Na manhã da quinta-feira, 30, ocorreu uma das palestras mais aguardadas para o XV Fórum Internacional e XIX Fórum Nacional de Educação de Venâncio Aires. A pedagoga e especialista em educação, Regina Shudo, apresentou dados e reflexões sobre a importância da primeira infância, que varia entre 0 e 6 anos, para o desenvolvimento humano. “Nessa fase, o cérebro da criança se desenvolve em até 90%, e esse processo exige estímulos, vínculos afetivos e ambientes seguros”, explica.
Além de apresentar números e repassar orientações sobre metodologias para o trabalho em sala de aula, Regina abordou um tema considerado primordial para o momento atual: o uso excessivo de telas por crianças pequenas. Ela defendeu a continuidade de práticas como brincar, cantar, ler e explorar a natureza. “A ausência de movimento físico prejudica o tônus muscular e compromete o desenvolvimento de um adulto saudável”, destaca.
Regina reforça que o cuidado precisa começar ainda em casa, com os pais tendo consciência de que celulares e outros aparelhos eletrônicos podem afetar diretamente o desenvolvimento da criança. O impacto é percebido nos processos de aprendizagem, com dificuldades para leitura ou resolução de problemas. “Estudos apontam que o ideal seria que a criança fosse ver a tela, pela primeira vez, somente aos 10 anos”, alerta.
Com experiência de quase 40 anos na educação, já palestrou em centenas de municípios do Brasil e, com isso, carrega na bagagem um amplo conhecimento sobre a estrutura e cenários da educação no país. Nesse sentido, a especialista em Educação, com ênfase na Educação Infantil, chamou atenção para a realidade de milhares de crianças que vivem em situação de vulnerabilidade. “Para elas, a escola integral é a principal referência de cuidado e estímulo, oferecendo o que muitas vezes falta em casa, mas é necessário reforçar que escola não é depósito de criança. É lugar de desenvolvimento”, afirma. Ela também pontua: “Não se educa sem cuidar e não se cuida sem educar.”
Com relação a Venâncio Aires, Regina evidenciou o resultado positivo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “As escolas da rede municipal são maravilhosas, com um trabalho que reúne conhecimentos de todas as áreas, trabalhando a fala, escuta, imaginação e noções de quantidade.”
“O futuro da educação não depende só dos profissionais da educação. Quem disse que a escola é só para os pais poderem ir trabalhar? É preciso entender que esse espaço é destinado para fazer a diferença na vida da criança, com conteúdos para ela poder se desenvolver.”
REGINA SHUDO
Palestrante
Olhar atento para a questão emocional
Muito além do cuidado às crianças, é preciso direcionar ações que possam contemplar a questão emocional dos profissionais da educação. O assunto foi tratado durante o Fórum de Educação de Venâncio Aires pela psicóloga da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Ana Paula Nicolay.
“A gente acaba neglicenciando a inteligência emocional, deixando para buscar ajuda quando realmente estamos em sofrimento. Por isso, precisamos falar com os professores, desmistificar ideias sobre o tema e apresentar ferramentas que eles podem utilizar para gerenciar as demandas da sala de aula junto com o emocional do aluno, que sempre acaba impactando”, explica.
Ana Paula também detalha questões primordiais que precisam ser observadas, sabendo onde impor limites em questões do dia a dia. “Precisamos entender que eles não são profissionais que executam operações ou entregas, mas integram o desenvolvimento. Eles se afetam facilmente, por um aluno que não está bem ou em sofrimento, e é difícil se desconectar essa relação. É nesse momento que precisa entender o que precisa ser feito”.