últimas definições quanto à mudança dos estudantes para o novo espaço. A intenção é que as atividades na Escola Adelina, para os estudantes e profissionais, iniciem na próxima quarta-feira, 5. “A equipe está ansiosa para começar, mas faltam alguns ajustes ainda. Acredito que na reunião de segunda conseguimos fechar tudo”, afirma Naira.

A diretora da Escola Adelina, Adriana Dornelles Jantsch Kroth, explica que todos os espaços do educandário serão utilizados caso haja necessidade. Atualmente, são 248 estudantes, que se somarão aos 92 da Mariante. “Vamos acolher a todos. Depois a coordenadoria vai fazer os ajustes”, reforça. A documentação está sendo providenciada para que os novos estudantes e professores já possam ir para o educandário na próxima semana.

“Melhor Solução”

O coordenador da 6ª CRE, Luiz Ricardo Pinho de Moura, ressalta que, devido ao contexto e à possibilidade de salas e espaços da Escola Adelina em receber os estudantes, esta foi a melhor solução para o momento. “A Escola Mariante não desaparece, é preciso manter sua memória e história”, destaca.

Ele explica que as turmas que restaram com poucos estudantes serão diluídas nas turmas já existentes e com vagas da Escola Adelina; já quatro séries da Escola Mariante que permanecem com muitos estudantes serão realocadas de forma integral, com a criação de novas turmas na escola de Vila Estância Nova.

Neste primeiro momento, Pinho de Moura enfatiza a importância do acolhimento aos estudantes, para manter o vínculo com a escola. A longo prazo, as equipes das escolas e da 6ª CRE seguirão acompanhando as famílias – o coordenador reconhece que ainda há a possibilidade de transferência de alunos, por conta das mudanças das famílias, já que muitas perderam as casas. Além disso, a construção de moradias na área do antigo Instituto Penal Mariante (IPM), em Vila Estância Nova, também deve influenciar na situação. “Vamos esperar a movimentação e voltar a olhar como estará no segundo semestre do ano”, comenta o coordenador.

92 – é o número de estudantes que vão seguir na Escola Mariante, após levantamento feito com pais e responsáveis. Antes das enchentes, a escola estava com cerca de 170 estudantes. Muitos já pediram transferência ou estão à procura de vagas em outros educandários em virtude de mudanças de endereço das famílias que perderam as casas.

Saiba mais

Transporte escolar – O coordenador da 6ª CRE se reuniu com o secretário Municipal de Educação de Venâncio Aires, Émerson Eloi Henrique, na semana passada, e ele garantiu a sequência do serviço de transporte aos alunos. O transporte escolar seguirá nos mesmos roteiros preexistentes, com pequenos ajustes na rota. No caso de famílias que se mudaram para a área urbana de Venâncio Aires, no entanto, a orientação será de procurar outras escolas.

Vistoria do prédio – A 6ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas (Crop) já visitou o prédio da Escola Mariante, mas ainda não foi possível um levantamento detalhado e relatório técnico devido à lama e sujeira que ainda se encontram no local. Em uma parceria com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), apenados e equipes do Corpo de Bombeiros devem, nos próximos dias, iniciar a limpeza do educandário para posteriormente ser possível uma vistoria detalhada.

“Se a escola realmente não existir mais, será uma tristeza muito grande”, diz professora

A professora Anelise Marli Schlosser, coordenadora de área do Novo Ensino Médio em tempo integral – que foi implantado esse ano na escola – dá aulas no Mariante desde 2021. Ela também leciona as disciplinas de Biologia, Projeto de Vida, Mentoria, Pós-Médio e as eletivas de base. Para a educadora, o sentimento é de tristeza, pois um prédio é somente um espaço físico, mas quando se tem movimento, trabalhos expostos e alunos nos corredores, existe vida naquele espaço. “Construímos sonhos e essas crianças acreditam que podem realizá-los.”

Agora, realocados na Escola Adelina, ela afirma que será necessário viver ‘um dia de cada vez’, afinal, esta não é a casa dos alunos e nem dos professores. “Acordar todo dia e não saber onde vai trabalhar é difícil”, destaca.

Ela observa que, após as duas primeiras enchentes, em setembro e novembro do ano passado, a instituição conseguiu se recuperar, com a ajuda de muitas mãos e que, nos últimos meses, com obras, a expectativa era de uma nova escola. “Veio o Taquari e levou tudo e nos deixou sem casa. Uma história assim não pode ser apagada e se a escola realmente não existir mais será uma tristeza muito grande”, frisa.

“Escola Mariante era a nossa referência”, afirma mãe de aluna

Ainda no aguardo do processo de mudança, pais de alunos da Escola Mariante precisaram tomar decisões quando ao futuro dos filhos. Alguns optaram pela procura de outro educandário, em função da morosidade da situação da escola – as crianças ficaram um mês sem aulas – , enquanto outros assimilam a nova realidade na Escola Adelina Isabela Konzen.

Entre eles, está Carla Elisângela Pereira Kist, mãe de Cínthia Kist de Christo, de 13 anos, que cursa o 8º ano do Ensino Fundamental na Mariante. “A escola era nossa referência, a nossa base, uma escola que tem o nosso coração. Uma ‘família’ realmente unida, que enfrentou dificuldades, mas era feliz. Ver o prédio destruído está doendo muito”, ressalta ela, que também já foi aluna do educandário.

No entanto, o sentimento também é de agradecimento pela nova escola. “A nossa escola não vai morrer, mas seremos muito bem recebidos na Adelina, que nos acolherá e, com certeza, encontraremos novamente as pessoas que tanto gostamos.”

Mudança

A dona de casa Débora Santos, 39 anos, mãe de Manuela Pereira, do 3º ano do Ensino Fundamental, diz que o sentimento sobre a realocação é de incerteza e angústia, principalmente pela distância e as condições atuais das estradas. “Optamos por transferir nossa filha para a Escola Anita [Ferreira de Moraes, em Bom Retiro do Sul], que fica a cerca de quatro quilômetros de Vila Mariante”, explica.

Segundo ela, já faz um mês que os alunos estão sem aulas e a expectativa para o retorno era grande. “Mas a incerteza é maior ainda, se os pequenos vão se adaptar, se vai ter transporte ou não, se tem acomodação para todos. O fim da Escola Mariante traz um sentimento de tristeza e impotência: a escola onde toda a comunidade estudou, onde amigos trabalham, onde meu marido estudou, sobrinhos e primos”, relata.

Outra mãe que optou pela mudança foi Letícia Santos, 34 anos, mãe de Alice e Helena, de 12 e 6 anos. Conforme ela, é um momento muito difícil, pela luta que a comunidade escolar já teve. Agora, ela decidiu transferir Alice para a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Coronel Thomaz Pereira, em Linha Taquari Mirim. A filha mais nova, Helena, já estudava no local. “Dói muito, é um sentimento de impotência e de sentir tudo se esvaindo. Eram tantas pessoas maravilhosas envolvidas, que marcaram a nossa vida.”

Relembre

• Em 21 de junho de 2022, o primeiro prédio da Escola Mariante foi interditado por problemas estruturais. Após todos os alunos serem transferidos para o segundo prédio do educandário, este foi interditado em 4 de julho, depois de complicações na rede elétrica e, com isso, todos os estudantes da escola passaram a ter aulas na modalidade Ensino a Distância (EAD).

• Em 12 de setembro daquele ano, os estudantes passaram a ter aulas na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) campus de Venâncio Aires, que disponibilizou 10 salas, por meio de locação,.

• O prédio que foi interditado no dia 4 de julho, por problemas na rede elétrica, teve a reforma iniciada pela empresa Boa Vista Construções, de Erechim, em janeiro de 2023. O projeto de recuperação foi desenvolvido pela 6ª Coordenadoria Regional de Obras Públicas.

• A escola chegou a ficar com as aulas interrompidas nas duas enchentes do rio Taquari em 2023, em setembro e novembro, mas retomou as atividades. No início deste ano, foi confirmada a implementação do Ensino Médio em tempo integral na escola.

• Ainda em 2024, o educandário recebeu R$ 505 mil do Governo do Estado para melhorias no cercamento e reforma da rede hidráulica – obras que estavam em andamento quando a escola foi atingida pela enchente.

    

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