
Ter um lápis ou uma caneta entre os dedos para redigir um texto tem se tornado cada vez mais raro devido às novas tecnologias. Agora, é mais comum ver as pessoas e até mesmo crianças digitando em um teclado de computador. Em contrapartida, está cada vez mais raro encontrar o papel, a caneta ou o lápis como itens fundamentais para a escrita.
é devido a esse hábito de escrever, que passou a ser deixado um pouco de lado nos últimos anos, que algumas pessoas, quando pegam o lápis ou a caneta, até sentem dificuldade para utilizá-los. Embora os computadores e as novas tecnologias sejam os ‘xodós’ de muitas pessoas, a escrita à mão fez história de vida de outras.
é o caso da professora aposentada Vanda Barden, de 65 anos, que lembra com carinho do tempo em que tudo era muito diferente. Ela, que

exerceu a profissão em escolas públicas durante 30 anos, conta que, na época em que iniciou os próprios estudos, em 1957, no lugar de materiais como papel e lápis, estavam as pedras. “Tínhamos que escrever em um quadrinho de pedra e o nosso lápis também era feito de pedra. O apagador era um pano”, explica.
Diferente de hoje em dia, em que tudo o que é aprendido pode ficar registrado no caderno ou no computador, anos atrás tudo ficava apenas guardado na memória, já que, depois de preenchido o quadro, era preciso apagar para poder escrever de novo. Vanda conta que a professora dava de ‘tema’ alguns cálculos matemáticos para fazer e, em casa, os alunos necessitavam desenvolvê-los e trazê-los prontos para serem corrigidos durante a aula. A difícil tarefa era lembrar como as atividades deviam ser feitas, já que tudo era apagado.
Surgimento doslápis e dos papéisDois anos após Vanda ingressar na escola, surgiram os papéis e lápis coloridos, as grandes novidades da época. “Ganhávamos meia dúzia de lápis e ficávamos tão felizes que podíamos escrever com outras cores. Era uma alegria. Hoje em dia, poucas pessoas ficam satisfeitas com isso”, comenta. A empolgação era tanta, que Vanda não via a hora de poder frequentar a escola para “escrever colorido” e colocar a criatividade no papel.
A escrita era tão importante e valorizada, que os alunos que precisavam caprichar mais a letra, tinham um caderno de caligrafia. Na opinião de Vanda, o hábito de escrever à mão não pode se perder com o tempo e é de extrema importância para todos. Quanto às crianças, ela acredita que contribui para que aprendam a movimentar mais os dedos e desenvolver a parte motora. “Isso tem de fazer parte do desenvolvimento das crianças. Escrever à mão é natural delas”, avalia.
De acordo com a professora aposentada, hoje em dia as crianças e demais jovens utilizam tanto os computadores, que acabam por deixar de lado o hábito de escrever e, até mesmo, manusear um livro. “é importante a família também incentivar a escrita à mão e dar uma maior atenção para os filhos nisso”, comenta.
IDENTIDADE

Para Alexandra Simões, professora do terceiro ano do Ensino Fundamental, a escrita à mão é muito importante, pois caracteriza e identifica o aluno, já que cada um escreve de uma forma diferente. Além disso, é através da escrita, que é possível notar os valores de cada um, pois se percebe quem é caprichoso e busca dar o seu melhor.
Alexandra ressalta que, embora seja algo importante para as crianças, pois desenvolve a parte cerebral, o ato de escrever à mão pode desaparecer mais ainda com o tempo em virtude das tecnologias.
Para valorizar a importância da escrita, a professora conta que já trabalhou em sala de aula a carta, um dos principais meios de comunicação até pouco tempo. Na oportunidade, ela ensinou como se dá a escrita da carta e a importância dela no dia a dia de muitas pessoas para que elas pudessem se comunicar.
Exercício para o cérebro
Conforme a psicopedagoga Maria Zulmira Portella de Moura, escrever à mão é uma cultura, exercita o cérebro, envolve vários músculos e articulações, faz pensar antes de agir e aguça os sentidos. Para a profissional, o fato de ter o contato com o papel, lápis, caneta e borracha faz com que a criança, por exemplo, tenha experiências diferentes. Ela ainda acrescenta que através da escrita manual a criança exercita a memória e a criatividade, assim como treina o cérebro para pensar.
Na opinião de Maria Zulmira, as tecnologias podem interferir para o desaparecimento da escrita à mão, mas esta sempre será uma obra de arte, assim como o crochê, tricô e bordado, entre outros. A psicopedagoga acredita que algumas pessoas poderão precisar de aulas para treinar o traçado das letras. “O exercício motor é muito importante”, reforça. Além disso, do ponto de vista da profissional, as crianças são ‘nativos digitais’ e, por isso, cabe aos pais e professores estimularem a escrita à mão.