JARBAS DA ROSA
Jarbas da Rosa vai se ausentar do país e encaminhou ofício à Câmara de Vereadores para informar que no período de 15 a 22 de novembro acompanhará a 11ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (Foto: Letícia Wacholz)

O prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa, embarca na próxima semana para a Suíça, onde ocorrerá a 11ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (COP 11). A viagem inicia no sábado, 15, com chegada no domingo, 16. A COP 11 ocorrerá de 17 a 22 de novembro, no Centro Internacional de Conferências da cidade suíça de Genebra.
A missão à COP do Tabaco integra uma mobilização de lideranças políticas municipais, estaduais e federais em defesa da cadeia produtiva e também de entidades que representam o setor, do campo à indústria. O secretário municipal de Desenvolvimento Rural, Ricardo Landim, também fará parte da comitiva.
O objetivo do gestor municipal é garantir espaço nas discussões que impactam diretamente no setor que é base da economia do Vale do Rio Pardo e também destaque na região Sul do estado onde está localizado, por exemplo, o município de Canguçu, líder nacional em produção de tabaco. No Rio Grande do Sul, Venâncio é o segundo maior produtor e terceiro no ranking nacional. Ao todo, 525 municípios do Sul do Brasil cultivam tabaco.
Em entrevista à Folha do Mate e Terra FM, Jarbas da Rosa, que é médico e filho de produtores de tabaco, fala sobre as expectativas para a COP 11, como é conciliar a defesa da cadeia produtiva com a pauta de saúde pública e os motivos que o levam a representar agricultores, indústrias e comércio neste debate global.

Jarbas da Rosa com a bandeira de Venâncio
Na mala, Jarbas da Rosa levará a bandeira de Venâncio Aires, que evidencia a importância do tabaco para o município. O brasão oficial foi definido em 1963, pela Lei nº 0500/1963, assinada pelo prefeito na época, Alfredo Scherer. Ele traz dois ramos de fumo, cultura agrícola que é base econômica do município há décadas (Foto: Letícia Wachozl)

Entrevista

Folha do Mate – O senhor, que é prefeito reeleito, participará de um COP do Tabaco pela primeira vez. Outros prefeitos de Venâncio já tiveram participações em edições anteriores. Qual a importância de participar deste evento internacional?
É uma importância muito grande. Somos um dos maiores produtores e exportadores de tabaco do Brasil. Cerca de 50% da economia de Venâncio Aires gira em torno dessa cadeia. Eu conheço a cadeia produtiva do tabaco como um todo, desde os tempos dos meus avós e isso vem a facilitar nas discussões e argumentações. Acredito que estar presente nas discussões internacionais é essencial para defender nossos agricultores, os postos de trabalho na indústria e os empreendedores locais que também sentem os reflexos deste setor na economia municipal. Entendo que é o local que o gestor tem que estar nesse momento tão importante de discussão do futuro desta cadeia produtiva.

Historicamente os representantes dos produtores, da indústria e até mesmo políticos das esferas municipal, estadual e federal não conseguem acessar a COP. De que forma se pretende cumprir uma agenda em Genebra e apresentar essa realidade e os dados que comprovam a relevância social e econômica do tabaco?
Neste último ano, os prefeitos da região trabalharam para poder apresentar, junto com a Assembleia Legislativa, os dados sociais, econômicos e ambientais e também o que a cadeia produtiva do tabaco proporciona para os nossos municípios. Nosso objetivo é apresentar esse documento e mesmo que de maneira paralela, dar voz e ouvidos aos nossos agricultores e para toda cadeia produtiva. Sabemos as dificuldades com relação a acesso, mas é o momento de a gente se posicionar, estar presente, porque é na pressão que a gente vai ser ouvido.

A cada COP são retomados os debates sobre a importância de diversificar a economia dos municípios que são produtores de tabaco. Como Venâncio se insere neste debate?
Venâncio é case no Brasil em diversificação rural e apoio ao produtor rural. O município tem mais de 3,2 mil produtores de tabaco, registrou uma diminuição nos últimos 10 anos, mas ao mesmo tempo, a produtividade se manteve e até melhorou em qualidade, graças à tecnologia. Ao mesmo tempo, Venâncio é referência em diversificação. Nós temos um aumento, principalmente no cultivo de grãos, e também na proteína animal que hoje representa quase 30% da nossa produção agrícola. Com os novos investimentos em diversificação que assinamos nesta semana para produtores rurais, a nossa previsão, para os próximos dois anos, quando esses novos aviários entrarem em funcionamento, é de que a proteína animal chegue a quase 40% da nossa produção agrícola. Isso mostra que os municípios estão fazendo o seu trabalho e também está ao lado do agricultor através de recursos de infraestrutura, de estradas, de educação, de saúde para o interior. Temos 20 mil habitantes na área rural. Venâncio Aires é o maior exemplo de que, sim, dá certo conciliar o tabaco e a diversificação rural. Uma coisa não elimina a outra, muito pelo contrário. Hoje, com as novas tecnologias do tabaco, diminuiu quase 50% as horas trabalhadas na produção e o produtor consegue ter outros rendimentos dentro da sua propriedade.

O senhor vai enfrentar na COP 11 uma situação muito parecida com o ex-prefeito Airton Artes, que também é médico. Como é conciliar esse discurso como gestor público, ex-produtor de tabaco e médico?
Tenho certeza que é algo positivo porque talvez eu seja um dos poucos que terá esse prisma: o ponto de vista do produtor, do empreendedor, do gestor, da saúde. Hoje, no Brasil, é permitido plantar tabaco, assim como é permitida a produção de bebida alcoólica e a produção de vários produtos que também têm restrições de uso e impactos na saúde. O mais importante e que não é discutido é o impacto dos produtos ilegais neste país. Hoje, mais de 50% do cigarro vendido é clandestino. Um exemplo, em outro setor, é o que recentemente aconteceu no país, que são as intoxicações de bebidas com metanol. Quando a gente não tem regularização, não tem acompanhamento das normas de vigilância, isso causa ainda mais preocupação. Outro exemplo são os vapes ou os dispositivos eletrônicos para fumar que hoje são proibidos no Brasil. Se estima que mais de 4 milhões de pessoas utilizam esses dispositivos no país e hoje um dos maiores motivos de internação de adultos jovens, entre 18 e 25 anos, por Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) em UTIs é por uso de dispositivos eletrônicos e isso não é discutido.

O secretário de Desenvolvimento Rural também estará na comitiva. Qual será o papel dele?
Hoje ele executa um trabalho com os nossos sindicatos rurais, com a Emater, com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (Comder) e ter uma representatividade do setor da agricultura é de fundamental importância. Ele é o secretário que está mais tempo em contato com os nossos agricultores e com as nossas entidades representativas.

O que o senhor espera da COP 11?
A primeira expectativa é que nós sejamos ouvidos, que possamos levar a visão e a necessidade do nosso agricultor que é conseguir trabalhar sem ser tratado como um bandido. Ele não é um marginal, ele trabalha em um setor que é legal, que é regulamentado. O que a gente tem que combater são as clandestinidades, essa é a maior preocupação. Outra preocupação é com relação à restrição que o agricultor enfrenta no acesso ao custeio. O Pronaf já não tem mais. Ele vem sofrendo, nas últimas safras, principalmente nos últimos cinco anos, com os efeitos climáticos e mesmo com todas as dificuldades, as novas tecnologias estão chegando na área do tabaco. Além dos eventos climáticos, da falta de mão de obra especializada na produção e na colheita do tabaco, da questão de sucessão rural, ainda tem o governo tentando ao máximo criminalizar o plantio do tabaco, enquanto o uso e a venda clandestina de cigarros e dispositivos seguem avançando, sem o mesmo rigor de fiscalização.