Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateEm tempos onde os computadores tomam conta, a escrita à mão tem se tornado cada vez mais rara na vida de algumas pessoas
Em tempos onde os computadores tomam conta, a escrita à mão tem se tornado cada vez mais rara na vida de algumas pessoas

Ter um lápis ou uma caneta entre os dedos para redigir um texto tem se tornado cada vez mais raro devido às novas tecnologias. Agora, é mais comum ver as pessoas e até mesmo crianças digitando em um teclado de computador. Em contrapartida, está cada vez mais raro encontrar o papel, a caneta ou o lápis como itens fundamentais para a escrita.

é devido a esse hábito de escrever, que passou a ser deixado um pouco de lado nos últimos anos, que algumas pessoas, quando pegam o lápis ou a caneta, até sentem dificuldade para utilizá-los. Embora os computadores e as novas tecnologias sejam os ‘xodós’ de muitas pessoas, a escrita à mão fez história de vida de outras.

é o caso da professora aposentada Vanda Barden, de 65 anos, que lembra com carinho do tempo em que tudo era muito diferente. Ela, que

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateVanda relembra o tempo que em vez de lápis e papel, ela utilizava um quadro e lápis de pedras
Vanda relembra o tempo que em vez de lápis e papel, ela utilizava um quadro e lápis de pedras

exerceu a profissão em escolas públicas durante 30 anos, conta que, na época em que iniciou os próprios estudos, em 1957, no lugar de materiais como papel e lápis, estavam as pedras. “Tínhamos que escrever em um quadrinho de pedra e o nosso lápis também era feito de pedra. O apagador era um pano”, explica.

Diferente de hoje em dia, em que tudo o que é aprendido pode ficar registrado no caderno ou no computador, anos atrás tudo ficava apenas guardado na memória, já que, depois de preenchido o quadro, era preciso apagar para poder escrever de novo. Vanda conta que a professora dava de ‘tema’ alguns cálculos matemáticos para fazer e, em casa, os alunos necessitavam desenvolvê-los e trazê-los prontos para serem corrigidos durante a aula. A difícil tarefa era lembrar como as atividades deviam ser feitas, já que tudo era apagado.

Surgimento doslápis e dos papéisDois anos após Vanda ingressar na escola, surgiram os papéis e lápis coloridos, as grandes novidades da época. “Ganhávamos meia dúzia de lápis e ficávamos tão felizes que podíamos escrever com outras cores. Era uma alegria. Hoje em dia, poucas pessoas ficam satisfeitas com isso”, comenta. A empolgação era tanta, que Vanda não via a hora de poder frequentar a escola para “escrever colorido” e colocar a criatividade no papel.

A escrita era tão importante e valorizada, que os alunos que precisavam caprichar mais a letra, tinham um caderno de caligrafia. Na opinião de Vanda, o hábito de escrever à mão não pode se perder com o tempo e é de extrema importância para todos. Quanto às crianças, ela acredita que contribui para que aprendam a movimentar mais os dedos e desenvolver a parte motora. “Isso tem de fazer parte do desenvolvimento das crianças. Escrever à mão é natural delas”, avalia.

De acordo com a professora aposentada, hoje em dia as crianças e demais jovens utilizam tanto os computadores, que acabam por deixar de lado o hábito de escrever e, até mesmo, manusear um livro. “é importante a família também incentivar a escrita à mão e dar uma maior atenção para os filhos nisso”, comenta.

                                                                               IDENTIDADE

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MatePara a professora Alexandra, a escrita à mão é uma identidade do aluno, pois cada um escreve de uma forma diferente
Para a professora Alexandra, a escrita à mão é uma identidade do aluno, pois cada um escreve de uma forma diferente

Para Alexandra Simões, professora do terceiro ano do Ensino Fundamental, a escrita à mão é muito importante, pois caracteriza e identifica o aluno, já que cada um escreve de uma forma diferente. Além disso, é através da escrita, que é possível notar os valores de cada um, pois se percebe quem é caprichoso e busca dar o seu melhor.

Alexandra ressalta que, embora seja algo importante para as crianças, pois desenvolve a parte cerebral, o ato de escrever à mão pode desaparecer mais ainda com o tempo em virtude das tecnologias.

Para valorizar a importância da escrita, a professora conta que já trabalhou em sala de aula a carta, um dos principais meios de comunicação até pouco tempo. Na oportunidade, ela ensinou como se dá a escrita da carta e a importância dela no dia a dia de muitas pessoas para que elas pudessem se comunicar.

 Exercício para o cérebro

Conforme a psicopedagoga Maria Zulmira Portella de Moura, escrever à mão é uma cultura, exercita o cérebro, envolve vários músculos e articulações, faz pensar antes de agir e aguça os sentidos. Para a profissional, o fato de ter o contato com o papel, lápis, caneta e borracha faz com que a criança, por exemplo, tenha experiências diferentes. Ela ainda acrescenta que através da escrita manual a criança exercita a memória e a criatividade, assim como treina o cérebro para pensar.

Na opinião de Maria Zulmira, as tecnologias podem interferir para o desaparecimento da escrita à mão, mas esta sempre será uma obra de arte, assim como o crochê, tricô e bordado, entre outros. A psicopedagoga acredita que algumas pessoas poderão precisar de aulas para treinar o traçado das letras. “O exercício motor é muito importante”, reforça. Além disso, do ponto de vista da profissional, as crianças são ‘nativos digitais’ e, por isso, cabe aos pais e professores estimularem a escrita à mão.