
Em época de calor, o short é indispensável no dia a dia de algumas meninas, que até optam por usá-lo nas escolas. Por sua vez, o comprimento da roupa exige um limite, e vale lembrar que algumas escolas públicas de Venâncio, que não possuem uniforme, estabelecem regras quanto ao uso do short. O principal objetivo é a garantia de respeito.
O assunto de discutir como escolas de Venâncio encaram o uso do short não surgiu à toa. Em Porto Alegre, nesta semana, começou a circular nas redes sociais o abaixo-assinado ‘Vai ter shortinho sim’. Este foi criado por alunas do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Anchieta, um dos mais antigos da Capital. Na carta aberta destinada a coordenadores e diretores da instituição, meninas entre 13 e 17 anos exigem que as regras de vestuário sejam alteradas pelo colégio, e que a escola ‘deixe no passado a mentalidade de que cabe às mulheres a prevenção de assédios, abusos e estupros.’
A Escola Estadual de Ensino Médio Cônego Albino Juchem (CAJ), a maior de Venâncio em número de alunos, já dita regras quanto ao uso do short. Segundo o vice-diretor da escola, Altair Luís Bender, todas as alunas são orientadas a evitar shorts muito curtos e blusas com grande decote, para que se mantenha o respeito. “Se nós não determinarmos essa regra, algumas acabam abusando”, comenta.
O vice-diretor assegura que a regra é bem clara para todos. Por sua vez, no início do ano, nota-se que é mais complicado fazer com que as alunas, principalmente, cumpram as normas. Isso porque elas ‘insistem’ para verificar se a direção chama a atenção e, com isso, possam vestir o short.
ADVERTêNCIA
Quando o short está em um tamanho curto, ou seja, muito acima dos joelhos, Bender ressalta que é chamada a atenção das meninas. Se, no dia seguinte ou em outro, a mesma menina continuar a vestir um short curto, esta é proibida de entrar na escola e os pais são chamados para conversar. Conforme ele, os pais costumam aceitar o posicionamento da escola e acabam por policiar mais os filhos quanto ao uso dos shorts curtos.
Embora seja regra da escola, o vice-diretor comenta que ainda é possível verificar o uso de roupas curtas na escola, inclusive pelas adolescentes. No caso nos meninos, ele assegura que não existe problema quanto ao vestuário. Bender ressalta que a regra sempre existiu, mas o problema quanto ao uso dos shorts cresceu, porque a roupa em si está cada vez mais curta.
LIMITEPara a estudante do 1º ano do Ensino Médio do CAJ, Andressa Giehl, 15 anos, quando uma menina usa short mais curto, não significa que ela tenha o interesse de ser vulgar ou mostrar o corpo, mas pode se tratar de um gosto particular de se vestir.
Andressa ressalta que é interessante dar uma atenção especial quanto ao comprimento da roupa. “O tamanho do short para usar na escola, tem que ser um que não mostre a bunda. Se mostrar, já fica muito vulgar.” Além disso, acrescenta: “Até gosto de usar short na escola. Tenho um pouquinho de vergonha, mas uso por causa do calor.”
A opinião de Djuli Marcela Bohn, 14 anos, também estudante do 1º ano do Ensino Médio, não é diferente. Ela conta que gosta muito de usar short, mas não em um tamanho curto e que pareça vulgar, porque, se for assim, passa do limite.
Segundo a jovem, como a escola é um ambiente de aprendizagem, ninguém deve frequentá-la com o objetivo de destacar a roupa e fazer desfile de moda. “Tem que ser uma coisa mais comportada”, acrescenta.
Quanto aos meninos, Djuli conta que shorts curtos chamam atenção: “Chama atenção né, principalmente dos guris. Geralmente eles olham e logo se percebe.”
“A escola não é ambiente para que se possa usar shorts curtos”
A pedagoga Alice Theis explica que existe um regramento social e um dos regramentos é estar vestido de uma forma que condiz com o ambiente. Segundo ela, não podemos ir a espaços como escolas e para o trabalho da forma que queremos ou estamos em casa. “As escolas não podem permitir que as meninas estejam de short curto, roupas extremamente colantes, como as leggings e ainda com blusa curta. Isso é muito complicado para o professor gerenciar em sala de aula. Porque se a menina está com muita pele a vista alguém pode olhar de forma indevida, podem soltar uma piada, e aí a pessoa pode não gostar do que ouviu, e criar uma série de situações não propícias para uma escola.” Alice ainda ressalta que as meninas, muitas vezes, não estão vestidas com o short curto ou com barriga a mostra como forma de apelo sexual, “mas sim porque se sentem confortável e também porque há toda uma mídia por trás da valorização do corpo. Então se estão com o corpo bonito querem mostrar que estão dentro desse padrão de corpo perfeito.”
Alice ressalta que a escola precisa conseguir dizer, aos seus alunos, de forma bem clara, que ali é um ambiente de inter-relações, de convívio, mas que também é um ambiente onde a prioridade é a construção do conhecimento, onde existem e devem existir regras de conduta. “é muito importante que a escola consiga passar para seus alunos que por ser um lugar de convivência e de aprendizagem, as pessoas precisam estar vestidas adequadamente. Não é um ambiente para que se possa usar shorts extremamente curtos, minissaias, roupas muito decotadas, de barriga de fora.” Segundo ela, há locais propícios para que se vista de forma mais à vontade. “Quando estou em casa, com os amigos, em um balneário, numa balada, piscina, é claro que posso usar uma roupa que mostre mais a pele. Mas a escola não é lugar para isso.”
“Só pode três dedos acima do joelho”
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Odila Rosa Scherer a presença das famílias é assídua, tanto no acompanhamento do desempenho dos filhos como na formatação dos princípios de convivência. Para a formatação dos mesmos, no início de cada ano letivo, os responsáveis se reúnem para definir algumas regras que devem ser seguidas pelos alunos ao longo do ano. Entre elas está o uso das vestimentas. De acordo com a mãe de uma aluna, Losani Mohr Wagner, geralmente é seguido o que foi acordado no ano anterior e o combinado sempre é o mesmo. “Que pode ser simples, mas decente e limpa.” Losani ainda acrescenta que a regra é clara: “Só pode usar bermuda três dedos acima do joelho. E a regra funciona. Os próprios alunos já se policiam e sabem que devem seguir a risca.” A regra, no educandário, foi estabelecida para alunos do 5º ao 9º ano.
Segundo a diretora da escola, Márcia Hinterholz, “a preocupação é formar e desenvolver o conhecimento, cidadãos responsáveis e agentes transformadores da sociedade, buscando seus sonhos e sempre seguindo itens de responsabilidade. A pessoa precisa se portar adequadamente.”